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I SÉRIE — NÚMERO 39

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O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — … e, por isso, a Iniciativa Liberal quis escolher para a ordem do dia

um tema que tem tanto de importante como de simbólico, o papel do Estado e o respeito pelo contribuinte. Ao longo das últimas décadas, sucessivos Governos, quase todos do PS, revelaram arrogância e até

prepotência na sua relação com os cidadãos. Revelaram arrogância ao colocar o Estado no centro de toda a vida económica, social e cultural do País, e revelaram prepotência ao tratar o contribuinte, melhor dito, ao tratar as pessoas com uma crescente falta de respeito.

É boa altura, agora que se encerra a Legislatura, de relançar este debate, que não radica apenas nestas questões que eu chamaria «de decência democrática», radica igualmente nos motivos pelos quais Portugal é incapaz de crescer económica e socialmente de forma sustentada.

É boa altura para relembrar a todos os decisores, na política e na Administração Pública, a todos os que decidem, executam ou avaliam políticas públicas que o dinheiro não é do Estado, é das pessoas.

O Sr. Rodrigo Saraiva (IL): — Muito bem! O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — É triste que, no ano do cinquentenário do 25 de Abril e em plena

terceira década do século XXI, ainda haja necessidade de repetir aquilo que deveria ser, há muito, uma verdade indesmentível: o dinheiro não é do Estado, o dinheiro é das pessoas.

Aplausos da IL. Todos os dias, mês após mês, ano após ano, assistimos a situações que demonstram que se enraizou a

convicção contrária, a convicção de que o dinheiro é do Estado, um Estado que não presta contas das suas decisões nem da qualidade dessas decisões, nem do seu impacto na vida das pessoas e no desenvolvimento do País.

Não se pense que são situações esporádicas ou circunscritas. Em todos os domínios em que um Estado toma decisões sobre o dinheiro das pessoas encontramos numerosos exemplos de falta de planeamento, falta de respeito por calendários, falta de respeito por orçamentos, falta de transparência, falta de competência, falta de monitorização e de avaliação, e uma assustadora falta de cultura de responsabilização. Este é o Estado que temos, e este Estado que temos é um obstáculo ao crescimento do País.

Aplausos da IL. Primeiro, este é o Estado que temos quando olhamos para as empresas públicas: há — pasme-se! — cerca

de 400 empresas públicas em Portugal, entre as 150 detidas pela administração central e as quase 250 nas administrações locais e regionais.

Estas empresas receberam, em média, desde 2015, todos os anos, quase 3000 milhões de euros em dotações de capitais, a que acrescem ainda várias centenas de milhões de subsídios, indemnizações compensatórias e empréstimos. Para quê? Ninguém sabe muito bem.

Um terço dessas empresas está em falência técnica, quase metade não teve as suas contas aprovadas em 2021, e quase todas continuarão, nos próximos anos, a ser um sorvedouro de dinheiro que — lá está! — não é do Estado, é das pessoas, mas que trata com total irresponsabilidade. Não sou eu que o digo, está tudo no último relatório do Conselho das Finanças Públicas, basta ler.

Segundo, este é o Estado que temos quando olhamos para as empresas participadas indiretamente pelo Estado, nomeadamente através da Direção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF) e da PARPÚBLICA: são mais algumas centenas de participações, umas grandes, outras pequenas, umas relevantes, outras ridículas; se alguém perguntar para que serve qualquer uma delas, ninguém sabe muito bem, mas também ninguém parece muito interessado em tentar saber.

A falta de transparência é gritante. Repare-se, foi precisa esta polémica da semana que passou sobre os 0,24 % de participação nos CTT (Correios de Portugal) para a PARPÚBLICA vir, finalmente, publicar o ficheiro com as participações completas. Aconteceu quando? Ontem, às 15 horas e 55 minutos — abençoado escrutínio!