16 DE SETEMBRO DE 2023
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Muito obrigada, Natália Correia. Aplausos do PS, do PSD, do BE e do L. O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra a Sr.ª Ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana
Catarina Mendes. A Sr.ª Ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares (Ana Catarina Mendes): — Sr. Presidente, Sr.as e
Srs. Deputados: Permitam-me que comece por uma saudação muito especial aos capitães de Abril por se terem associado a esta homenagem, demonstrando mesmo que Natália vestiu sempre a palavra «liberdade».
«Ora foi num dia treze / Que em seu bíblico lugar de dor / Minha mãe deu por completas / As letras do meu teor». Foi assim que Natália Correia descreveu o seu próprio nascimento, a 13 de setembro de 1923.
Natália da Fajã de Baixo, S. Miguel, Natália dos oceanos da literatura, veio para Lisboa com apenas 11 anos. Nunca perdeu a matéria que molda as gentes insulares, explicando-nos da melhor forma que sabia como veio para a capital: «(…) não de uma vez e embarcada: (…) / pouco a pouco transportada / Recém-vinda de ficada / em morosa maravilha / sempre a chegar a Lisboa / e sempre a ficar na ilha».
Intensa, apaixonante e apaixonada, controversa, iconoclasta, provocadora, inspiradora, culturalmente superior, as muitas mulheres que Natália foi e a forma voluptuosa como viveu transportou-a para o lugar de uma das mais marcantes personalidades do século XX português.
Enorme Natália, que juntou no Botequim da Liberdade a cultura e a política do País a construir-se em democracia.
Quem não se lembra da sua passagem por este Hemiciclo, do tom desafiante das suas intervenções, da provocação das repostas em verso, das quadras chistosas dirigidas aos colegas Deputados? Como recordou Mário Tomé, alguém longe das suas convicções políticas: «Quando ela entrava, sabia-se que algo de novo, de bem informado, de poético, de transgressor, de desafiante ia acontecer.»
Retrato lúcido e verdadeiro, sem dúvida. Natália foi assim mesmo: alguém que nunca fugiu de uma vivência assente na permanente alternância de antípodas, abrindo novos caminhos às gerações seguintes, pela coragem de ser disruptora. Aquilo a que hoje chamaríamos «politicamente incorreta», mas certamente uma mulher de valores e de causas, acima de tudo, uma mulher da liberdade e radical na sua defesa.
Natália vestiu sempre, sempre, a palavra «liberdade». E que falta nos faz!… Relembro um excerto, atualíssimo, de Natália neste Plenário, em 1982: «Nesta época de máquinas, de
números e de tecnocracias, eu cometo o crime de ser flexível, compassiva e humana.» Saibamos também nós cometer essa ousadia. Saibamos recusar ser «almas jovens censuradas». Saibamos
também honrá-la, fazendo jus ao seu repto, neste Plenário, em 1981: «Quem tanto preza a palavra parlamentar deve encarecê-la não só no sentido de ela ser dita, mas também de ser cuidadosamente escutada.»
A defesa permanente da liberdade e da democracia é certamente a melhor maneira que as gerações presentes têm de honrar a sua memória. Lê-la, sempre. Revivê-la, sempre. E, citando Natália Correia: «…a nossa dimensão / não é a vida, nem é a morte».
Viva Natália Correia! Aplausos do PS, do BE, do L e de Deputados do PSD. O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra o Sr. Deputado Fernando Negrão, do Grupo Parlamentar do
PSD. O Sr. Fernando Negrão (PSD): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Sr.as
e Srs. Deputados: Tentemos falar com Natália Correia, embora não seja fácil, pois Natália Correia era sempre, sempre, o único centro de todas as atenções. Mas tentemos.
Dizia ela: «Não aceito nenhuma disciplina que me seja imposta, sem que me demonstrem a razão dela.» Este é o retrato escrito que melhor define a personalidade de uma mulher invulgar, que aos 11 anos de idade
ruma dos Açores, onde nasceu, para Lisboa, dizendo ela própria, deste salto, anos depois, o seguinte: «Para