17 DE MARÇO DE 2022
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parte representantes de todos os partidos, com as quais não concorde. Essas regras são claras e estão assentes
há muito.
Por isso, se tinha razões para duvidar da genuinidade de cada um dos votos, deveria tê-lo denunciado em
concreto e, mais importante, deveria ter carreado os elementos de evidência dessa suspeição. Não o fez, nunca
o fez e nem o pode fazer, porque, pura e simplesmente, não existem.
O que fez o PSD, isso, sim, foi lançar sobre todos, inclusive, e mais importante, sobre os que votaram, um
labéu de suspeição, de desconsideração, revelando a sua total indiferença pelo notável esforço de participação
das nossas comunidades, que, pela primeira vez, alcançaram mais de 250 000 votantes a participar neste ato
eleitoral.
Sabemos que a situação de ausência de cópia do cartão de cidadão não é nova. Sabíamos todos, inclusive
a CNE, e, por isso, se queria fazer a revisão da lei eleitoral.
A omissão da cópia do documento de identificação, podendo ser sancionada como nulidade, só o será se a
declaração de nulidade for requerida no ato por membros da mesa.
Foi com esse enquadramento, de que a própria CNE admitiria que a identificação do eleitor feita através do
código de barras impresso no envelope de devolução do voto era suficiente para validar a identificação de quem
votava, que todos os partidos formaram a convicção e se puseram de acordo em não questionar a validade dos
votos e não usar o direito de impugnação que lhes assistiria nas decisões que as mesas, sempre soberanas nas
decisões do procedimento eleitoral, viessem a tomar.
O PSD tomou parte nesse acordo e integrou esse consenso até que alguém, algures, decidiu que assim não
seria e que passariam a impugnar as deliberações das mesas que viessem a considerar válidos aqueles votos.
Essa decisão foi tomada já no dia da contagem e — pasme-se! —, apesar do seu grande apego à legalidade,
o PSD só impugnou as eleições das mesas da Europa, onde perdeu, e pactuou com aquilo que, agora, considera
uma ilegalidade nas mesas do resto do mundo, onde obteve mais votos e ganhou as eleições.
Não foi só a irresponsabilidade que ficou patente no volte-face do PSD, foi também a escancarada
duplicidade e dualidade de critérios, aliadas a uma enorme insensibilidade e desconsideração pelos eleitores do
círculo da Europa.
Porque contrariou o PSD o entendimento conjunto de todos os partidos concorrentes, incluindo do próprio
PSD? Porque não impugnou, igualmente, o PSD, a votação do círculo de fora da Europa? Porquê a dualidade
de posições? Seja qual for a resposta, houve duplicidade no comportamento, ao assumir um acordo e, na hora,
agir em sentido contrário.
Tudo isto poderia ter sido evitado, porque o PSD tem resposta para as razões que levam muitos dos eleitores
a não juntar a cópia do documento de identificação. Elas são conhecidas de todos. Não se trata de as pessoas
não se quererem dar ao trabalho de juntar a cópia do cartão de cidadão, mas de dificuldades reais e de dúvidas
legítimas que perpassam a imaginação de quem envia pelo correio cópia de um documento de identificação.
Sabe, o PSD, no mínimo — se não, deveria saber —, o que pensam muitos dos nossos emigrantes? Conhece
— se não, deveria conhecer — as condições em que exercem o seu direito de voto? Cuidasse de querer saber
e saberia, em vez de pensar nelas apenas nos atos eleitorais. Saberia, por exemplo, que muitos têm receio de
serem identificados no seu sentido de voto, se juntarem a cópia do cartão de cidadão. Saberia que muitos
entendem que a mesma não é legitimamente exigível. Saberia que muitos não têm condições, porque as vidas
são duras, de proceder à realização dessas cópias ou que muitos vivem em países onde essa prática tem graus
de censura e, até, de impedimento legal. Tudo isto o PSD sabe ou poderia saber, se cuidasse de saber, mas
cremos que sabe.
Do nosso lado, do lado do Partido Socialista, embora alheios ao sucedido, fica, de novo, o pedido de desculpa
já formulado pelo Primeiro-Ministro e o compromisso de total empenhamento com as soluções legais que
venham impedir a repetição desta desconsideração de milhares de votos.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Chamo a atenção para o tempo de que dispõe, Sr. Deputado.
O Sr. José Luís Carneiro (PS): — Vou terminar, Sr. Presidente. Em nome do interesse do País, apelamos à responsabilidade de todos os partidos na futura receção,
descarga e validação do ato eleitoral para servir a comunidade nacional, que está aqui, mas também está no
estrangeiro.