I SÉRIE — NÚMERO 21
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Não se pode aceitar que a política fiscal do nosso País continue, ano após ano, a ignorar os apelos da OCDE
(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) e da ONU (Organização das Nações Unidas)
no sentido de pôr fim aos subsídios perversos aos combustíveis fósseis. Se o Governo quisesse realmente
combater os efeitos da crise dos combustíveis sem comprometer as juras de amor feitas na COP, em Glasgow,
deveria, por exemplo, estar a apresentar soluções que apostassem na melhoria dos transportes coletivos, na
cobertura transmodal, nomeadamente no interior, e na criação de mais horários, contribuindo assim para acabar
com a lógica de feijão em lata nas horas de ponta, que domina o dia a dia dos utentes, ou para o fim das idas
de táxi aos centros de saúde por falta de transporte público coletivo.
O PAN tem insistentemente defendido a melhoria e o alargamento da oferta de transportes públicos, bem
como uma estratégia séria, integrada e sustentável de revitalização do interior ou dos conceitos «cidade de 15
minutos» e «mobilidade suave».
Defendemos, igualmente, a reconversão de veículos a combustão para veículos de emissões zero e a
descentralização da produção e distribuição energética. Estas são opções completamente válidas que o
Governo poderia adotar de forma séria e que garantem não só as metas ambientais como também criam novos
modelos económicos, contribuindo para um crescimento ambientalmente responsável. Por outro lado, também
garantem a soberania energética do nosso País.
Nenhuma destas opções o Governo decidiu abraçar de forma séria e, em vez disso, dedica-se a incentivar,
mais uma vez, os combustíveis fósseis. Para o PAN, este projeto resolve um problema a muito curto prazo, mas
alarga outros a médio e a longo prazos.
O Sr. Presidente: — Peço aos serviços para prepararem os nossos ecrãs para nos podermos registar para efeitos de quórum, visto que teremos votações daqui a pouco tempo.
Para uma intervenção, tem agora a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Meireles, do Grupo Parlamentar do CDS-
PP.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Secretários de Estado: A proposta que o Governo apresenta chega tarde e, francamente, em face das necessidades, é muito pouquinho
— para não utilizar outra expressão mais preferida, talvez, do Sr. Primeiro-Ministro — e passa muito ao lado
daquilo que é preciso.
Sr.as e Srs. Deputados, acho que convém falarmos um bocadinho de história, porque, neste momento, temos
um problema de preços muito altos no gasóleo e na gasolina, ou, melhor, de uma forma geral, temos preços
muito altos nos combustíveis, e isso tem duas explicações: uma explicação é o aumento do preço do petróleo,
e essa, de facto não é da responsabilidade do Governo; a outra é uma fiscalidade que está acima da fiscalidade
praticada na maior parte dos países, explicação essa que é, sim, da responsabilidade do Governo.
Gostaria de voltar a lembrar que, em fevereiro de 2016, perante um preço do petróleo histórica e
transitoriamente baixo, o Governo decidiu aumentar o ISP (imposto sobre os produtos petrolíferos e
energéticos). E fê-lo dizendo o quê? Dizendo que, quando o preço do petróleo voltasse a aumentar, iria diminuir
o ISP. Porém, até hoje, não o diminuiu neste montante e nunca devolveu aquilo que, ao longo dos anos, tem
vindo a cobrar a mais.
Agora, ao invés de optar por pura e simplesmente baixar a fiscalidade, ou seja, por baixar o ISP, vem fazer
uma série de medidas cirúrgicas que passam ao lado do que me parece essencial.
Em primeiro lugar, relativamente àquilo a que, tanto quanto percebi, chamou de medida do «IVAucher», Sr.
Secretário de Estado, gostava de entender uma coisa. A medida do «IVAucher» vai funcionar de maneira
semelhante ao «IVAucher» do turismo, que, no ano passado, foi a grande medida de alívio fiscal na proposta
de Orçamento? Eram 200 milhões de euros. Confirme, Sr. Secretário de Estado, que, em novembro, ainda nem
10% disso está executado, pelo que já se vê a fiabilidade e a capacidade de previsão do Governo nestas
matérias. Já estou mesmo a ver o que daqui sairá! E depois, Sr. Secretário de Estado, confirme que o que está
a propor são, no máximo, 5 € por mês, durante 5 meses, ou seja, um máximo de 25 €. Estamos a falar de cerca
de 133 milhões de euros, o que não chega a ser nem metade do que o Governo cobrou a mais em ISP com este
aumento em 2016 — isto só para entendermos a grandeza do que está a ser proposto.
Portanto, Sr. Secretário de Estado, o desafio que lhe deixava era o de eliminar o adicional — a sobretaxa ou
o que lhe queira chamar — do ISP. Vou ser concreta, desafio-o a eliminar o aumento que o seu Governo fez em
2016 e, a partir daí, talvez possamos começar a falar de outras medidas.