I SÉRIE — NÚMERO 90
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Apesar de toda a propaganda, este Governo não deixou marca de relevo na Presidência da União Europeia.
Ao contrário do que diz, este foi o Governo que não fechou as negociações da PAC, e é tão preciso apoiar os
projetos agrícolas!
O problema deste Governo não é sequer, como sustentam alguns, o de substituir dois ou três ministros de
incompetência mais evidente, resolvendo-se por aí o problema. Não! É uma questão de fundo e de opções
erradas.
São opções erradas, quando o Governo se bate para não conceder apoios sociais ou quando se fecha na
sua base social de apoio, ignorando as classes médias e os profissionais liberais, sacrificados, simultaneamente,
pela pandemia e pelo excesso de impostos.
É uma opção de fundo errada, quando, na questão mais estrutural para sairmos da crise — o PRR —, o
Governo optou por direcionar o essencial dos fundos europeus para o Estado, para o setor público — só para o
setor público.
É errado, por parte do Governo e da União Europeia, que menos apoios e estímulos concedam às pequenas
e médias empresas, responsáveis, elas sim, pela maioria dos empregos e por pagarem a maioria dos impostos.
Por isso, a verdade é que somos um dos países que, na União Europeia, menos está a recuperar e menos
está a crescer. É um facto indesmentível.
Este é um Governo que mantém as regras, é um Governo que não está disponível para alterar as regras que
fazem com que Portugal tenha um dos custos com combustíveis mais elevados de toda a União Europeia, o
que, obviamente, penaliza as empresas dentro de Portugal e, também, as empresas exportadoras.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Não basta uma substituição pontual. A questão é de fundo e é de
opção. A escolha para o País é muito evidente: é entre um socialismo cada vez mais arrogante ou prepotente,
ou, então, em alternativa, a liberdade.
Se o Partido Socialista está convencido de que tudo pode, de que tudo diz, pelas dificuldades que a
alternativa possa estar a passar, está muito enganado. Em democracia, há sempre alternativa e um mau
Governo, como este que agora temos, acabará por ser substituído, e será substituído, pela vontade do povo.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real, do Grupo Parlamentar do PAN.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo: Resulta muito claro deste debate do estado da nação que há muito ainda a fazer para
resgatar o País dos interesses pelos quais tem estado capturado.
Comecemos por ver que, ao longo da crise sanitária, milhares de profissionais de saúde que nunca saíram
da linha da frente continuam a não ver as suas carreiras reconhecidas e valorizadas. Os investimentos
estruturais no SNS continuam fechados na gaveta, cuja chave, aparentemente, se perdeu perante um
Orçamento do Estado ainda por cumprir, o que não se coaduna com palmadas nas costas ou, menos ainda,
com congratulações vazias de respostas e de soluções aos seus problemas profissionais.
De confinamento em confinamento, perante as falhas nos apoios sociais, mantiveram-se injeções absurdas
a instituições bancárias — incorporando, até, aquele que tem sido um dos maiores crimes de colarinho branco
no nosso País, como é o caso do Novo Banco e da «Operação Marquês» —, borlas fiscais e subsídios perversos,
que chegam a ascender a 500 milhões de euros por ano, nomeadamente, às indústrias responsáveis pela crise
climática, hipotecando, assim, o futuro do planeta e das futuras gerações, apesar dos inúmeros apelos da
sociedade civil.
Numa outra gaveta, cuja chave também anda por aí perdida, ficou fechada a descarbonização da economia
e da própria agricultura intensiva e superintensiva e a transição para modelos mais sustentáveis, tantas vezes
reclamados pelo PAN, em debate, nesta Casa da democracia.
Este estado da nação é, na verdade, uma bola de neve para a qual o Governo nos tem empurrado nos últimos
meses, uma bola de neve que deixa de fora muitos, mas onde se percebe que há ministros intocáveis. Isto, num
Estado de direito democrático, é absolutamente inaceitável.