12 DE OUTUBRO DE 2023
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A Sr.ª Alma Rivera (PCP): — As pessoas estão desesperadas. Muitas das situações sociais gravíssimas
que estão a acontecer estão relacionadas com o facto de a situação documental não estar a ser atempadamente resolvida.
Portanto, esta responsabilidade é do Partido Socialista, não é de mais ninguém, e não há aqui ninguém em melhores condições para a resolver.
Aplausos do PCP. Protestos da Deputada do PS Romualda Nunes Fernandes. O Sr. Presidente (Adão Silva): — Vamos passar a uma nova declaração política. Para tal, dou a palavra ao
Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, ao Sr. Deputado Pedro Filipe Soares. O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A Sr.ª Ministra da Justiça
anunciou, no início de 2023, que este seria o ano dos oficiais de justiça. Dizia ela que ia haver um estatuto que responderia às injustiças que, durante décadas, sofreram os oficiais de justiça e que iria trazer paz a um setor que tinha estado permanentemente em guerra.
Já passaram 10 meses e, da promessa de apaziguamento que recebemos da Sr.ª Ministra da Justiça, tivemos o proliferar das greves. Houve o adiamento de milhares de diligências e milhões de atos processuais foram colocados em lista de espera. É esta a resposta que a Sr.ª Ministra da Justiça tem para dar ao País, colocando a justiça ainda mais em atraso do que já estava, fruto do Governo do Partido Socialista, para mais no funcionamento de algo fundamental num Estado de direito democrático.
Mas os oficiais de justiça não têm razão? A Sr.ª Ministra demorou tanto tempo a dar-lhes uma resposta porque eles não têm razão? Porque eles têm pretensões que são injustas, que não são percecionadas como razoáveis, sequer?!
Bem, se ouvirmos o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, este diz que os oficiais de justiça têm razão; se ouvirmos a Associação Sindical dos Juízes Portugueses, esta diz que os oficiais de justiça têm razão e são sensatos nas suas propostas; se ouvirmos a Ordem dos Advogados, é-nos dito também que os oficiais de justiça têm razão.
Curiosamente, se ouvirmos a Sr.ª Ministra, ela também nos vem dizer que os oficiais de justiça têm razão, só que, pasmemo-nos, 10 meses depois, o ano dos oficiais de justiça é o ano da luta dos oficiais de justiça, ou o ano das greves dos oficiais de justiça. A Sr.ª Ministra não tem uma resposta para acalmar o setor, pelo contrário, ainda atira lenha para o fogo em que o setor está a lavrar.
É o caos que está instalado e a Sr.ª Ministra é o principal agente deste caos. Porquê? Passou nove meses sem apresentar o estatuto que era pretendido, o qual, segundo ela dizia, ia dar resposta. Apresentou-o, no final do mês de setembro, aos sindicatos e às organizações representativas dos trabalhadores dos oficiais de justiça e, nesse estatuto, incumpre com as suas próprias promessas.
Vejamos uma das mais simples: vai valorizar a carreira dos oficiais de justiça? Não, vai apoucar os oficiais de justiça — alguns deles vão ser despromovidos com a proposta de estatuto que ela está a apresentar. É isto um elogio? É isto uma demonstração de respeito? Não, é um insulto da Sr.ª Ministra aos oficiais de justiça, os mesmos que estiveram na linha da frente no momento difícil da pandemia, os mesmos aos quais são pedidas horas e horas extraordinárias durante todo o ano, para responder aos problemas dos atrasos na justiça. Mas a Sr.ª Ministra não os respeitou, pelo contrário, atingiu-os no seu orgulho, na sua dignidade e na valorização que esperavam que iam ter na sua carreira.
Diz a Sr.ª Ministra: «O futuro vai ser diferente. No futuro, vamos dividir os oficiais de justiça, no novo estatuto, entre técnicos superiores de justiça e técnicos de justiça.» Qual é a diferença? Uns, os técnicos superiores, têm de ter licenciatura e os técnicos de justiça não terão de ter licenciatura. Mas há algum prazo, algum regime transitório? Não. Há alguma valorização da experiência adquirida durante décadas? Não.
Há cargos de chefia, que existem atualmente e que vão ser atribuídos aos técnicos superiores de justiça, que hoje já são exercidos por pessoas que não têm licenciatura. Repito, cargos de chefia, de coordenação, são exercidos por pessoas que não têm licenciatura, que vão ser despromovidas e, mais do que isso, impedidas de