9 DE JULHO DE 2021
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que gostaria de aqui trazer — o Sr. Ministro referiu que a Eslovénia iria continuar na senda de Portugal — que
foram dois temas que, fica hoje claro, não estiveram a ser tratados por Portugal na Presidência do Conselho da
União Europeia.
Começo por falar do que se prende com o combate das nossas vidas: o combate às alterações climáticas.
No que se refere às alterações climáticas, aos objetivos, às metas, às ambições — ou, melhor, se calhar à
falta delas —, não podemos deixar de lamentar que o Governo português se dê por satisfeito com os resultados
alcançados pela Presidência portuguesa com a Lei Europeia do Clima, pelo que resta-nos deixar claro que
desejamos melhor trabalho à Presidência eslovena.
Falamos de uma lei que traz um conjunto de supostas boas intenções, sem metas para a aplicação vinculativa
de medidas de adaptação às alterações climáticas e sem conduzir a economia a compromissos ambientais, ao
não mexer nos interesses financeiros das indústrias. Exemplo disso é o facto de permanecerem intocadas as
licenças de emissão gratuitas na indústria cimenteira até 2030, já para não falar em setores que continuam a
ser altamente financiados, como é caso da exploração pecuária, em detrimento dos benefícios que deveriam
ser atribuídos à agricultura.
A Lei Europeia do Clima coloca no topo das prioridades para a definição da trajetória de descarbonização a
competitividade da economia. Como poderá haver competitividade económica sem condições de habitabilidade
no planeta? Permanece, pois, o negacionismo político perante a evidência científica.
O outro assunto que gostaríamos de trazer prende-se com as prioridades da Presidência eslovena, já que,
parece-nos, há aqui uma certa desfaçatez. Como podemos aceitar que o mesmo Governo que não aprecia uma
imprensa livre, que quer coartar a independência do poder judicial e que não perde uma oportunidade para
atacar e limitar os direitos das pessoas LGBTIQ+ possa dizer que quer fazer da defesa do Estado de direito na
União uma prioridade? Isto é, aliás, de lamentar, uma vez que estamos a falar de um país que já teve políticas
bastante progressistas, pelo que estamos perante um retrocesso civilizacional.
O que esperamos é que o Governo português não se iniba de criticar a Presidência eslovena no que forem
verdadeiros atentados aos direitos humanos, como tem sucedido com a perseguição aos direitos das pessoas
LGBTIQ+.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira, do PEV.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros: A pandemia tem vindo a lançar inúmeros desafios, mas a realidade é que
a Presidência portuguesa do Conselho da União Europeia foi, a nosso ver, e a vários níveis, uma oportunidade
perdida que, de resto, confirmou o alinhamento do Governo português com políticas que se submetem aos
interesses das grandes potências e dos grandes grupos económicos e que também estão na origem das
desigualdades sociais. O caso da diversificação das opções de aquisição de vacinas é um exemplo claro desse
alinhamento.
Da Presidência eslovena vamos esperar que consiga recuperar essa oportunidade. Mas também sabemos
que, se o caminho for o mesmo, o resultado não será muito diferente.
Uma das prioridades desta Presidência é a Conferência sobre o Futuro da Europa. Os Verdes defendem que
é, de facto, preciso dar mais voz às pessoas, é preciso dar voz aos cidadãos europeus. Porém, falamos de um
processo que já tem objetivos bem definidos, daí que tenhamos grandes dúvidas que se pretenda, de facto,
ouvir as pessoas — que devem estar no centro das políticas — e ir ao encontro das suas expectativas e
necessidades.
Aliás, a Cimeira Social foi um exemplo claro de como se passa uma esponja nas políticas da União Europeia
quando se impunha um impulso forte para dar uma resposta urgente e decisiva aos problemas concretos
agravados pela pandemia.
Outra prioridade apresentada é a de uma União Europeia credível e segura, capaz de garantir a segurança
e a estabilidade na sua vizinhança. Ora, Os Verdes defendem uma Europa de paz, segura e cooperante, o que
não é de todo conciliável com a NATO, com o reforço da militarização e com a cumplicidade e até participação
em agressões e ingerências e com a perspetiva, ainda por cima, da criação de um exército europeu.