25 DE JUNHO DE 2021
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acrescentados fluxos compensatórios para a Península de Setúbal através de todos os instrumentos de
financiamento disponíveis, designadamente do Plano de Recuperação e Resiliência.
Todos sabemos como a Península de Setúbal tem sido penalizada no acesso aos fundos comunitários.
Apesar de os seus indicadores serem característicos de uma região de convergência, não é considerada como
tal, o que configura uma enorme injustiça que urge resolver e que leva a que Portugal, na globalidade, receba
menos transferências da União Europeia.
A Península de Setúbal também tem sido bastante penalizada pelo reduzido investimento público de
sucessivos Governos, apesar de vários compromissos já assumidos pelo Governo, mas ainda não
concretizados.
O Governo não pode continuar a ignorar esta realidade. A resolução, aprovada por unanimidade, aponta o
caminho que é preciso prosseguir. Está agora nas mãos do Governo assegurar a sua concretização.
Ainda nesta semana, nas jornadas parlamentares do PCP, tivemos a oportunidade de reunir com vários
agentes da região da área da economia e da área social e que colocam com muita força a necessidade de se
encontrarem medidas, nomeadamente no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, que permita à
região ter mais acesso aos fundos.
Por isso, Sr. Ministro, considerando que já foi assumido o compromisso, por parte do Governo, de avançar
com o processo para a reconstituição de uma NUTS III na Península de Setúbal e da NUTS III na Grande
Lisboa, gostaríamos de perguntar qual é o ponto de situação relativamente a este processo e quando é que o
Governo pretende iniciar o estudo relativamente ao redesenho das NUTS II.
Considerando que o PRR não é regionalizado e que a sua execução é nacional, o Governo tem condições
para definir a sua aplicação no território. Por isso, queremos perceber que medidas pretende vir a tomar,
desde já, o Governo para que a Península de Setúbal não seja prejudicada e consiga aceder a mais fundos
comunitários.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Rosário Gambôa.
A Sr.ª Rosário Gambôa (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Ministro, a aprovação do PRR pela Comissão Europeia consagra, nas palavras do Sr. Primeiro-Ministro, a
passagem da esperança à confiança, abrindo as portas ao tempo de agir. Ora, o plano não é um cheque em
branco, é um compromisso com metas, objetivos e calendários que a todos convoca, que nos deve unir e que
nos traz, hoje, aqui.
Queria introduzir a componente da cultura, que está no PRR, porque, para o Governo, as consultas
públicas produzem efeito, são ouvidas e a opinião dos cidadãos é tida em linha de conta. Ora, a inscrição da
cultura no PRR, com um volume bastante significativo, permitirá, de acordo com as características do PRR,
potenciar um programa de recuperações e de reformas necessárias e, simultaneamente, lançar bases
estruturantes para um futuro diferente. Sumariamente, há duas grandes áreas em que a cultura se organiza: a
reabilitação do património — material, natural, imaterial — e a transição digital. Trata-se, no caso da cultura,
de um programa ambicioso, mas, mais do que os milhões de digitalizações ou de virtualizações de imagens de
espólio, de arquivos públicos, enfim, das diversas medidas que o PRR contempla, gostaria de trazer, hoje, o
efeito transformador deste investimento público — porque se trata de um investimento público — na cultura, na
sociedade, na economia, nos territórios, na vida dos portugueses e dos diversos atores e agentes da cultura.
Reabilitar património, capacitar equipamentos culturais, digitalizar conteúdos são opções estratégicas que
produzirão um forte impacto, desde logo no reforço do mercado de bens e serviços culturais, no emprego, no
acesso mais alargado, descentralizado e democrático à cultura, à arte, ao património, na criação de novos
públicos, na competitividade das redes urbanas, na sustentabilidade económica, social e institucional dos
territórios de baixa densidade, enfim, na coesão nacional. Senão, vejamos: não há reabilitação patrimonial
sem arquitetos, sem artesãos, sem artífices especializados; não há transição digital sem autores, sem
realizadores, sem produtores, sem técnicos de som, sem designers de palco e de luz.
O reforço da conectividade e da digitalização são, simultaneamente, uma condição necessária para a
preservação de bens culturais para o futuro, mas são também incentivos ao trabalho em rede. Este trabalho