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II SÉRIE — NÚMERO 37

Outras intervenções de fundo assinalaram a abertura do Congresso. Destaque, todavia, para a comunicação de Norberto Lopes, decano dos jornalistas, que, falando em nome da comissão de honra do Congresso, disse que «a febre de sensacionalismo que se apoderou do jornalismo dos nossos dias» atraiçoa «a consciência que os jornais devem ter das suas responsabilidades e do respeito que devem a si próprios e aos seus leitores».

Os trabalhos do Congresso começaram apenas no dia 20, dividindo os cerca de 800 jornalistas presentes por quatro secções. Numa delas Jacinto Baptista analisou a liberdade de informar face à dependência salarial do jornalista. Botelho da Silva, também do Diário Popular, falou das novas técnicas de comunicação e do papel que cabe ao jornalista numa profissão cada vez mais computadorizada. Noutra secção discutiu-se o ensino do jornalismo em Portugal e o acesso profissional reservado aos jovens, sobretudo aos licenciados a formar. As condições de trabalho da classe foi o tema central da primeira comunicação de António Santos, presidente do Sindicato. Também estiveram em discussão o controle político da informação e o papel dos conselhos de redacção.

Na segunda sessão esteve em destaque o jornalismo e a sua relação com a política.

Os temas levados a debate pelos autores das numerosas comunicações abarcaram ainda os mais diversos aspectos, desde a cultura ao fotojornalismo, da caricatura na imprensa à formação dos quadros jornalísticos nos países africanos de expressão portuguesa, das relações com a informação internacional aos problemas que afectam os jornalistas das regiões autónomas e da imprensa regional.

O último dia foi o da sessão de encerramento e das conclusões, donde consta a recomendação do Congresso do Sindicato para a realização bienal de encontros idênticos. Vejamos alguns dos pontos principais dessa declaração final:

Defender a uberdade de expressão e o direito à informação, com repúdio por todas as formas de censura;

Lutar pela dignidade do exercício da profissão, exigindo o respeito pelos princípios consagrados no Estatuto do Jornalista e no código deontológico, cujo reconhecimento legal é imperativo;

Defender o livre acesso às fontes de informação, que algumas autoridades violam frequentemente, chegando à agressão física de profissionais;

Repudiar todas as formas de pressão económica, particularmente a imposição de regimes precários de contratação, que condicionam o exercício pleno da actividade do jornalista;

Apoiar a criação do ensino superior de jornalismo, de centros de formação profissional permanente e de cursos de reciclagem que permitam a correcta utilização das tecnologias com salvaguarda dos postos de trabalho;

Defender uma nova ordem internacional da informação que supere os desequilíbrios existentes nos fluxos de matéria informativa;

Fomentar as relações internacionais, com particular destaque para os países de língua oficial portuguesa e a cooperação no campo profissional.

O I Congresso dos Jornalistas, que foi considerado um êxito pelo SJ, serviu de palco àquele Sindicato para a assinatura de alguns contratos com organizações de profissionais estrangeiros da informação que se deslocaram a Portugal. Foram assinados acordos de cooperação e amizade com a Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais do Brasil, Federação dos Jornalistas Árabes, Federação das Uniões de Jornalistas de Espanha e Organização dos Jornalistas de Cabo Verde. Foram mantidos também contactos com as organizações de jornalistas de Angola, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe com vista ao estabelecimento de acordos idênticos.

Os acordos assinados prevêem que as organizações neles envolvidas se comprometam a intensificar a cooperação entre si ao nível da troca de informações e na defesa da liberdade de informação. «A defesa da promoção social dos jornalistas e o livre exercício da sua profissão» foram outros aspectos também contemplados.

Isto foi o I Congresso dos Jornalistas e o pano de fundo que o envolveu. Mas 1983 começou com a guerra negocial entre o Sindicato dos Jornalistas e a Associação da Imprensa Diária em torno do contrato colectivo. Logo em Janeiro a negociação entrava por caminhos difíceis: o Sindicato propunha um aumento salarial médio de 29,5% (considerado indispensável para repor o poder de compra dos jornalistas), ao que a AID contrapunha 16%, limite considerado «inegociável».

Em meados de Janeiro uma assembleia geral do Sindicato dos Jornalistas verberava a atitude da AID, que era classificada como «uma clara falta de consideração pelos jornalistas e uma grosseira violação das mais elementares normas de conduta social».

Enquanto isto, no Porto os jornalistas do Jornal de Notícias faziam no dia 19 uma greve de 24 horas pela reintegração de um camarada despedido, Alípio Ferreira.

Em O Primeiro de Janeiro, também no Porto, vinha à luz um processo que viria a dar que falar. Nos primeiros dias de Março os trabalhadores (46 dos quais jornalistas, num total de 360) ainda não tinham recebido o salário de Fevereiro e metade do 13.° mês em falta. A crise económica em que a empresa se encontrava mergulhada foi considerada «transitória» durante uma reunião entre a administração, direcção, conselho de redacção e trabalhadores de todos os sectores de O Primeiro de Janeiro. Situação «transitória» que não impediu o administrador de aludir aos «riscos de eventuais soluções de ruptura».

Em Março, com o contrato colectivo ainda por negociar, iniciava-se o processo eleitoral pela direcção e restantes corpos gerentes do Sindicato dos Jornalistas. Duas listas frente a frente: a A, sob a sigla «Defender a liberdade, dignificar a profissão», proposta pela direcção cessante e contando entre os seus elementos com os nomes de Vítor Santos, Maria João Duarte, Mário Zambujal, António Santos, José Luís Fernandes e Manuel Tavares e a B, com a sigla «Dignificar o jornalismo, relançar o Sindicato», proposta por um grupo de jornalistas, entre os quais Cáceres Monteiro, Adelino Gomes, Silva Costa, Óscar Mascarenhas, Manuel Beça Murias e Fernando Dacosta.

A poucos dias da realização do acto eleitoral, o Diário Popular realizou um inquérito aos dois candidatos à presidência da direcção do Sindicato dos Jornalistas, António Santos e Cesário Borga.