17 DE SETEMBRO DE 2021
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lado, a dívida vencida a fornecedores — que, em julho deste ano, ultrapassava os 1000 milhões de euros — é
um problema recorrente, com consequências negativas na tal gestão efetiva e eficiente dos recursos públicos.
Nada disto é neutro para o sistema e tudo isto tem impacto no acesso dos cidadãos a um SNS de qualidade
e em tempo clinicamente útil.
Acresce que, se, até ao final de 2019, o SNS já apresentava muitas fragilidades, a pandemia da COVID-19
veio não só expor essas limitações, como, em muitos casos, agravá-las.
Com toda a atividade assistencial que ficou por realizar — consultas, cirurgias, reabilitação e meios
complementares de diagnóstico e terapêutica — torna-se ainda mais importante encontrar mecanismos mais
eficientes de financiamento e de gestão dos hospitais integrados no SNS. Se isto não for feito, continuar-se-á a
injetar verbas, as que bastem para garantir a viabilização do Orçamento, mas que não se traduzirão plenamente
em ganhos para os utentes e em condições de trabalho para os profissionais de saúde.
O SNS, sendo pago pelos contribuintes, tem de ser financiado eficientemente, em função dos ganhos em
saúde obtidos e não em função do número de atos produzidos ou de preços fixados administrativamente.
O SNS precisa de cativar profissionais de saúde porque os remunera e responsabiliza, e não porque os
obriga a ficar.
Parece-nos que este é um momento particularmente oportuno para se olhar para o SNS para além do
Orçamento do Estado, para além de cada injeção de capital para abater a dívida, mudando uma receita que não
tem funcionado.
No CDS, temos defendido um outro modelo de financiamento dos hospitais, baseado em ganhos de saúde.
Nesse sentido, apresentámos, na Legislatura anterior, o Projeto de Lei n.º 998/XIII/4.ª, que aqui foi chumbado.
Mantemos a mesma convicção quanto a esta ideia e, por isso, mantemos esta proposta, já comprovada
noutros países e, em prática, em Portugal, em alguns hospitais privados.
O financiamento com base em ganhos de saúde coloca no centro o doente, em vez dos procedimentos, e
cria incentivos organizacionais para que se procure maximizar o resultado alcançado em benefício do doente
em causa e não de um determinado serviço específico do hospital.
Tal implica reorganização, coordenação e trabalho multidisciplinar, num modelo que premeia e também
penaliza os hospitais, com base na eficiência, efetividade e qualidade dos resultados, afinal, as premissas
estabelecidas na Lei de Bases da Saúde.
Implica compilar e trabalhar indicadores, para o que será necessária uma plataforma de amplo consenso, a
partir dos quais se podem avaliar os ganhos obtidos. Por exemplo, dados sobre taxas de internamento e a sua
duração, sobre medicação e tratamentos prescritos, sobre reinternamentos, sobre infeções hospitalares, sobre
taxas de mortalidade são, todos eles, dados que existem e que têm vindo a ser analisados do ponto de vista da
qualidade clínica, o que é essencial, mas dos quais falta retirar consequências, do ponto de vista da gestão
hospitalar e do subsequente financiamento.
Para o CDS, este é um momento particularmente oportuno para promover a aplicação gradual deste modelo
alternativo de financiamento, precisamente porque vivemos num cenário de recursos públicos limitados e de
grande pressão da procura.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr.ª Deputada, peço-lhe que termine.
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Vou terminar, Sr. Presidente. Esta é uma proposta que garante os critérios de efetividade, eficiência e qualidade, previstos na Lei de Bases,
assim como é um passo instrumental para a concretização dos melhores cuidados de saúde a tempo e horas
para todos os cidadãos.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para uma intervenção, tem, agora, a palavra o Sr. Deputado João Cotrim de Figueiredo, do Iniciativa Liberal.