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I SÉRIE — NÚMERO 1

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Lisboa me trouxeram / não de uma vez e embarcada / minha longa matéria foi / pouco a pouco transportada / Recém-vinda de ficada / em morosa maravilha / sempre a chegar a Lisboa / e sempre a ficar na ilha.»

Pelos seus 30 anos, Natália Correia encontra o seu castelo e, como ela mesmo o disse, e cito: «O meu castelo é morar no vento. / Como um convento que não se vê por fora», e aí, no seu castelo adaptado, como escreve Filipa Martins, biógrafa de Natália Correia, construiu Natália o seu salão literário. Cito: «Madrugada dentro habitava-se o Eros: eram convidados todos os espíritos cultos ou quejandos, as celebridades de passagem por turel a nata das natas, e passavam-se horas em transe de espiritualidade e beleza, por exemplo, em curiosos e fascinantes debates sobre o que é o Amor.» Natália sabia o que valia a pena.

Anos 60, sabemos e imaginamos quase todos nós a incompreensão e a maledicência por alguém — para mais, mulher — que circulava com desenvoltura em meios masculinos e não se inibiu nunca de repudiar sempre toda e qualquer disciplina imposta de que não compreendesse a razão.

Daqui à política foi um passo. Dizia Natália Correia, e cito: «Em forma de Militância / Por coisas que eu cá sei / (se quiserem do espírito) /

Vesti-me de bezerra / Fui para o comício». O entusiasmo, a alegria e a esperança criados com o 25 de Abril, bem como as vicissitudes políticas ocorridas

logo a seguir, levaram-na à militância política e, embora crítica dos partidos políticos, optou e o escolhido foi o PPD/PSD, tendo sido — e isto a título de curiosidade — autora do hino da AD (Aliança Democrática).

Fez-se Deputada e nesta Casa a sua poderosa poesia fez-se sentir. E aqui lutou pela cultura, pela preservação do património e pela defesa dos direitos humanos e dos direitos das mulheres.

A este propósito, dos direitos das mulheres, não posso deixar de relembrar as palavras de Natália Correia que se seguem: «O amor que os homens vivem é uma obra da imaginação feminina. Por isso eles são os únicos que realmente se apaixonam.»

Não pode ser esquecido o famoso Botequim, um bar na Graça, em Lisboa, criado por Natália Correia, que se constituiu como um espaço de encontro dos nossos intelectuais, onde estavam sempre intensamente presentes a liberdade, a literatura, a poesia e a política.

Encerrou após a morte de Natália Correia, tendo sido aí que passou a última noite da sua vida. Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, era impossível ficar indiferente a Natália Correia. Imprevisível,

indomável, bela, contraditória, inteligente, culta — era assim Natália Correia. Anteontem teria feito 100 anos. Celebremos o seu legado, com esta última frase — Sr. Presidente, permita-mo, abusando da sua tolerância,

porque acho que esta, sim, definia a essência de Natália Correia —: «Ó subalimentados do sonho! A poesia é para comer.»

Aplausos do PSD, do PS, do PCP, do BE, do L e de Deputados da IL. O Sr. Presidente: — Vamos passar, então, ao terceiro ponto da nossa ordem do dia, as votações

regimentais. Peço aos serviços o favor de abrirem o sistema de verificação de quórum. Pausa. Pergunto se algum Sr. Deputado ou Sr.ª Deputada não se conseguiu registar eletronicamente. Todos conseguiram, pelo que peço, então, aos serviços que fechem o sistema e publicitem o resultado. Pausa. Temos quórum, pelo que vamos passar às deliberações. Começamos com o Projeto de Voto n.º 411/XV/1.ª (apresentado pela IL) — De pesar por António Manso, um

lutador pela liberdade. Passo a palavra, para a leitura do projeto de voto, à Sr.ª Deputada Maria da Luz Rosinha.