I SÉRIE — NÚMERO 11
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aceder à nova carreira, àquilo que atualmente estão a fazer. Faz isto sentido? Aparentemente, só nos corredores do Ministério da Justiça, porque, nos tribunais, ninguém percebe; no País, ninguém percebe. É por isso que, depois de tantos atrasos nos tribunais, não há uma indignação contra os oficiais de justiça; há uma indignação contra o Governo, porque toda a gente percebe que o problema das greves não está em quem as faz, mas em quem as provoca, e é o Governo que as está a provocar.
Mas vamos a outra promessa da Sr.ª Ministra: dizia ela que é uma vergonha que o atual suplemento de recuperação processual — que, na verdade, é parte da remuneração — não seja pago 14 meses por ano e, não entrando no salário, não conte para a reforma, não conte para períodos de baixa, etc. «É uma vergonha», dizia ela. Disse-o a nós, na 1.ª Comissão, em junho passado. O que é que ela faz?! Não coloca o novo suplemento, a que dá o nome de «suplemento de disponibilidade permanente», no salário. Não! É, mais uma vez, um suplemento. Mas é igual ao anterior? Não, é ainda pior que o anterior, porque vai servir para pagar horas extraordinárias sem limite. Sem limite!
Diz a Sr.ª Ministra que vão receber este suplemento — e agora vou citar —, «sendo obrigados a trabalhar enquanto perdurarem as condições de trabalho que determinarem a sua atribuição,…» — a atribuição deste suplemento — «… havendo a necessidade de exercício efetivo das suas funções». É salário? Não, é suplemento. É para pagar o quê? Horas extraordinárias sem limite. É uma substituição do que a Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas ou o Código do Trabalho deveriam ter para o provimento de horas extraordinárias. Isto é legal? Não, é ilegal! Mas é a proposta da Sr.ª Ministra do quê? Da Justiça!
Quando no Ministério da Justiça não se conhecem as leis, pergunto onde é que neste País se deviam conhecer. É por isso que, do Parlamento para os tribunais, para os oficiais de justiça, dizemos: estamos convosco, a razão está convosco! Por isso, lutem, porque só lutando é que conseguimos ultrapassar esta enormidade, este insulto que é este novo estatuto que a Sr.ª Ministra da Justiça propôs.
Aplausos do BE. O Sr. Presidente (Adão Silva): — O Sr. Deputado tem cinco pedidos de esclarecimento. Como quer
responder? O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, respondo a três primeiro e depois aos outros dois. O Sr. Presidente (Adão Silva): — Sendo assim, o primeiro Deputado inscrito é a Deputada do Grupo
Parlamentar do PSD Paula Cardoso. Tem a palavra, Sr.ª Deputada. A Sr.ª Paula Cardoso (PSD): — Sr. Presidente, antes de mais, queria agradecer ao Sr. Deputado Pedro
Filipe Soares por trazer aqui um problema que, de facto, tem anos e é um insulto mesmo aos oficiais de justiça. Tenho apreciado, nestes últimos meses, que tudo é tema em Portugal, menos o estado deplorável a que
chegou a justiça. Parece que não existe. Não sei a quem aproveita este silêncio, mas há de aproveitar, provavelmente, a alguém.
O que quero aqui dizer — até poderia falar para ali, para a Sr.ª Ministra da Justiça, mesmo ela não estando lá, porque é o que acontece a maior parte das vezes —…
Risos do Deputado do CH Pedro Pinto. … é que a Sr.ª Ministra, afinal, não fez acontecer nada. O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Greves! A Sr.ª Paula Cardoso (PSD): — O que ela fez acontecer foi mais uma mão-cheia de reclamações. O novo
estatuto, ou projeto de estatuto, é uma espécie de presente envenenado para os trabalhadores da justiça, coisa que estes já perceberam.