I SÉRIE — NÚMERO 87
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pacote financeiro foi, tal como refere o parecer aprovado na Comissão de Assuntos Europeus, o resultado mais
importante da Presidência alemã. Mas se os fundos comunitários estão já hoje, em tempo recorde, no terreno
foi porque a Presidência portuguesa se empenhou fortemente para que os Parlamentos dos Estados-Membros
aprovassem em tempo útil a decisão sobre os recursos próprios e, ainda sob a nossa Presidência, fosse lançada
a primeira emissão de obrigações da União Europeia, no valor de 20 000 milhões de euros, de que já estão a
beneficiar os Estados-Membros, incluindo Portugal, que foi o primeiro País a ver aprovado o seu Plano de
Recuperação e Resiliência.
Aplausos do PS.
Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, esta é seguramente uma das marcas que Portugal deixa
na União Europeia, porque foi precisamente sob a Presidência portuguesa que se iniciou o processo de
recuperação e resiliência da União Europeia e que marcará decisivamente o futuro.
Sr.as e Srs. Deputados, há outra marca assinalável da Presidência portuguesa. Refiro-me à realização da
Cimeira Social do Porto, cujo resultado só mesmo entre nós, pela voz da oposição, foi considerado uma mera
declaração de intenções.
Por isso, Sr. Ministro, gostaria de questionar o Governo sobre esta matéria. É ou não é verdade, e creio que
o Sr. Ministro já aqui abordou esta questão, na sua intervenção, mas gostaria que a aprofundasse, que as metas
sociais definidas na Declaração do Porto vão ser escrutinadas, na sua execução, no âmbito do Semestre
Europeu?! Ou seja, têm ou não os Estados-Membros, nos seus programas nacionais de reformas e nos
programas de estabilidade ou de convergência, de garantir a implementação das medidas sociais definidas no
Plano de Ação sobre o Pilar Europeu dos Direitos Sociais?! Têm ou não de assegurar o cumprimento das metas
definidas, como, por exemplo, reduzir, em pelo menos 15 milhões, as pessoas em risco de pobreza ou exclusão
social?! Deixamos de estar apenas vinculados aos indicadores económicos e financeiros e à convergência e
passamos a introduzir nessas metas económicas e financeiras aquela que é a principal matriz da União
Europeia, que é, exatamente, o seu pilar social e democrático.
Sr. Ministro, no momento em que fazemos o balanço da participação de Portugal no processo de construção
da União Europeia, há uma outra questão que não podemos deixar de abordar, em particular, porque a oposição
insiste em transmitir a ideia de que Portugal subestimou os valores do Estado de direito, matéria em que, aliás,
tem reconhecimento europeu e internacional. Basta considerar a reeleição de António Guterres como Secretário-
Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) para medir a projeção de Portugal no plano internacional.
Sr. Ministro, foi ou não sob a Presidência portuguesa que foi desbloqueado um processo que estava parado
há mais de dois anos, passando, portanto, por quatro presidências europeias que nos antecederam, e que se
concretizou na audição da Polónia e da Hungria, ao abrigo do artigo 7.º do Tratado da União Europeia, para
responderem quanto às violações do Estado de direito nos seus países?!
Aplausos do PS.
Quem sentou a Polónia e a Hungria no Conselho dos Assuntos Gerais, para responderem pela sistemática
violação dos direitos humanos?! Estranho que, perante aquelas que foram as declarações da Presidência
eslovena, não se faça, agora, a comparação com o trabalho feito por Portugal na defesa dos direitos humanos.
Vozes do PS: — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Oneto (PS): — Foi ou não foi a Presidência portuguesa que logrou incluir nas conclusões do Conselho o reforço da aplicação da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia e a proteção dos adultos
vulneráveis na União Europeia?!
Não foi sob a Presidência portuguesa que se procedeu à aprovação da recomendação para a igualdade,
inclusão e participação dos ciganos?!
Não foi sob a Presidência portuguesa que se alcançou o acordo no Conselho, em discussão desde 2017,
relativo à revisão do regulamento sobre a privacidade eletrónica?!