17 DE DEZEMBRO DE 2021
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O Sr. Presidente: — Boa tarde, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.as e Srs. Funcionários, Sr.as e Srs. Jornalistas, Sr.as e Srs. Agentes da autoridade.
Vamos dar início à reunião, de 16 de dezembro de 2021, da Comissão Permanente da Assembleia da
República.
Eram 15 horas e 8 minutos.
Peço que sejam abertas as portas das galerias.
Do primeiro ponto da ordem do dia constam declarações políticas, mas, antes disso, a Sr.ª Secretária Maria
da Luz Rosinha tem uma informação a dar à Câmara.
A Sr.ª Secretária (Maria da Luz Rosinha): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, informo a Câmara de que deu entrada na Mesa, e foi admitido, o Projeto de Resolução n.º 1542/XIV/3.ª (PAR).
O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr.ª Secretária, pelo anúncio. Esse diploma será votado aquando das votações.
Vamos, então, passar às declarações políticas e, para começar, dou a palavra ao Sr. Deputado Jorge Costa,
do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
O Sr. Jorge Costa (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A prisão preventiva do ex-Ministro da Economia Manuel Pinho e de Alexandra Pinho, sua esposa, não acrescenta, só por si, nenhum dado novo ao
que sabemos, há muito, sobre a atuação deste antigo responsável do último Governo de maioria absoluta do
Partido Socialista.
Porém, ao recordar o País destas decisões, esta detenção deve recordar também as instituições
democráticas de que, ainda hoje, estas decisões têm consequências que estão por corrigir.
Este caso é exemplar a vários títulos. Trata-se de uma investigação que decorre há 10 anos, sobre factos
praticados há quase 15. Não há justiça sem meios, não há justiça sem prazos.
Em segundo lugar, este é um caso exemplar da rotação da porta giratória entre política e negócios. O PS de
José Sócrates venceu as eleições com maioria absoluta e um homem do Grupo Espírito Santo chegou a Ministro
da Economia. Uma das suas primeiras decisões foi nomear como presidente da EDP (Energias de Portugal) um
seu amigo pessoal, também alto quadro do Grupo Espírito Santo e ex-Ministro do PSD António Mexia.
Ao gabinete de Manuel Pinho chegou João Conceição, que tinha criado os CMEC (custos de manutenção
do equilíbrio contratual), nos gabinetes de Durão Barroso e de Paulo Portas. Mas o salário de João Conceição,
agora assessor de Pinho, nunca chegou a ser pago pelo Ministério. Era a EDP que fazia a fineza de se ocupar
dos honorários deste assessor.
O resto já se sabe. Ao longo dos anos de ministro, Manuel Pinho recebia uma mesada do Banco Espírito
Santo e, no final, a EDP ainda patrocinou a Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, para a criação de
um curso onde Manuel Pinho se tornou docente.
Alguns destes dados foram apurados no âmbito do inquérito parlamentar que o Bloco de Esquerda propôs e
do qual vim a ser eleito relator. Os Deputados foram unânimes a concluir, e cito, que «entre o gabinete de Manuel
Pinho — João Conceição e Rui Cartaxo — e os responsáveis da empresa — Manso Neto e António Mexia —,
além do fluxo permanente de informação, o que ocorreu foi uma deslocação da condução do próprio processo
legislativo, do seu ritmo e do seu conteúdo, para a EDP». Igualmente, sobre a recompensa académica dada a
Manuel Pinho, as conclusões da Comissão Parlamentar de Inquérito reforçaram e nunca contrariaram os indícios
que levaram à abertura da investigação judicial.
Porém, entre os 15 capítulos do relatório, houve apenas um que os Deputados do Partido Socialista fizeram
mesmo questão de chumbar. Foi o segundo, dedicado precisamente à extensão da concessão do domínio
hídrico, concebida e executada pelo Governo de Durão Barroso e, depois, aplicada pelo Governo de José
Sócrates, através do Ministro Manuel Pinho.
E que recomendava, afinal, esse malfadado capítulo do relatório da nossa Comissão de Inquérito?
Recomendava a revisão do equilíbrio económico-financeiro das concessões das barragens da EDP, através da
comparação dos valores pagos pela empresa com os ganhos efetivamente gerados a partir daquelas barragens.