3 DE NOVEMBRO DE 2021
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Para formular o primeiro pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado João Cotrim de
Figueiredo, do Iniciativa Liberal.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Deputado Miguel Matos, quando percebi o tema da declaração política do PS lembrei-me de uma piada que se contava, que era
a de que o Fidel Castro também podia dar lições sobre como fazer discursos mais curtinhos.
O senhor vem aqui falar de crescimento e inovação, duas coisas que, manifestamente, o PS não é famoso
em conseguir fazer, tentando passar a ideia de que tem havido imenso crescimento com o PS. Deixe-me
dizer-lhe o seguinte: o Sr. Deputado refere que fomos a sexta economia a recuperar mais depressa, mas
esquece-se de dizer que, ainda há poucas semanas, o World Economic Outlook, do FMI (Fundo Monetário
Internacional), diz que, no final de 2022, Portugal vai ser o terceiro país que mais perto vai estar do nível
económico que tinha em 2019. Todos os outros 24 países que estão acima de nós nessa tabela estão melhor.
Já sei que o Sr. Deputado vai dizer — porque essa é a cartilha do PS — que são as economias que tinham
mais turismo que mais sofreram com esta pandemia. Pois deixe-me dizer-lhe que, acima de nós, estão
economias como as da Croácia, da Grécia, de Chipre, da Áustria, da Eslovénia, de Malta, todas economias
que têm um peso do turismo no PIB idêntico ao nosso.
Também já sei que me vai dizer que o PS foi o único partido que conseguiu estar no Governo enquanto
convergimos com a União Europeia em 2017, 2018, 2019.
O Sr. Santinho Pacheco (PS): — Não seja invejoso!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Pois devo dizer-lhe que não foi Portugal que convergiu, foram as três maiores economias europeias que, simultaneamente, divergiram.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Em todas elas, foi o único quadriénio em que tiveram crescimentos abaixo da média desde que há registo. Essa é que é a verdade dos factos!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Tem agora a palavra, para um pedido de esclarecimento, o Sr. Deputado Duarte Alves, do Grupo Parlamentar do PCP.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Miguel Matos, referiu as questões do crescimento económico e, de facto, não podemos separar a necessidade do crescimento
económico da necessidade urgente que temos de sair de um modelo baseado em baixos salários e baixa
incorporação tecnológica e passarmos para um modelo em que se incentive os setores com maior
incorporação tecnológica. Também para isso é importante o aumento dos salários como forma de potenciar os
investimentos nesses setores com maior incorporação tecnológica.
Mas que sinal é que o Governo dá quando não dá nem um passo de aproximação, como se viu nas últimas
semanas, relativamente a uma matéria tão importante como o salário mínimo nacional? O Governo não se
aproximou nem um milímetro face às várias propostas que foram apresentadas, desde março, relativamente
àquela que era a sua proposta inicial e continuamos a marcar passo no aumento do salário mínimo nacional.
Que sinal é que se dá quando outros países estão a aumentar os seus salários — em Espanha, na
Alemanha, porque sabem que isso é importante para as suas economias — e em Portugal mantemos uma
situação em que o salário mínimo continua a marcar passo e em que não são removidas da legislação laboral
normas gravosas de forma a proteger os salários medianos?
Sr. Deputado, a propósito de uma intervenção que fala sobre crescimento económico, não podemos deixar
de questioná-lo relativamente aos setores produtivos. Preocupa-o, ou não, que Portugal tenha, por exemplo,
neste momento, um aprovisionamento de cereais para apenas 15 dias, quando há problemas sérios ao nível
da distribuição de cereais no plano internacional? Isso é, ou não, uma preocupação?