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II SÉRIE — NÚMERO 37

De 27 para 28 de Junho o Sindicato dos Jornalistas fazia vigília junto à sede da AID, convidando-a a negociar. Após 36 horas de permanência no local, três representantes da AID reuniram, «por cortesia», com o presidente do Sindicato, Cesário Borga, não tendo, contudo, sido ultrapassada a situação.

No dia seguinte os jornalistas pronunciavam-se, por voto secreto, sobre a realização de uma greve de cinco dias, a concretizar até 17 de Julho. Os resultados foram favoráveis à proposta do Sindicato e a greve foi marcada de 11 de Julho em diante, por cinco dias. Ao mesmo tempo o Sindicato era mandatado para até àquela data procurar um acordo com a AID «para se conseguir o aumento pretendido pela classe sem ser necessário o recurso à paralisação».

Uma fonte próxima do Primeiro-Ministro, citada pela agência NP, afirmava então que o Governo estava na disposição de intervir no conflito por «compreender a justiça das reivindicações dos jornalistas» e pretender «evitar a agudização do conflito».

Quanto aos resultados do referendo, dos 460 jornalistas que votaram em Lisboa, Porto e por correspondência, 289 manifestaram-se a favor da realização da greve (62,8%), 134 contra (30,8%), e registaram--se 33 votos brancos e 3 nulos. Segundo elementos sindicais, jornalistas conotados com o PCP apelaram à não participação no escrutínio, o que foi vivamente criticado pela direcção do SJ.

Ao mesmo tempo também os trabalhadroes da imprensa e agências noticiosas decidiam a marcação de uma greve pelos mesmos motivos que haviam levado os jornalistas a tomar idêntica decisão.

Em 7 de Julho dava entrada no Ministério do Trabalho o pré-aviso de greve do Sindicato dos Jornalistas para cinco dias de paralisação, com a possibilidade de as agências noticiosas a iniciarem doze horas antes.

A greve seria desconvocada, à última hora, a 10 de Julho, quando o Sindicato dos Jornalistas aceitou uma proposta de aumento de 19% da AID, após uma reunião no Ministério do Trabalho, com o presidente da AID, Ruela Ramos, o Secretário de Estado do Trabalho, Custódio Simões, e o director-geral de Informação, Manuel Figueira. Os 19% eram acordados com retroactividade a 1 de Janeiro e efeitos sobre as horas extraordinárias, trabalho nocturno e subsídios anexados à tabela salarial. O acordo, assinado então por Ruella Ramos, era ratificado alguns dias mais tarde pela Associação.

Mais ou menos pela mesma altura, a Federação dos Sindicatos da Celulose, Gráfica e Imprensa e o Sindicato dos Jornalistas assinavam um protocolo de cooperação sindical. As duas organizações acordaram em analisar regularmente a situação do sector da imprensa, «procurando, em clima de cooperação e fraternidade sindical, encontrar formas de acção comum que possam contribuir para a aproximação entre os trabalhadores das empresas jornalísticas e para a resolução dos diversos problemas que se coloquem».

Enquanto o processo de negociação contratual dos jornalistas caminhava para um epílogo mais ou menos feliz, despontava na cena o «caso EPNC». Em Junho um administrador da empresa, Vieira de Sousa, dava uma entrevista ao Correio da Manhã na qual dava uma «imagem da EPNC como estando em enormes dificuldades, quase suportada pelo erário público»,

dizia a comissão de trabalhadores, «sem referir o serviço prestado à comunidade por parte da EPNC e das suas publicações já seculares.»

Ao mesmo tempo que reafirmava a viabilidade da EPNC, a comissão de trabalhadores imputava ao administrador em causa erros de gestão: a perda da produção dos boletins do totobola, que estava na EPNC desde a sua fundação, e a perda da impressão da Teteculinária, que deixou atrás de si uma dívida de 14 000 contos.

Em Julho a situação progredia para pior. O conselho de gerência anunciava aos trabalhadores que, na sequência das dificuldades económico-financeiras, apenas seriam pagos 10 000$ a cada trabalhador no final do mês. Na mesma altura o presidente do CG, César Torres, era recebido pelo Ministro Almeida Santos, que lhe garantia que o Governo iria estudar a situação.

Face a esta situação, a direcção do Sindicato dos Jornalistas emitiu um comunicado onde realça que «não devem ser os trabalhadores da EPNC a financiar as indefinições do Estado».

«Não se entenderia que, de um momento para o outro, o Estado fosse atacado de amnésia e perdesse a memória das suas responsabilidades: durante oito executivos e sete conselhos de gerência nada se decidiu no sentido de alterar a situação estrutural da EPNC», sublinhava o SJ.

Por seu lado, os jornalistas do Diário de Notícias consideravam que aquilo que então se passava na EPNC fazia «parte da preparação de um clima psicológico tendente a um despedimento massivo dos trabalhadores [...], procurando afectar-se a imagem do jornal» e «pondo em risco a liberdade de informação».

Quanto à comissão de trabalhadores da EPNC, exigia, em telegramas enviados a entidades governamentais, «o integral pagamento dos salários».

Alguns dias mais tarde, ainda no mês de Julho, o Sindicato dos Jornalistas vinha a público defender a manutenção do Diário de Notícias e de A Capital no sector público da comunicação social.

Já em Agosto, novo comunicado do SJ, onde o Sindicato afirma que a situação na EPNC «indicia um futuro sombrio para o conjunto dos órgãos de comunicação social estatizados[...], nomeadamente porque parecem perfilar-se no horizonte despedimentos massivos para o sector».

Para o Sindicato «os órgãos públicos de comunicação social não devem ser subjugados a estreitos critérios financeiros, ainda mais se, como nos casos do Diário de Notícias e de A Capital, os quais são publicações que se devem manter no sector público, a tutela do Estado só é estranguladora quando não tem em conta os verdadeiros interesses do País».

Na opinião do SJ, a «situação desencadeada na EPNC não é inocente; ela visa criar um clima de instabilidade que ponha em causa a boa imagem das publicações daquela empresa e facilite, por último, a sua reprivatização».

Em 22 de Agosto Alfredo César Torres era entrevistado nas páginas do próprio Diário de Notícias, onde dizia: «Não é lógico que, precisamente quando existe um plano concreto de reestruturação, se cortem, subitamente, quaisquer formas de apoio à EPNC.»

Admitia-se então a não existência de condições para o pagamento dos salários no final do mês de Agosto. Isto, enquanto o conselho de gerência continuava sem