30 DE SETEMBRO DE 2021
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centrais fotovoltaicas, tem de estar garantido que as áreas protegidas e as áreas sensíveis são, de facto,
intocáveis e que a exploração é feita de forma absolutamente regulada e, acima de tudo, participada.
A participação cidadã e do poder local é algo que não deve ser ultrapassável, sob pena de continuarmos a
fomentar um descrédito total quer na vida política, quer na participação na vida pública.
Assim, para combater e, de alguma forma, para darmos voz a estes desideratos contarão sempre com o PAN
porque tem sido esta a nossa postura e continuará a ser.
Aplausos do PAN.
O Sr. Presidente: — Passamos à última declaração política do dia, pelo que tem a palavra o Sr. Deputado João Cotrim de Figueiredo, do Iniciativa Liberal.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Com as eleições autárquicas de 26 de setembro o ciclo político não mudou, mas começou a alterar-se e esse processo é
irreversível.
Basta ver como os estados-maiores dos partidos da geringonça tocaram a rebate e estão há três dias a tentar
perceber o que lhes aconteceu.
O Bloco ficou tão assarapantado que logo às 10 e meia da noite eleitoral veio dizer que o melhor era só falar
no dia seguinte. Ainda não tinham arranjado maneira de justificar a perda de quase 20% dos votos e de dois
terços dos seus vereadores, dos quais já só sobram quatro. Vinte anos depois da sua estreia autárquica, o Bloco
de Esquerda quase que volta à estaca zero.
Protestos do Deputado do BE Jorge Costa.
O PCP vê-se obrigado, pela primeira vez na sua longa história, a considerar alterar a estratégia, e, quem
sabe, a liderança, na sequência de resultados eleitorais. Ao inexorável declínio do partido, que já vem de longe,
junta-se a perda de mais cinco câmaras, algumas claramente dolorosas, e a evidência de que João Ferreira,
que ganha 1400 votos em Lisboa, é o único comunista que pode segurar eleitorado, paradoxalmente por ser o
que parece menos comunista. Sublinho, parece ser.
O PS é o mais desorientado de todos. Sabe que ganhou as eleições porque é o partido com mais câmaras
e mais mandatos, mas sabe também que perdeu algo ainda mais importante do que os 250 000 votos que
efetivamente perdeu: desfez-se a perceção que muitos tinham de que era inevitável que o PS continuasse a
ganhar eleições enquanto houvesse dinheiro. Dinheiro dos outros, evidentemente.
A soberba e a arrogância pagam-se caro em política e não é impunemente que durante semanas se promove
deliberadamente a confusão entre o PS e o Estado ou se vende o PRR, como se o dinheiro que vem da Europa
não tivesse de ser pago um dia por todos. A máquina de propaganda do PS levou um banho de realidade: os
portugueses não engoliram nem a radicalização do discurso nem as narrativas do PS enquanto partido da
libertação, que não é, nem partido do crescimento, que nunca foi nem será.
Portanto, o que estas eleições mostraram no reino da geringonça é que o PS é punido por abusar do poder
que tem, e queria perpetuar, seja no Governo central, seja na freguesia de Arroios, enquanto o Bloco e o PCP
vivem o destino inevitável das muletas políticas: mirrar até desaparecerem, a menos que saltem fora a tempo,
que é exatamente o que está a causar o tal desassossego nos estados-maiores.
Protestos do Deputado do PS Miguel Matos.
Só que esta desorientação à esquerda não tem um contraponto claro no espaço não-socialista. As coligações
PSD/CDS têm vitórias importantes em câmaras emblemáticas, a começar por Lisboa, mas não sobem votação.
Nesse espaço político são os novos partidos que crescem, mas com estratégias muito diferentes.
O Chega tem uma boa estreia autárquica, aparece a cantar vitória, mas não consegue esconder que ficou
muito aquém daquilo que, com o espalhafato habitual, tinha anunciado: não é a terceira força política em Portugal
e só conseguiu 40% dos votos que tinha nas presidenciais, apesar de se ter apresentado a municípios com