I SÉRIE — NÚMERO 37
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Queria chamar a atenção da Sr.ª Deputada para a circunstância de a abstenção ter baixado
substancialmente, quer no interior, quer no exterior, contra todas as expectativas. Não se esqueça de que
estávamos no período de pandemia — e não me venham dizer que eu responsabilizo a pandemia por tudo! —
e que essa circunstância levaria, em princípio, a que muitas pessoas não fossem sequer votar. Pelo contrário,
houve muito mais gente que foi votar.
Quanto aos anúncios, vou verificar, mas aquilo que a administração eleitoral tem efetivamente colocado em
anúncios é um folheto informativo, que é um folheto de instruções, em que claramente se diz que se deve juntar
a cópia do cartão de cidadão.
Mas, se a Sr.ª Deputada me diz que viu anúncios que não tinham esta informação, aquilo que me comprometo
a fazer é verificar se efetivamente assim foi, para se reforçar essa componente numa próxima ocasião.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Dou agora a palavra à Sr.ª Deputada Mariana Silva, do PEV, para formular perguntas.
A Sr.ª Mariana Silva (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Ministra, chegámos a este debate a partir de duas realidades indesmentíveis.
Por um lado, registou-se uma menor participação eleitoral dos emigrantes, face aos números globais da
abstenção, facto a que não são alheias as dificuldades objetivas, designadamente a de ir votar em mesas de
voto que distam, muitas vezes, 200, 300 ou mais quilómetros das residências dos portugueses que decidiram
ou foram forçados a trabalhar e viver longe da sua pátria.
Por outro lado, verificou-se uma vontade indesmentível dos cidadãos portugueses na diáspora de
participarem na vida nacional, que tem expressão no recente aumento significativo do número de votantes.
É por isso que as minhas primeiras palavras são para todos os emigrantes que decidiram participar na vida
do País, votando.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Muito bem!
A Sr.ª Mariana Silva (PEV): — Mesmo perante as dificuldades que já enfrentavam, a que se somaram neste ato eleitoral os episódios que levaram à sua repetição, deslocaram-se, em pequeno número, é certo, aos locais
de voto presencial ou votaram por correspondência.
Mas deixamos uma palavra também a todos aqueles que, tendo esse desejo, por alguma razão, não o
conseguiram fazer.
A participação das comunidades emigrantes na vida política nacional, bem como a sua representação nesta
Assembleia da República, que consideramos adequada, é de um valor inestimável.
É certo que a esmagadora maioria das decisões que aqui se tomam afetam particularmente aqueles que cá
vivem. É certo que alguns emigrantes não pensam regressar ou que as suas vidas os encaminharão para essa
decisão.
Mas não é menos verdade que cada português que vive no estrangeiro é um embaixador da nossa língua,
da nossa cultura, dos nossos costumes e tradições e que cada um mantém relações mais ou menos próximas
com Portugal. Por isso lhes é conferido — e bem! — o direito a decidir.
Como assegurar, então, dois elementos essenciais num ato eleitoral com características especiais?
Primeiro, em relação à mobilização do maior número de votantes, de acordo com as regras estabelecidas, é
sabido que o Governo não empenhou os meios necessários para divulgar a informação e para o esclarecimento
de que há procedimentos indispensáveis para a validação do voto.
Em boa verdade, temos a ideia de que o Governo nem fez os esforços necessários para fazer chegar a todos
os emigrantes a informação de que havia eleições. Também aqui se sentem os efeitos da redução das
representações de Portugal no estrangeiro, do encerramento de embaixadas e de consulados e a redução do
pessoal diplomático.
As dúvidas que se mantêm são as seguintes: como vamos promover o voto dos emigrantes? Que medidas
tenciona o Governo tomar até ao próximo ato eleitoral com esse objetivo? Pondera o Governo promover mais