15 DE OUTUBRO DE 2021
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O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: É sabido que, em Portugal, os projetos de parentalidade que as pessoas desejam não podem realizar-se, porque, em grande medida, não há
condições para os mesmos serem levados por diante.
Para essa reflexão e para essas escolhas das pessoas, das famílias contam, e muito, as questões do
emprego e do trabalho, a estabilidade no emprego. Oito em cada dez novos empregos que são criados, neste
momento, são trabalho precário, e isso faz toda a diferença.
E quando discutimos, como no ponto anterior discutíamos, as horas extra, a remuneração do trabalho, os
rendimentos dos trabalhadores, os bancos de horas, a liberalização dos horários de trabalho, a desregulação
dos horários de trabalho, a impossibilidade de conciliar trabalho com vida pessoal e familiar, estamos a discutir
as condições para as pessoas realizarem os seus projetos de parentalidade.
É por isso que, quando o CDS traz este tema a debate, conhecendo nós o cadastro do CDS na liberalização
dos horários, na degradação das condições de trabalho, na diminuição e no corte do rendimento de quem vive
do seu trabalho, francamente temos alguma dificuldade em saber se o CDS procura ignorar o seu próprio
percurso e as suas propostas ou se procura fazer-nos acreditar que acha que os problemas da parentalidade
se resolvem com aquilo que apresenta.
Quantas vezes propusemos, neste Parlamento — e o CDS votou contra! —, que trabalhadores com filhos
menores de 12 anos ficassem, por exemplo, dispensados do trabalho por turnos? Ou dos bancos de horas? Ou
do trabalho noturno? Ou de outras formas de desregulação dos seus horários? Quantas vezes isso foi chumbado
pelo CDS?!
Dizerem-nos que a solução é criar creches abertas 24 horas por dia, aliás, criadas pelas próprias empresas,
impedindo na mesma os pais e as mães de estarem com os filhos, certamente não é a nossa solução.
O Sr. Jorge Costa (BE): — Não é metê-los no congelador!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — E, claro, falemos de condições de vida, falemos de habitação. É do CDS — e do PSD, naturalmente, mas concretamente de uma ex-ministra do CDS — a lei do arrendamento! O que
está a acontecer na habitação, com a ausência de condições das pessoas para terem acesso à habitação, tem
também a marca do CDS e da direita.
Aliás, a habitação é aquela área do Estado social que não foi plenamente desenvolvida. Precisamos de muito
mais habitação pública. Não precisamos, apenas, de regular o mercado, mas sim de inundar o mercado com
oferta de habitação acessível, de habitação pública.
O Sr. Jorge Costa (BE): — Muito bem!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Isso, sim, é contribuir para as políticas de natalidade ou para a realização dos projetos de parentalidade.
E o CDS vem falar de tarifas familiares de água e luz?! Então, nós criámos uma tarifa social da energia,
defendemos uma tarifa social da água… Por exemplo, no Porto, em cuja Câmara o CDS está, nós fizemos
aprovar na Assembleia Municipal a tarifa social da água, que iria beneficiar dezenas de milhares de famílias,
mas a Câmara — da qual o CDS faz parte, repito — não a quis aplicar. E vem agora o CDS falar de uma tarifa
familiar, discriminando famílias, quando aquilo de que precisamos é de tarifas sociais, para que toda a gente
tenha acesso a água, a luz e também, claro, a habitação. Não faz sentido, mas é coerente com a visão do CDS.
O Sr. Jorge Costa (BE): — Muito bem!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Finalmente, fazem diferença as políticas de cuidados para a infância, com o acesso, por exemplo, às creches. Por isso, temos insistido em que é precisa uma outra visão sobre esta
matéria, para que haja uma rede pública de creches, de cuidados para a infância, que seja acessível, como se
fez com a educação escolar. Ou seja, precisamos que haja um acesso gratuito e universal a uma rede pública
de creches, disseminada no território, que permita às famílias terem acesso a esta resposta e que não as coloque
dependentes de um monopólio do setor social privado.