17 DE DEZEMBRO DE 2021
5
Mas, muito mais importante, é o seguinte: o Diretor Nacional da Polícia Judiciária é, de facto, nomeado pelo
Governo. Mas não foi só o atual diretor que foi nomeado pelo atual Governo, foram todos os diretores nacionais
que foram nomeados por todos os Governos em funções ao tempo das nomeações, e nunca algum responsável
político se atreveu sequer a insinuar que a Polícia Judiciária, que funciona sob a direção funcional do Ministério
Público no âmbito de processos cuja instrução é da responsabilidade do poder judicial, se encontra ao serviço
de qualquer Governo em funções.
Essa acusação do Dr. Rui Rio é muito grave, pelo menos, por três razões: em primeiro lugar, porque lança
uma suspeição pública sobre a idoneidade de uma instituição policial que é fundamental para o combate à
criminalidade e à qual o País muito deve, não agora, mas desde há muito; em segundo lugar, porque se fica
com a sensação de que o Dr. Rui Rio preferia que o Sr. Rendeiro não fosse detido agora, porque pensa que
isso pode prejudicar o seu resultado eleitoral e, então, acha que a Polícia Judiciária deveria ter pedido à sua
congénere sul-africana que, podendo deter o Sr. Rendeiro agora, só o detivesse na noite do dia 30 de janeiro
de 2022, depois de encerradas as assembleias de voto em todo o território nacional; em terceiro lugar, e mais
grave, porque o Dr. Rui Rio pensa que, se chegar a Primeiro-Ministro de Portugal, pode dar ordens à Polícia
Judiciária sobre quem, quando e como, pode ou não pode ser detido.
O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — Isso é conversa!
O Sr. António Filipe (PCP): — E isto já não é falta de noção. Isto é uma clara manifestação de vontade de subverter o Estado de direito e de controlar politicamente a investigação criminal.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: A Polícia Judiciária cumpriu o seu dever e é digna do nosso reconhecimento,
não apenas pela última semana, mas pelo trabalho que tem vindo a desenvolver ao longo dos anos, apesar da
manifesta exiguidade dos meios de que dispõe.
O maior problema do combate à corrupção e à criminalidade económica e financeira no nosso País não é
tanto a falta de leis, que são certamente aperfeiçoáveis, mas a falta de meios ao dispor da Polícia Judiciária e
das autoridades judiciárias para exercer as suas funções com a celeridade e a eficácia que certamente
desejariam.
Daí que o PCP tenha vindo a propor, insistentemente, o reforço significativo dos meios humanos e materiais
ao serviço da investigação criminal e da aplicação da justiça, tendo nomeadamente em conta a importância de
combater a impunidade dos crimes de colarinho branco e a complexidade de que se reveste a investigação de
crimes dessa natureza.
Em sucessivos Orçamentos do Estado, o PCP propôs o reforço da contratação de inspetores, peritos
financeiros, criminalistas e seguranças para a Polícia Judiciária.
O Orçamento do Estado para 2021 consagrou, por proposta do PCP, a incumbência de o Governo
apresentar, até maio, um plano plurianual de investimento na investigação criminal, coisa que o Governo não
fez.
O processo de recrutamento de inspetores que está em curso é algo que se saúda como absolutamente
indispensável em face da manifesta penúria a que se chegou, mas é parte de um esforço que tem de ser
prosseguido nos próximos anos para que o País possa continuar a ter uma polícia de investigação criminal digna
desse nome.
Do programa com que o PCP se apresenta às eleições do próximo dia 30 de janeiro, consta o firme
compromisso de dar resposta cabal e consistente à crónica carência dos mais elementares meios materiais e
humanos, principal dificuldade que se coloca no trabalho diário do Ministério Público e da Polícia Judiciária.
O combate firme à corrupção não passa pela adoção de mecanismos como as delações premiadas que, em
nome desse combate, destruam garantias fundamentais de um Estado de direito democrático.
O PCP, na linha do seu património de propostas e de combate político de décadas contra a corrupção, que
vão desde o fim do sigilo bancário até à criminalização do enriquecimento injustificado, manter-se-á na primeira
linha dessa luta, no respeito pela Constituição, por uma sociedade mais justa e pelos valores da decência e da
honestidade na vida pública.
Aplausos do PCP e do PEV.