I SÉRIE — NÚMERO 11
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dele padecem. Independentemente da idade, uma coisa é certa: a abordagem tem de ser estratégica e as
respostas concretas.
Consideramos acertadas as recomendações do PAN, mas importa que não se fique por aqui, sob pena de
se ficar, mais uma vez, no vazio e no papel.
Há muitas medidas paralelas que têm de ser tomadas, muitas, inclusivamente, têm sido da iniciativa local,
das autarquias.
O CDS já propôs várias iniciativas, em diferentes áreas destacadas como das mais afetadas pela solidão ou
isolamento social. Nomeadamente já recomendámos ao Governo que considere as demências e a doença de
Alzheimer uma prioridade social e de saúde pública e que seja elaborado um plano nacional de intervenção para
as demências.
No que respeita ao estatuto do cuidador informal, temos insistido no sentido de que o Governo acautele
definitivamente o descanso do cuidador, bem como o tempo para que possa desenvolver relações pessoais e
participar nas mais diversas atividades sociais, culturais, recreativas, desportivas e espirituais.
Recomendámos também que alargue aos idosos o âmbito e as competências da atual Comissão Nacional
de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens e respetivas comissões de proteção de âmbito
concelhio, com envolvimento dos conselhos locais de ação social.
Defendemos que se prevejam, com circunstâncias agravantes, as condutas criminosas contra pessoas
particularmente indefesas em razão da idade, de deficiência ou de doença que limitem as suas faculdades ou
de pessoas sujeitas a medidas de acompanhamento para os crimes que mais vitimam a população mais idosa.
Recomendamos a ação social escolar para todos os alunos carenciados, o combate ao abandono escolar no
ensino superior e o acesso gratuito à rede de banda larga para uso escolar.
Em suma, temos vindo, ao longo dos anos, a apresentar várias iniciativas que, se aprovadas e postas em
prática, em muito já poderiam ter contribuído para o combate à solidão e ao isolamento social em várias faixas
etárias.
Neste sentido, o CDS continua empenhado nesta matéria e, como tal, não irá inviabilizar, e acompanhará,
esta iniciativa do PAN por reconhecermos a sua boa intenção.
Porém, repetimos: sem mais medidas concretas, este projeto do PAN corre o risco de dar em nada.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Silva, de Os Verdes.
A Sr.ª Mariana Silva (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A solidão, que hoje aqui debatemos, é um problema transversal a toda a sociedade, atingindo crianças, jovens, adultos e, com particular impacto, os
idosos.
É um problema que, muitas vezes, não tem visibilidade, mas todos os estudos o apontam, que tem
implicações sérias na vida de cada um e, particularmente, na saúde mental.
A pandemia veio realçar as muitas debilidades da nossa sociedade, desde logo, no que concerne à forma
como lidamos e tratamos os nossos idosos que, pela sua idade avançada e pelo facto de receberem reformas
muito baixas, encontrando-se, muitas vezes, abaixo do limiar de pobreza, se encontram mais vulneráveis,
nomeadamente à doença, e, por isso, foram aconselhados a ficar em casa, ou foi mesmo proibida a sua saída
dos lares, acentuando assim o seu isolamento.
Contudo, queremos sublinhar que a situação grave em que alguns idosos e outras camadas da população
se encontram apenas foi agravada pela pandemia, pois já existia.
No âmbito da operação da GNR Censos Sénior foram identificados 42 000 idosos que vivem sozinhos e/ou
isolados, a larga maioria nos distritos do interior do País. Com o encerramento dos centros de dia e das
associações, esta população, uma boa parte com autonomia e com vontade de continuar a viver nas suas
habitações, ficou privada de conviver, de terapias, de fisioterapia e de acompanhamento mais próximo das
doenças crónicas e até de uma alimentação mais equilibrada.
Milhares de idosos são cuidadores de outros com situações de doença e de outras adversidades, vivem em
situação particularmente dramática durante o inverno com as baixas temperaturas e condições muito débeis de
habitabilidade, sem aquecimento ou sem condições económicas para pagar os elevados custos da energia.