I SÉRIE — NÚMERO 11
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A Europa tem uma responsabilidade histórica na génese deste conflito, porque é no antissemitismo que tivemos desde tempos imemoriais, é no seu recrudescimento no século XIX e é no Holocausto que estão uma boa parte das raízes desta tragédia que se desenrola todos os dias à nossa frente. E é também quando a Europa decidiu «vocês, agora, chegam-se mais para aqui; vocês, agora, vão para ali», pensando que a era colonial, que estava a acabar, ainda poderia ser reiniciada por europeus. Vemos os resultados à nossa frente.
Queria perguntar-lhe o que sentiu e como se posiciona em relação às declarações do Comissário Olivér Várhelyi, que sem consultar o Colégio de Comissários e o Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros, que reunia no dia seguinte, decidiu anunciar sozinho que estava suspenso todo o apoio europeu à Autoridade Nacional Palestiniana e às organizações da sociedade civil palestiniana, apoio esse auditado e fiscalizado, precisamente para que não caia em mãos erradas; qual é a posição do PSD, que espero sinceramente que seja…
O Sr. Presidente: — Tem de terminar, Sr. Deputado. O Sr. Rui Tavares (L): — … de que esse apoio não só se deve manter, como se deve reforçar no sentido de
construir o Estado palestiniano,… O Sr. Filipe Melo (CH): — Estamos desgraçados! O Sr. Rui Tavares (L): — … com a autodeterminação daquele povo, que é uma das vias de saída deste
conflito, que parece eterno, mas não o será. O Sr. Presidente: — Para formular o pedido de esclarecimento em nome do Grupo Parlamentar do PS, tem
a palavra o Sr. Deputado Pedro Delgado Alves. O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, as primeiras palavras do Grupo
Parlamentar do Partido Socialista são claras, de inequívoca e sentida condenação dos acontecimentos do passado sábado, que devem, sem qualquer margem para qualquer dúvida ou ambiguidade, serem merecedores de repúdio unânime de qualquer pessoa civilizada em qualquer local do mundo, e esse é o ponto deste debate.
Aplausos do PS. Obviamente, podemos discutir outras coisas, podemos discutir a história do território, podemos remontar ao
imperador Tito ou às Cruzadas e encontrar raízes históricas ainda mais profundas do que aquelas que o Sr. Deputado Rui Tavares aí enunciava. Podemos fazer esse exercício histórico.
Não adiantará 1 cm de território a ninguém, não salvará uma vida a ninguém e vem só confirmar a frase do antigo Primeiro-Ministro de Israel, Ben-Gurion, que dizia que há um problema fundamental que o Estado de Israel e os seus vizinhos enfrentam: «muita história para pouca geografia».
Agora, o que aqui dissermos, neste debate, não vai, no imediato, resolver nenhum conflito. Esta noite, quando acabarmos o nosso debate, vamos para as nossas casas, vamos colocar as nossas filhas, as nossas crianças nas suas camas e vamos dormir descansados, tranquilos.
Isto porque não vamos passar a noite sem saber se nos vai cair um rocket em cima da cabeça, não vamos passar a noite sem saber se, eventualmente, uma ação de retaliação nos vai privar das nossas existências, como vão as famílias que, esta noite, em Telavive, em Gaza, na Cisjordânia, vão passar a incerteza de não saberem se estarão vivas no dia de amanhã. Todas elas, dos dois lados.
Para nós, é facílimo fazer este debate — amadores, todos nós! Retórica fácil, como se aqui resolvêssemos os problemas do mundo!
Tenhamos um bocadinho de noção do momento, um bocadinho mais de humildade, porque não são as nossas vidas que, esta noite, vão estar em risco quando formos para casa,…
A Sr.ª Susana Barroso (PS): — Muito bem!