I SÉRIE — NÚMERO 11
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comunidade internacional deve assistir impávida ou, até, aplaudir que uma prisão a céu aberto se transforme num campo de extermínio a céu aberto.
Pergunto-lhe, por último, se concorda com o Secretário-Geral das Nações Unidas de que deve haver um cessar-fogo imediato para que uma solução negociada que respeite os dois Estados e, portanto, a existência do Estado da Palestina, possa ser a alternativa ao terror que tem acontecido numa situação que foi desencadeada desde a ocupação ilegal da Palestina pelo Estado de Israel e em relação à qual já foram cometidos vários crimes de guerra, entre os quais o apartheid, limpeza étnica e um conjunto de massacres de civis.
Pergunto-lhe, por último, se não considera que no conflito que divide Israel e Palestina se deve evitar que se jogue a lama do terror — não apenas a do Hamas, mas a lama de qualquer terror —, de massacres contra civis, venham eles de onde vierem?
Aplausos do BE. O Sr. Presidente: — Para um pedido de esclarecimento em nome do PCP, tem a palavra o Sr. Deputado
Bruno Dias. O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Alexandre Poço, a nossa
primeira palavra é de profundo pesar pelas vítimas desta tragédia. A perda de vidas humanas, os milhares de civis mortos, feridos ou estropiados, as populações deslocadas e
desalojadas merecem a nossa solidariedade e, acima de tudo, merecem respeito. O que está a acontecer perante os nossos olhos, e que, enquanto falamos, se torna cada vez mais grave,
exige uma resposta da nossa parte que não sejam insultos e acusações ou, pior ainda, o apelo a mais massacres e mais mortes.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Incrível! O Sr. Bruno Dias (PCP): — A nossa responsabilidade, enquanto País, deve ser a de contribuir para que esta
tragédia tenha um ponto final, para que acabe esta escalada de guerra. O PCP sempre se distanciou de ações de violência que visam as populações e que não servem à causa do
povo palestiniano. Sempre condenámos a violência sobre civis. Sobre esta questão importa não esquecer que Israel tem muitas contas a prestar na sua prática de ocupação,
violência e guerra, como é visível nos últimos dias. Podíamos perguntar pela indignação — onde estava há três meses? —, quando o campo de refugiados de Jenin foi bombardeado e invadido; ou há seis meses, e há um ano e há quinze anos, quando a faixa de Gaza foi bombardeada, outra e outra vez. Ou, no ano passado, quando a ONU registou o maior número de sempre de palestinianos mortos na Cisjordânia pelas forças de ocupação israelitas. Ou, ainda, perante os assassinatos cometidos por um exército de ocupação ou por grupos de colonos que, até hoje, continuam impunes.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Que vergonha! O Sr. Bruno Dias (PCP): — Nas prisões de Israel estão muitas crianças palestinianas,… O Sr. Pedro Pinto (CH): — Terroristas do Hamas! O Sr. Bruno Dias (PCP): — … mas não estão, ainda hoje, os assassinos da jornalista Shireen Abu Akhle. Srs. Deputados, esta tragédia, na verdade, tem 75 anos, dura há demasiado tempo e tem de parar. Mas não
vai parar enquanto continuar a negação dos direitos do povo palestiniano, o direito à vida, à liberdade, à dignidade, enquanto continuar a violação do direito internacional por parte de Israel, enquanto continuar a ocupação e a colonização ilegal da Palestina.
A pergunta é muito concreta: considera que é possível haver paz sem uma solução política que garanta a concretização do direito do povo palestiniano a um Estado soberano e independente e que aplique as resoluções