I SÉRIE — NÚMERO 24
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A Sr.ª Márcia Passos (PSD): — Eu pergunto: porquê, Sr. Deputado? Veja-se esta situação concreta: um arrendamento, cujo arrendatário faleceu, imagine, no dia 21 de março de
2020. A suspensão entrou em vigor no dia 20 de março de 2020 e a casa não é entregue porque o senhorio não
pode exigir a cessação do contrato dado que está suspensa até hoje.
Portanto, o Sr. Deputado e o PCP querem que o senhorio continue a não poder exigir a entrega de uma casa
que está vazia, com um arrendatário que faleceu, e cujo arrendamento não se transmitiu.
Diga-me, Sr. Deputado Bruno Dias: a quem beneficia esta medida?
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Ao morto é que não é!
A Sr.ª Márcia Passos (PSD): — Ninguém nesta Casa, julgo eu, consegue compreender a quem é que isto protege, que destinatário da proteção está na mente do PCP no âmbito deste projeto de lei?
É isso que lhe pedimos, Sr. Deputado: que o explique a esta Assembleia, mas também a todos os
portugueses, que estão completamente estupefactos com esta medida.
Aplausosdo PSD.
OSr. Presidente (Fernando Negrão): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, começo por agradecer ao Deputado Hugo Carvalho, do PS, e à Deputada Márcia Passos, do PSD, as questões que colocaram.
O Sr. Deputado Hugo Carvalho falou em coisas muito importantes: do direito à habitação, da visão de futuro,
de um país desenvolvido, dos avanços alcançados. Deixo-lhe só um desafio, Sr. Deputado. Em janeiro, quando
as pessoas começarem a ser confrontadas com processos de liberalização das rendas ainda mais graves do
que aquilo que hoje está a acontecer, quando as pessoas que já hoje são confrontadas com a obrigatoriedade
de saírem das suas casas — porque saem das suas casas, Srs. Deputados, e andam de pensões para hostels
e destes para abrigos, com as crianças atrás; e não digam que isso não acontece, porque não se trata de uma
abstração, Srs. Deputados — se virem confrontadas com esse problema, vá lá o Sr. Deputado Hugo Carvalho
e vão lá os Srs. Deputados do PS e do PSD explicar-lhes os avanços alcançados, vão lá falar-lhes de visão de
futuro, vão lá falar-lhes do direito à habitação, dessa teoria tão bonita que os senhores trazem aqui para oferecer.
O problema agora é aprovar a lei, a lei que garanta medidas extraordinárias de salvaguarda, para que as
pessoas, essas pessoas mais idosas, essas pessoas que vivem sozinhas não fiquem — de uma forma ainda
mais gravosa e mais extensiva, como poderá acontecer com os contratos anteriores a 1990 — desprotegidas e
na iminência de receber a carta do senhorio.
E não vamos, agora, teorizar sobre a condição dos senhorios e a sua heterogeneidade, porque, pelos vistos,
quando o PSD intervém nestas discussões, fica à vista, como ficou mais uma vez, que a prioridade do PSD é
garantir que os inquilinos vão para a rua, e o mais depressa possível, tendo, aliás, agora dito que até já deviam
ter ido.
Mas nós estamos preocupados com a situação das pessoas que são confrontadas com as decisões desses
grupos económicos, desses fundos imobiliários, para os quais as famílias, as crianças, aqueles que vivem essas
ameaças são números numa folha de cálculo. Mas, para nós, não são, Srs. Deputados! Para nós, são pessoas
cujos direitos, cuja dignidade e cujo futuro têm de ser defendidos, e defendidos com medidas dessas.
Argumentos absolutamente absurdos, como aqueles que a Deputada Márcia Passos nos trouxe, hipóteses
absurdas do ponto de vista académico, não têm qualquer cabimento legal. Diga-me lá, então, quantas casas é
que a senhora já viu ou conhece que estão vazias porque o inquilino morreu, porque o senhorio tem a casa
fechada e não a pode arrendar porque a pessoa que lá estava faleceu. E o que a nossa lei agora vem impedir
é que a casa seja arrendada?! É este o contributo que o PSD tem para o debate?!
Quero deixar uma última palavra, uma recomendação, para o Sr. Deputado Hugo Carvalho. O Sr. Deputado
nem se lembre de falar do Orçamento do Estado, porque se há coisa que ficou evidenciada em todo este
processo é que a última preocupação dos senhores era a de terem um Orçamento. A partir do momento em que
o Sr. Presidente da República veio dizer que, se não houvesse Orçamento, haveria eleições, os senhores