8 DE JULHO DE 2021
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em condições ainda piores das que vimos nas imagens dos trabalhadores imigrantes de Odemira, que nos
chocaram a todos. E, Sr. Ministro, nesta matéria, o seu Ministério executou apenas 7,4%. Em quatro anos, de
cinco, executaram 7,4%. Restam 92% para executar! Isto é revelador, é chocante, é revoltante! É o
desinvestimento, é a austeridade vestida de rosa, Sr. Ministro! Isto é inaceitável!
Se verificarmos os recursos humanos, o número de pessoas na GNR e na PSP, esta farsa criada pelo
Governo vem revelar, vem destacar, no fundo, que há uma baixa de cerca de 300 pessoas no efetivo.
É por isto, Sr. Ministro, que neste caso nos revolta ver que o Governo, mesmo não dando condições às forças
de segurança para que desempenhem as suas missões com capacidade, continua a atribuir-lhes novas
capacidades, novos objetivos, novas responsabilidades. Dou-lhe o exemplo da GNR, que nem consegue ter
uma patrulha para cada concelho aos fins de semana e acontece que, no interior do País, a mesma patrulha
chega a percorrer quatro concelhos. Por isso, não percebemos a força que o Governo lhes quer dar para
aumentar as suas competências.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Duarte Marques (PSD): — Termino já, Sr. Presidente, apenas com uma mensagem que não podemos esquecer. Felizmente para Portugal, as forças e serviços de segurança têm qualidade e, apesar da falta de
qualidade ou de credibilidade do Ministro da Administração Interna, elas continuam a desempenhar o seu papel
com qualidade, rigor e a garantir a segurança dos portugueses.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Nelson Silva, do PAN.
O Sr. Nelson Silva (PAN): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: O Relatório Anual de Segurança Interna de 2020 tem de ser lido com a maior das cautelas.
O ano passado foi vivido, quase na sua totalidade, na pendência de uma crise pandémica mundial, que impôs
a todos os portugueses e portuguesas uma vida em contingência e confinamento.
Por isso, torna-se claro que, quando se glorifica que a criminalidade violenta teve uma diminuição de mais
de 13% e que a sinistralidade rodoviária caiu cerca de 20%, é impossível dissociar isso de um ano de
quarentenas e de uma enorme redução na circulação de pessoas.
Também é extremamente difícil aceitar que o Sr. Ministro da Administração Interna, no final de março,
aquando da apresentação do relatório, se tenha congratulado com a aparente redução do crime de violência
doméstica, em 6% em 2020, em comparação com o ano de 2019.
Ora, as Nações Unidas referem que os casos de violência de género se disseminaram como uma pandemia
paralela que ameaça metade da população mundial.
Torna-se evidente, face à natureza específica deste crime, que estes números do relatório não refletem a
realidade portuguesa. Falamos de pessoas que se encontraram confinadas com os seus próprios agressores.
Tanto mais que as Nações Unidas e as organizações no terreno não fazem transparecer esta diminuição dos
números.
Qualquer tipo de vanglória face a esta diminuição, que aparenta ser meramente estatística, é absolutamente
inaceitável. Aceitar estes números sem uma análise mais aprofundada é o caminho para um relaxamento de
medidas num tema que é um autêntico flagelo em Portugal e em relação ao qual há ainda tanto para ser feito
no combate a este tipo de violência.
Também em matéria de corrupção este relatório é um paradoxo. Quando olhamos para o Índice de Perceção
da Corrupção de 2020, Portugal tem a pontuação mais baixa de sempre e está a milhas dos valores da média
da União Europeia. Mas, quando olhamos para o RASI e para o número de inquéritos abertos, verificamos que
pelo segundo ano consecutivo esse número desce em quase 23%. À luz do RASI, e em frontal contradição com
o entendimento das organizações internacionais de referência, vivemos num oásis de transparência, em que se
acha que tudo se resolve com a Estratégia Nacional de Combate à Corrupção, do Governo, que, na verdade, é
tão poucochinha que nem sequer consegue entender que para que haja um estatuto do denunciante,