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I SÉRIE — NÚMERO 39

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— deveriam estar a fazer soar campainhas e a suscitar a discussão sobre as melhores opções técnicas em defesa do dinheiro; o tal que não é do Estado, é das pessoas. Não discutir eventuais alternativas é mais uma falta de respeito.

Quinto, este é o Estado que temos quando olhamos para as empresas concessionárias de bens ou serviços públicos: nos CTT, de que já falámos, na REN (Redes Energéticas Nacionais, SGPS, SA), na ANA (Aeroportos de Portugal) e nas concessões rodoviárias há inúmeros exemplos de negociações mal feitas, decisões erráticas, rescisões incompreensíveis, que não só maltratam o dinheiro das pessoas como limitam as opções de defesa do interesse comum. É mais uma forma de não respeitar o dinheiro das pessoas.

O Sr. Rodrigo Saraiva (IL): — Muito bem! O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Sexto, este é o Estado que temos quando olhamos para os serviços

públicos: o próprio Primeiro-Ministro já assumiu que se tem simplesmente atirado dinheiro para cima dos problemas sem atacar a origem desses mesmos problemas.

A saúde não é o único exemplo, mas é o melhor e o mais gritante. Gastam-se hoje mais 6000 milhões de euros, mais 60 %, na saúde do que há oito anos, e é por todos reconhecido — exceto pelo PS, que está em estado de negação — que a qualidade do serviço caiu, claramente. Atirar dinheiro para cima dos problemas sem os resolver é mais uma forma de tratar o dinheiro como se fosse do Estado, quando ele é das pessoas.

O Sr. Rodrigo Saraiva (IL): — Muito bem! O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Sétimo, este é o Estado que temos quando olhamos para a aplicação

dos fundos europeus: quer se trate de fundos estruturais, quer se trate do recente PRR, encontramos o mesmo padrão de falta de avaliação concreta dos impactos.

Desde a adesão à CEE (Comunidade Económica Europeia), Portugal já recebeu — atentem bem! — 160 mil milhões de euros de fundos europeus. A preços constantes, meus senhores, isto é mais de 100 % do PIB (produto interno bruto) anual. Para onde foram? Que crescimento estrutural providenciaram? Ninguém sabe, ao certo.

Aqueles que pensam que os fundos europeus, designadamente das subvenções, é dinheiro de graça, que não é para pagar, desenganem-se. As receitas da União Europeia provêm esmagadoramente das contribuições dos Estados-Membros, ou seja, dos impostos dos seus cidadãos; mais tarde ou mais cedo, a conta é paga por eles.

Não há dinheiro do Estado, só há dinheiro das pessoas. O Sr. Rodrigo Saraiva (IL): — Muito bem! O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Oitavo e último, este é o Estado que temos quando olhamos para o

total da despesa pública: no Orçamento de 2024, a despesa pública prevista atinge o montante gigantesco de 123 mil milhões de euros.

Em quase todas as audições, na especialidade, do Orçamento, a Iniciativa Liberal perguntou quais as evidências de que as centenas de planos, programas, estratégias e similares estavam a produzir os efeitos desejados. Ninguém nos respondeu! Numa das audições, mandaram-me ver os estudos produzidos pelo PlanAPP (Centro de Competências de Planeamento, de Políticas e de Prospetiva da Administração Pública). Fui ver, mas não está lá nada.

Não encontrei lá nada que confirmasse que nas políticas públicas pagas com o dinheiro das pessoas este esteja a ser bem gasto e a atingir os objetivos supostamente fixados à partida. Não admira, porque o PlanAPP, na sua rede RePLAN (Rede de Serviços de Planeamento e Prospetiva da Administração Pública), tenta coordenar 27 entidades que fazem planeamento na Administração Pública, cada uma na sua quintinha. É, obviamente, ingerível.

Portanto, da próxima vez que alguém vos perguntar como se aumenta a eficácia da despesa pública, basta citar este número: 123 mil milhões de euros estão a ser gastos em Portugal, na sua maior parte sem controlo, sem avaliação de impacto, sem consideração de alternativas. Isto não é respeitar o dinheiro das pessoas.