I SÉRIE — NÚMERO 87
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gravíssima que está a ocorrer em Myanmar: estamos perante uma agressão interna de um exército a um povo
quase sempre indefeso. Ou seja, está a acontecer algo muito similar ao que aconteceu no Tibete, uma agressão
interna, sistemática, ignorada pela comunidade internacional, até, possivelmente, ser tarde demais.
Gostaria também de lembrar a posição da União Europeia no que toca aos ataques aos direitos cívicos de
ativistas pró-democracia perpetrados pela China em Hong Kong. O PAN tem dado resposta, mas não temos
visto Portugal a acompanhar essa mesma resposta.
Por fim, importa dizer que o ano de 2020 mostrou aquilo que a União Europeia pode ser, um sinónimo de
solidariedade entre países. Embora seja preciso fazer mais, verificámo-lo na megaoperação de aquisição de
vacinas, de ventiladores, de equipamentos de proteção individual, evidentemente com as muitas falhas que
conhecemos. Não podemos, porém, deixar de reconhecer que, quando há vontade política, é possível derrubar
muros que até aqui eram encarados como inderrubáveis.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr.ª Deputada, tem de terminar.
A Sr.ª Bebiana Cunha (PAN): — Termino, Sr. Presidente. No caso de Portugal, falta derrubar os muros em relação aos casais internacionais não casados que, desde
o início da crise sanitária, continuam sem se poder encontrar no nosso País.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr. Deputado José Luís Ferreira, do PEV, tem a palavra para uma intervenção.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, Sr.as e Srs. Deputados: Ao debater a construção da União Europeia sobressaem, desde logo, as divergências do Partido
Ecologista «Os Verdes» quanto às prioridades e orientações deste processo, que se baseia numa União
Europeia que praticamente se limita a alimentar os mercados e as grandes potências, mas que é incapaz de se
virar para os cidadãos. Aliás, mesmo com a pandemia, estas prioridades não mudaram nem uma vírgula.
Os Verdes reforçam que Portugal não pode fechar os olhos ao caminho que foi feito e aos resultados que se
conseguiram e reforçam ainda que se deve reequacionar para onde vai esta União Europeia e com quem vai.
Portugal está empenhado na NATO (NorthAtlanticTreatyOrganization), na cooperação estruturada
permanente, é conivente com um processo construído à margem dos europeus e, muito particularmente, dos
portugueses e também tem dado luz verde às condicionantes e limitações que nos são impostas pela União
Europeia em relação, por exemplo, ao Programa de Recuperação e Resiliência e ao Quadro Financeiro
Plurianual 2021-2027, com claras interferências até no desenvolvimento do País.
O que nos parece é que devem ser os portugueses e quem os representa, seja o Governo ou a Assembleia
da República, a definir as prioridades do nosso País, porque somos nós, e não a União Europeia, quem sabe
para onde deve ir o dinheiro a investir.
É por isto que nos parece que é tempo de olhar para o que tem sido feito e dar respostas robustas, sem
desistir, naturalmente, da defesa da democracia, dos serviços públicos, do ambiente e de uma Europa de paz e
cooperação onde seja possível afirmar os interesses e a soberania nacional, numa Europa de Estados iguais,
com respeito pelas especificidades de cada país.
Por fim, Os Verdes voltam a insistir num assunto que é, para nós, muito importante e que tem que ver com a
neutralidade carbónica, até porque se torna cada vez mais incoerente e incompatível defender a neutralidade
carbónica e a sustentabilidade conforme o Acordo de Paris e, ao mesmo tempo, insistir no Tratado da Carta da
Energia, que é um dos maiores entraves à redução de emissão de gases com efeito de estufa.
Portanto, parece-nos que só a firmeza dos Estados-Membros e da própria União Europeia pode pôr fim a
estas amarras e é lamentável que, por parte do Governo português, nem um sinal haja nesse sentido.
Perante tudo isto, sabemos qual tem sido a posição do Governo português, até agora, na construção desta
União Europeia, mas o que importa saber é que posição vai o Governo português assumir daqui para a frente,
face aos desafios que temos de enfrentar, tendo também em conta o caminho que tem sido seguido pela União
Europeia, que é quase um instrumento do neoliberalismo em que só interessam os mercados e os cidadãos
europeus pouca relevância têm.