I SÉRIE — NÚMERO 21
16
liberdade dos adeptos, afastar os instigadores da violência e, simultaneamente, conceber espaços acolhedores
e seguros para todos os setores da sociedade que queiram usufruir de um jogo de futebol, dos 8 aos 88 anos.
Mas, neste contexto de operacionalização deste cartão, a verdade é que esta sofreu dois grandes reveses:
uma equipa governativa inepta e completamente alheada das reais necessidades do setor desportivo e quase
duas épocas desportivas de ausência do público nos estádios por força da pandemia.
Importa, portanto, perguntar: o que fez o Governo?! Não fez nada! O que deveria ter feito?! Deveria ter
trabalhado para que as alterações à legislação fossem absorvidas pelos organizadores e promotores
desportivos. Houve um ano inteiro em que os estádios estiveram sem público.
Importa, também, perguntar: será que faz sentido, no final de uma Legislatura, no decurso de uma época e
com pouco tempo de operacionalização do cartão do adepto, revogá-lo intempestivamente?
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Costa Matos, do Grupo Parlamentar do PS, para uma intervenção.
O Sr. Miguel Matos (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Esta é uma discussão importante sobre liberdade e segurança, para garantir que todos, de facto, tenham a liberdade e a segurança para poderem
usufruir dos jogos do desporto que todos amamos.
O preceito que todos subscrevemos é o de que a minha liberdade termina onde começa a liberdade dos
outros. É por isso que é tão fundamental, depois da ocorrência de um conjunto de incidentes, depois de uma
reflexão apurada nesta Assembleia, termos constituído uma legislação que tenha conseguido consagrar maior
equilíbrio e melhores meios para podermos combater a violência no desporto.
No entanto, este tem sido um debate que tem trazido ao de cima as dificuldades a que temos vindo a assistir
ao longo dos últimos meses. E o que o PS tem para dizer é isto: vamos ouvir, vamos estudar, vamos refletir,
vamos fazer o balanço, sério, sem pressa, ouvindo as entidades, considerando todas as opções sem excluir
nenhuma, com a garantia de que essa é a melhor maneira de procurar as melhores soluções.
Não podemos alinhar em debates pouco sérios ou alicerçados em mitos. Este é um caminho no qual o
Governo tem feito muitas coisas, na articulação entre entidades, mas também assegurando que haja hoje mais
interdições do que houve no passado.
Mas é importante que façamos este debate de forma séria, sem alimentar os mitos que alguns, fora desta
Casa, quiseram alimentar, dizendo que o cartão era para todos os adeptos, quando é só para alguns e em
determinadas circunstâncias, que isto é tentar controlar, quando anteriormente já o próprio regime previa que
os bilhetes tinham de ter o nome do titular, mesmo que nem sempre isso fosse cumprido. Ou ainda o mito de
que isto abrange também os adeptos visitantes, como alguns partidos aqui disseram, quando, na verdade, isso
resultou de um equívoco no início da implementação e que hoje em dia está ultrapassado, porque os visitantes
podem assistir a um jogo sem terem o cartão do adepto.
Por isso, é importante que agora prossigamos com um balanço sério e um debate honesto, ouvindo as
entidades, para que cheguemos à melhor solução e salvaguardemos a liberdade e a segurança, valores que,
felizmente, reúnem aqui o maior consenso, para protegermos e defendermos o desporto e os adeptos.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, vamos entrar na fase final do debate. Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Alma Rivera, do Grupo Parlamentar do PCP.
Faça favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Alma Rivera (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Ainda não conseguimos perceber, de nenhuma das intervenções — que, aliás, são uma data de mistificações, de confusões —, do âmbito de aplicação
da lei, pois não é só ao futebol, naturalmente, e mesmo aí há realidades totalmente diferentes, desde um nível
muito mais profissionalizado e massificado, até outro, onde há competições que acontecem também noutros
contextos e com outros recursos. Portanto, não convém fazer mistificações que em nada ajudam ao debate.