I SÉRIE — NÚMERO 8
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Num momento em que alguns procuram reescrever a História, branquear o que foi o fascismo e os seus
crimes, e em que são banalizadas, normalizadas e promovidas forças de extrema-direita e fascistas, assinalar
os 50 anos do golpe militar fascista no Chile é também alertar os democratas, os antifascistas, os defensores
da liberdade e da paz de que o tempo é de ação face a conceções e projetos reacionários e fascizantes.
Assinalam-se 50 anos do brutal e sangrento golpe militar no Chile que derrubou o Governo democraticamente
eleito, dirigido pelo Presidente Salvador Allende.
Durante três anos, de 1970 a 1973, o Governo da Unidade Popular implementou importantes medidas
económicas e sociais — como a nacionalização da indústria do cobre e de outros setores estratégicos da
economia ou a reforma agrária —, colocando os recursos do país ao serviço da melhoria das condições de vida
dos trabalhadores e do povo chileno, afirmando uma política de soberania e independência nacional e de
cooperação com os povos do mundo.
Um processo de transformações profundamente democrático e participado, com destacado papel do
sindicalismo e da juventude, que uniu correntes democráticas em torno do programa patriótico e progressista da
Unidade Popular.
Desrespeitando a vontade democraticamente expressa pelo povo chileno e o caminho transformador que
este determinou, a 11 de setembro de 1973, um golpe executado pelos setores mais reacionários das Forças
Armadas chilenas, liderado pelo General Augusto Pinochet, impôs uma violenta e cruel ditadura fascista. Um
golpe que foi concebido e implementado pelos Estados Unidos da América, com o envolvimento da CIA, das
multinacionais norte-americanas e dos grupos económicos chilenos, que durante o Governo da Unidade Popular
promoveram um permanente boicote da economia e a desestabilização do país, incluindo com o recurso ao
assassinato e a outras criminosas operações e atentados.
Com o golpe passaram a ser impostas no Chile as conceções liberais ditadas pelos Chicago Boys.
Conceções que, servindo os interesses dos grupos económicos, constituíram a base da política económica da
ditadura fascista, com gravosas consequências para os trabalhadores e povo chileno e que se traduziram na
privatização de setores e empresas estratégicas, na redução drástica das funções sociais do Estado, na brutal
regressão nos direitos, no empobrecimento e endividamento das famílias, na concentração da riqueza e saque
das riquezas do país.
Conceções que hoje continuam a procurar confundir liberalismo com liberdade, esse liberalismo onde
assentaram os princípios e fundamentos do golpe fascista no Chile, com as suas nefastas consequências. Esse
mesmo liberalismo que mostrou e mostra ser incompatível com a democracia.
Os EUA não promoveram apenas o golpe que levou à instauração da ditadura no Chile, mas igualmente a
instauração de ditaduras na Argentina, na Bolívia, no Brasil, no Paraguai ou no Uruguai, entre outras, com quem
levaram a cabo a funesta «Operação Condor», cujas consequências perduram na atualidade com a exigência
do esclarecimento da situação de milhares de desaparecidos.
Logo em 1973, sob a repressão da ditadura em Portugal, foram realizadas por antifascistas portugueses
ações de denúncia e condenação do golpe no Chile e de solidariedade para com o povo chileno.
Mas foi com a Revolução de Abril, que, em 1974, libertou o povo português de 48 anos de fascismo, que em
Portugal pôde ser expressa em liberdade uma imensa manifestação de solidariedade para com os democratas
e antifascistas chilenos então brutalmente assassinados, presos, torturados, perseguidos, e que contribuiu para
abrigar exilados políticos, impedir assassinatos, libertar presos, animar a resistência antifascista.
Os democratas têm o dever e a responsabilidade de não deixar que sejam esquecidos os crimes cometidos
pelo fascismo no Chile, em Portugal ou noutros países. Um dever e uma responsabilidade de sempre, que
assume particular significado e importância na atualidade.
Em vésperas das comemorações do 50.º aniversário da Revolução de Abril, é momento de afirmar o que ela
representou de avanço libertador para o povo português e de apontar um caminho para Portugal assente nos
seus valores.
Como o Presidente Salvador Allende afirmou na sua última mensagem dirigida ao povo chileno: «Saibam
que, antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para
construir uma sociedade melhor.»
Os Deputados do PCP, Paula Santos — Bruno Dias.