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I SÉRIE — NÚMERO 21

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Aplausos do PS. O Sr. Presidente: — O Sr. Secretário de Estado tem um pedido de esclarecimento, mas não tem tempo

para responder. Pergunto se o Bloco de Esquerda mantém o pedido. O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Passa a intervenção, Sr. Presidente. O Sr. Presidente: — Fará antes uma intervenção. Então, temos primeiro a inscrição do Sr. Deputado Rui Tavares, do Livre, que tem a palavra, para uma

intervenção. O Sr. Rui Tavares (L): — Sr. Presidente, o Sr. Secretário de Estado teve, ainda há pouco, aquilo que me

pareceu ser um lapsus linguæ, quando disse que tínhamos de regular como é que as universidades cobram por este serviço.

Se não é um lapso, é uma enorme diferença de entendimento entre a bancada do Livre e a bancada do Governo, porque aquilo que as universidades prestam não é um serviço, ou não é apenas um serviço. O que as universidades fazem é estarem integradas numa missão que beneficia todo o País.

Não é um indivíduo, um consumidor, que vai pagar um serviço. É alguém que esteve, durante anos, a fazer uma tese de mestrado; é alguém que esteve, durante anos, a fazer o doutoramento, que esteve na precariedade, que deixou passar oportunidades porque se quis qualificar — e essa sua qualificação é boa para o País. E, quando chega ao fim da meta da maratona, dizem-lhe: «Paga mais isto, mais X, aqui o dobro, ali três vezes mais, para poderes defender a tese em que, durante anos, estiveste a trabalhar.»

Ora, o que devíamos fazer é exatamente o contrário, como, aliás, o Livre propôs, desde o início desta Legislatura. Propusemos que quem tem um plano de formação credível tenha apoio do Estado e possa até ter acesso ao subsídio de desemprego, para terminar aquela tese de mestrado ou de doutoramento, que depois nos vai beneficiar a todos, porque é a única maneira de este País subir na escala de valor e pagar salários mais altos, que depois dão impostos que permitem ter serviços públicos de excelente qualidade e uma segurança social muito mais reforçada. Lamento que, no fim desta Legislatura, nunca tenhamos conversado sobre isto.

Aliás, lamento também que nunca tenhamos conversado a sério sobre a reforma do modelo de financiamento do ensino superior, sem a qual este País não será nunca um País justo, porque acaba por ser um País onde a direita — em particular os liberais — se queixa muito dos impostos, mas onde a maior parte dos impostos vai beneficiar os que já são mais ricos. Os serviços públicos, inclusive a universidade, vão beneficiar os que já são mais ricos, quando deveríamos ter um sistema de financiamento da universidade que passasse por um tripé, em que uma parte da atividade económica, dos impostos que sobre ela são recolhidos, servisse para os laboratórios, as bibliotecas, os edifícios de futuro, num fundo estratégico de financiamento do ensino superior. O Orçamento do Estado pagaria as despesas correntes e haveria, através da fiscalidade daqueles que são mais ricos, daqueles que estão no percentil mais alto de rendimento, a criação de um fundo de apoio aos estudantes de ensino superior, para pagar as bolsas, para pagar os refeitórios, para pagar as despesas com livros, para pagar as despesas de deslocação.

Creio que todos, como a grande maioria de nós que aqui estamos e que beneficiámos do ensino superior público, se estivermos num escalão mais alto de rendimentos, teríamos um grande orgulho e uma grande vontade de ajudar quem agora chega à universidade e precisa da nossa ajuda para poder estudar.

Para quem chega à universidade — e é, se calhar, o primeiro filho ou a primeira filha da sua família a fazê-lo —, hoje em dia, a triste verdade é que, porque nunca discutimos a sério um modelo de financiamento que permitiria abolir as propinas, muitas destas pessoas vão ficar pelo caminho. É mau para elas, mas é péssimo para o País como um todo.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, em nome do Bloco de Esquerda, tem a palavra a

Sr.ª Deputada Joana Mortágua.