I SÉRIE — NÚMERO 81
18
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Ministro, em primeiro lugar, peço-lhe — já foi perguntado várias vezes, não só pelo CDS no
passado, como hoje por Srs. Deputados de outras forças políticas — que responda a algo que é fundamental.
Este PRR é apresentado com indicadores que, do nosso ponto de vista, casam muito dificilmente uns com
os outros, designadamente o indicador do efeito multiplicador de cada euro atribuído a este PRR com os
valores de crescimento económico que depois a nossa economia, supostamente, terá ao longo dos anos. Pelo
visto, o efeito multiplicador há de perder-se em algum lado, porque não chega ao crescimento económico.
Para percebermos, efetivamente, que efeito é que o PRR vai ter para Portugal, pergunto-lhe o seguinte: em
termos de crescimento, quantas posições relativas é que Portugal vai conquistar, comparando com os seus
parceiros europeus? Ou seja, por regra, temos crescido menos que muitos dos nossos parceiros e menos do
que os nossos parceiros mais relevantes. Com o PRR, quantos lugares é que vamos recuperar?
Outro indicador importante: PIB per capita. Fomos perdendo, também, nos últimos anos, posições em PIB
per capita, o que quer dizer que a nossa riqueza por habitante foi diminuindo. Com o PRR, quantas posições é
que vamos recuperar no indicador PIB per capita? Ou seja, vamos passar à frente de quantos países? Vamos
ficar melhor do que quantos dos nossos concorrentes atuais?
Outro indicador e que para nós é o mais importante de todos ao nível do bem-estar económico dos
portugueses: salário médio. Este PRR vai ter um efeito na nossa economia. Como é que este efeito se
concretiza ao nível do salário médio? Ou seja, como é que os portugueses vão sentir, ao fim do mês, naquilo
que é a sua retribuição, o efeito de um plano de investimento com a dimensão que este plano de investimento
tem?
Refiro-me, agora, a duas questões concretas sobre a forma como o Governo tenta iludir aquele que é um
programa essencialmente destinado ao setor público, mostrando que, afinal, também dedica alguma atenção
ao privado. Vou só pedir que me concretize dois conceitos que estão na retórica e no texto do Governo, os
conceitos «agenda mobilizadora» e «copromoção».
O Governo apresenta como relevantes as «agendas mobilizadoras». Foi o Sr. Ministro da Economia que
disse que estes objetivos — que não são pouco ambiciosos —, 53% de aumento das exportações no PIB até
2030, aumento do investimento em I&D para atingir 3% do PIB em 2030 e uma redução das emissões de CO2
em 55% até 2030, se atingiam com as «agendas mobilizadoras». Acontece que as universidades e as
empresas que são convocadas para estas «agendas mobilizadoras» — no discurso do Governo são
chamadas a fazer candidaturas de qualidade — não fazem a mínima ideia sequer de quantas «agendas
mobilizadoras» há e de quais são os temas dessas «agendas mobilizadoras», nem sabem qual é o seu papel
nessas «agendas mobilizadoras». Portanto, antes de definir objetivos e de atribuir a responsabilidade do
cumprimento desses objetivos a empresas e universidades, convinha ao Governo pelo menos dizer o que é
que são essas «agendas mobilizadoras», quantas vão existir e para que setores.
Depois, temos a questão da «copromoção» entre públicos e privados. O que é que isso significa? O que é
que significa em termos de verbas e o que é significa em termos de responsabilidades? Para haver uma
«copromoção», ou seja, candidaturas desenvolvidas entre entidades públicas e entidades privadas, convinha
também que quem pode a elas concorrer — universidades e empresas — saiba alguma coisa. A única coisa
que sabem até ao momento é que, até setembro, vão ter de apresentar manifestações de interesse. Sabendo
que vão ter de apresentar manifestações de interesse até setembro, convinha saberem, ao menos, do que é
que o Governo está a falar quando lhes apresenta estas «agendas mobilizadoras» e esta «copromoção».
Há muito para fazer, Sr. Ministro, para o envolvimento das entidades que poderão vir a beneficiar deste
PRR, e, portanto, o sucesso em crescimento, em PIB per capita e em salários depende muito também da
capacidade que o Governo tenha de densificar aquilo que, por enquanto, vai apresentando sem que, no
terreno, se perceba efetivamente o que é que isso quer dizer.
Aplausos do CDS-PP e do Deputado do PSD Duarte Marques.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para um último pedido de esclarecimento nesta primeira série, a Sr.ª Deputada Filipa Roseta, do Grupo Parlamentar do PSD.