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13 DE DEZEMBRO DE 1986

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compreende que o seu povoamento tenha origens remotas, como o atestam vestígios arqueológicos encontrados e um património construído onde se adivinham elementos românticos e góticos.

Constituída pelas freguesia de Ataíde, Oliveira e Real, Vila Meã deve o seu nome a um pequeno lugar central, onde esteve sediado o concelho e comarca de Santa Cruz de Riba Tâmega. A povoação foi crescendo em torno deste núcleo primitivo e estendeu-se ao longo da estrada pombalina, absorvendo lugares periféricos. A sua localização, o pequeno comércio, as hospedarias e a realização de feiras quinzenais fizeram de Vila Meã um pólo de atracção para as populações vizinhas. Com a extinção do concelho e a substituição da estrada pombalina pela estrada real (hoje estrada nacional n.° 15), Vila Meã estagnou e cairia em rápido declínio não fosse o seu atravessamento pela linha férrea do Douro, que lhe deu estação própria e proporcionou aos seus habitantes um meio de transporte rápido e económico e lhes permitiu um contacto mais frequente com o resto do País e principalmente a cidade dc Porto. Permitiu também a sua fixação, quer pela criação directa de postos de trabalho, ainda hoje importante, quer pelo desenvolvimento de novas actividades económicas.

Da indústria artesanal de mortalhas de palha de milho passa-se à exportação de toros de pinho para as minas inglesas, do incipiente comércio agrícola passa-se aos grandes armazéns de cereais e vinho.

A melhoria da rede viária e mais recentemente as remessas de emigrantes e a indústria têxtil deram um novo impulso à povoação, provocando a sua transformação de um pequeno aglomerado no segundo maior centro urbano do concelho, logo a seguir ao da cidade de Amarante. Novos bairros foram construídos, lugares ainda há poucos anos afastados cresceram e se interligaram, dando a Vila Meã uma continuidade urbana que o plano de urbanização em execução certamente irá ainda mais ordenar e ampliar.

Com uma área total de cerca de 10 km2, Vila Meã tem 3512 eleitores.

Breve resenha histórica.

Vestígios arqueológicos de origem romana encontrados em Ataíde e Real, hoje pertencentes ao Museu Etnográfico do Porto e a particulares, informam-nos de que Vila Meã já era povoada nesses remotos tempos.

O rio Odres constituiu durante a Alta Idade Média a fronteira entre as dioceses do Porto, a ocidente, e de Braga, a oriente (cf. doe. n.° 15 do Liber Fidei, datado de 1 de Janeiro de 572), enquanto Ataíde seria, segundo alguns autores, uma quinta pertencente a Atanagildo, rei ou nobre visigodo. Após a reconquista cristã, Ataíde pertenceu aos descendentes de D. Moni-nho Viegas, conquistador do Porto, que adoptaram o toponímico e deram origem à nobre família dos Ataídes.

A povoação de Vila Meã formou-se numa villa agrária primitiva, talvez da época romana, ou pelo menos de alguns séculos antes da nacionalidade. Mas a história de Vila Meã está intimamente ligada à história do concelho de Santa Cruz de Riba Tâmega.

Riba de Tâmega designava, na Idade Média, uma vasta zona marginal do rio Tâmega, onde se localizavam várias «terras» ou julgados medievais. Na parte ocidental encontrava-se a «terra» de Santa Cruz de

Riba Tâmega, à qual sucedeu um concelho cujo termo se estendia desde o rio Tâmega, a nascente, até ao rio Sousa, a poente. Daí a razão de por vezes surgir a designação de Santa Cruz do Sousa.

Pelas Inquirições de 1258 constata-se que o concelho se compunha das seguintes freguesias: Ataíde, Figueiró, Fregim, Louredo, Mancelos, Real, Oliveira, Santa Cristina, Travanca, Vila Caiz, Banho, Carvalhosa, Constance, Santo Isidoro, Toutosa, Castelões, São Mamede de Recesinhos, São Martinho de Recesinhos, Alentem, Caíde de Rei, Torno, Aião, São Julião de Paços, Santa Maria de Vilar e São Martinho de Arano. Embora o ópido originário desta «terra» se situasse possivelmente no monte de Santa Cruz, a sede do concelho era, pelo menos desde o século xiu, Vila Meã.

As mesmas Inquirições referem a existência de um «maiordomus Ville Mediane» e de Vila Meã na paróquia de «ecclesie Sancíi Salvadores» (Real) como cabeça de julgado ou «terra», o que quer dizer que aí havia organização municipal. Para além do mordomo da terra, as ditas Inquirições referem ainda um casal com funções de peitar a voz-e-coima (multa criminal), fornecer pregoeiro ao concelho, levar conduto ao castelo de Santa Cruz e dar à Coroa, por ano, uma espádua, um cabrito e uma galinha.

Pela Lei dos Tabeliães de 1290, do rei D. Dinis, verifica-se que é desconhecido o número de tabeliães do concelho e o imposto que teriam de pagar ao rei. Para inquirir o assunto foi encarregado o almoxarife de Guimarães.

Santa Cruz de Riba Tâmega teve foral, dado por D. Manuel I no dia 1 de Setembro de 1513. Este foral, como outros concedidos pelo Rei Venturoso, não pretendia revigorar a autonomia municipal, não passando de um registo actualizado com as isenções e os encargos fiscais.

O P.e António Carvalho da Costa (1650-1715) dá--nos informações completas na sua Corografia Portuguesa. Por esta obra ficamos a saber a composição do concelho, diferente da verificada no século xui e com menos quatro freguesias. Oliveira não aparece, talvez por engano, assim como Santo Isidoro, Toutosa, Alentem, Tomo e São Martinho de Arano; em contrapartida surgem São Veríssimo de Amarante e Santo Adrião de Santão. O número de vizinhos era de 3769 e o senhor da terra o conde de Sabugal.

Quanto à administração, a Corografia refere um juiz ordinário, feito pelo povo, dois vereadores e procurador do concelho, confirmados pelo conde, que tinha ouvidor, quatro tabeliães do concelho e coutos, juiz dos órfãos e sisas, meirinho, que era carcereiro, distribuidor, inquiridor e contador, que o rei apresentava.

Em termos económicos, refere o P.e António Carvalho da Costa que o concelho tinha cereais, vinho, castanhas e caça abundante e variada. Tinha feira duas vezes por mês, todas as primeiras quintas-feiras e dias 13; no dia de Santo António havia uma feira de gado.

D. José I, por provisão de 1 de Julho de 1776, desligou o concelho da comarca de Guimarães e uniu-o à de Penafiel, mas posteriormente voltou a ser comarca independente. O marquês de Pombal mandou construir a Estrada do Vinho do Porto, que atravessou Vila Meã, onde tinha casa de pousada.

Vila Meã foi cenário de escaramuças entre a guerrilha minhota, auxiliar das tropas avançadas do gene-