I SÉRIE — NÚMERO 14
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A Sr.ª Jamila Madeira (PS): — Por isso mesmo acreditamos que, neste Conselho, a serenidade e a análise
concreta de quem soube, como os pares europeus souberam, reagir a uma só voz perante a guerra da Ucrânia
lhes permitirá agora saber reagir aos ataques bárbaros que se vivem no conflito do Próximo Oriente, reagindo
também a uma só voz. E reagiremos a uma só voz porque onde há um inocente, onde há uma vítima, onde há
um abuso de posição dominante, onde há desrespeito pelas vidas humanas a União Europeia tem de reagir a
uma só voz e condenar da forma mais veemente e enfática que puder.
Por isso, em nome da paz e pela paz e pelo direito à integridade territorial, a União Europeia sempre falou a
uma só voz. Aquando da guerra da Ucrânia, fê-lo, e, agora, pelo respeito pela ordem internacional, pelo respeito
pelos compromissos internacionais e pela proteção dos civis de parte a parte, também temos de continuar a
falar a uma só voz.
Também sabemos que a guerra — as guerras, qualquer guerra! — tem efeitos nefastos, muito nefastos para
as economias do mundo. E tem-nos, naturalmente, para os países da União, muito em particular para os seus
cidadãos, na questão da energia, na questão da inflação e em muitas outras, mas não podemos aceitar que, em
algum momento, os nossos pares, quem quer que eles sejam, queiram substituir o caminho do desenvolvimento
justo pelo caminho da economia de guerra.
Não, esse não é o nosso caminho, esse não é o caminho da União Europeia, e, por isso, estou certa de que
o seu contributo, o contributo de Portugal, é aquele que ajudará a União Europeia a definir que escolhe sempre
o caminho da justiça e da paz, da proteção dos mais frágeis, pois precisamos de continuar a assegurar que
temos todos os instrumentos humanos, energéticos e financeiros que nos permitam assumir as rédeas daquilo
que queremos e acreditamos como justo para o mundo.
Sim, porque o modelo social europeu é o modelo mais ambicionado em todos os cantos do mundo, e por
isso é que todos tentam atravessar, não importa como, para chegar à União Europeia; por isso é que vivemos
também um processo de crise migratória às nossas portas, porque é aqui que querem chegar. E nós,
portugueses — com tantos e tantos portugueses que foram para fora, nós que temos uma das maiores diásporas
pelo mundo —, temos de perceber, e de ajudar outros a perceber, que esse direito de querer mais e melhor para
os seus e de querer mais e melhor para os seus territórios é possível, está ao alcance e também caberá à União
Europeia ajudar a construir.
O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, tem de concluir.
A Sr.ª Jamila Madeira (PS): — Termino, Sr. Presidente.
Por isso, Sr. Primeiro-Ministro, acredito que a sua voz, a voz de um líder experiente e, sobretudo, de um líder
pacifista e solidário ajudará a fazer a diferença neste Conselho.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra, para responder, o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas Rosário Gambôa e Jamila Madeira, para que
não restem dúvidas, vou repetir: nós condenamos inequivocamente os ataques do Hamas a Israel;
reconhecemos o direito de Israel a defender-se militarmente contra o Hamas; entendemos que Israel, na sua
defesa, tem de respeitar o direito internacional e o direito humanitário; entendemos que o bloqueio que existe
na Faixa de Gaza não cumpre e não respeita o direito humanitário; e entendemos que é fundamental haver um
cessar-fogo, haver a criação de corredores de segurança, haver reforço do apoio humanitário.
No que diz respeito à União Europeia, a voz unificada foi definida, no domingo, na carta conjunta dos chefes
de Estado e do Governo, que todos assinámos. Aí, definimos esta posição como sendo a posição comum,
corrigindo uma posição errada adotada por um membro da Comissão Europeia e ajustando aquela que era a
posição da União.
A posição da União tem de ser a uma só voz e não pode ter uma duplicidade de critérios, porque, para nós,
a violação do direito internacional é tão relevante na Ucrânia como em Israel, na Faixa de Gaza ou em qualquer
outro ponto do mundo. Se a Europa quer ser respeitada globalmente tem de se dar ao respeito, e, para isso,