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II SÉRIE — NÚMERO 37

Na mesma altura o Conselho de Informação para a ANOP solicitou uma audiência ao Secretário de Estado, Anselmo Rodrigues, depois de ter recebido representantes dos trabalhadores da Agência, que lhe expuseram a situação da empresa.

Nos últimos dias do ano a AID auto-suspendia as suas actividades, o que deixava o Sindicato dos Jornalistas sem interlocutor para a próxima negociação do contrato dos jornalistas. Isto depois de em finais de Novembro também a última revisão salarial do contrato colectivo dos jornalistas continuar sem ser publicada, retida no Ministério das Finanças, por falta de assinatura do respectivo secretário de Estado.

2.8 — formação profissional — escola

Para além da multiplicação de pequenos cursos de iniciação ao jornalismo um pouco por todo o Pais, o ano de 1983 ficou marcado pela entrada em funcionamento do Centro de Formação de Jornalistas (CFJ), que nesceu no Porto em resultado de uma deliberação do II Encontro de Jornalistas do Norte, realizado no ano anterior.

O CFJ arrancou formalmente em Maio de 1983, depois de um intenso período de estruturação. E arrancou com o estatuto de cooperativa, criada por profissionais da imprensa, da rádio e da televisão.

Em Setembro o CFJ ganhava sede própria, cedida pela Secretaria de Estado da Habitação. A entrega da chave do edifício — uma modaria antiga de rés-do-chão e 1.° andar no centro do Porto — processou-se formalmente na presença dos Secretários de Estado da Habitação e do Emprego e de vários elementos da direcção do CFJ.

Já em Novembro o Centro de Formação de Jornalistas recebia um subsídio de 3000 contos, atribuído pelo Ministro da Educação, José Augusto Seabra. Esta verba tinha como destino a actividade geral do Centro e, de modo particular, a preparação de jornalistas das áreas da educação e ensino.

Finalmente, a 29 de Novembro realizava-se a sessão solene de abertura da escola, que contou com a presença do Presidente da República, general Ramalho Eanes. Na mesma data procedeu-se também à aula inaugural do primeito curso a ministrar no CFJ: o de técnicos de comunicação social.

Foram assim os primeiros passos da vida do Centro de Formação de Jornalistas, instituição saída de dentro da classe, mas que desde o início do seu funcionamento optou por uma actividade mais voltada para o exterior (formação dos novos profissionais) do que para o interior. Estilo que lhe valeria sobejas críticas, em especial depois de refreado o entusiasmo inicial.

Entretanto, entre os múltiplos cursos de comunicação social realizados um pouco por todo o País, citemos alguns. Em Guimarães, a Universidade Católica anunciou a realização de um curso superior de jornalismo para o ano lectivo seguinte. Pequenos cursos realizaram-se na freguesia da Falagueira-Venda Nova, em Castelo Branco, em Vila Nova de Gaia, em Lisboa, para cabo-verdianos, numa iniciativa conjunta da Fundação de Relações Internacionais e do Instituto de Amílcar Cabral, de Cabo Verde.

Em Junho realizou-se em Lisboa, no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, uma con-

ferência a cargo do Prof. José Vidal Beneyto, catedrático de Sociologia da Universidade de Madrid.

Beneyto referiu-se ao tema difícil da objectividade —a «vaca sagrada» dos jornalistas na sua expressão— para a considerar um anacronismo, a que já nem nas ciências exactas se acredita. O que vulgarmente se chama objectividade não é mais do que a «objectividade», ou seja, a tentativa de transmitir aos outros a imagem da realidade tal como a obtivemos, sem distorções intencionais. Segundo Beneyto, mesmo quando não procuram deliberadamente enganar os seus leitores, os profissionais da comunicação praticam um «ter-rerismo corporativo» impeditivo de uma comunicação democrática, porque não ajudam o público a perceber o «como» dos acontecimentos, mas impõem o «quê», isto é, têm o exclusivo da criação dos conteúdos informativos.

«Se é verdade que só com alterações sociais importantes e com o uso das novas tecnologias (microeléc-trica e informática, por exemplo) o jornalista pode evoluir de detentor exclusivo dos conteúdos informativos para o papel de intermediário do público participante numa comunicação interactiva, cabe perguntar: que fazer para já? Apesar de tudo, evitar privilegiar o espectacular e o mórbido e, em lugar de permanecer 'amarrado' ao que se diz serem os gostos do público, ter um papel activo na transformação desses gostos: os leitores não nascem a gostar da informação do Le Monde — o que é preciso é criar mais leitores desse tipo.», sublinhou Vidal Beneyto.

2.9 - ANOP e agencias

O ano começou particularmente mal para os trabalhadores da agência ANOP, que logo nos primeiros dias de Janeiro eram informados de que o Governo dera «luz verde» ao despedimento colectivo de 143 de entre eles. Algo de estranho se passava, porém, a este respeito: enquanto o Secretário de Estado, José Alfaia, reafirmava a existência de um despacho do Ministro do Trabalho autorizando os despedimentos, o próprio Primeiro-Ministro desmentia a informação.

Dentro do Governo havia claramente maneiras diversas de encarar a questão, José Alfaia, o principal mentor da extinção da ANOP e da criação da Notícias de Portugal, dizia, também em Janeiro, que o caso da ANOP era «uma questão de regime e constituía um processo irreversível». Pela mesma altura, outro secretário de Estado, Luís Fontoura (da Cooperação e Desenvolvimento), associava-se aos trabalhadores da ANOP num jantar de solidariedade com o jornalista Fernando Carneiro, cuja requisição havia sido cancelada pela administração da Agência. Fernando Carneiro afirmou, no final, que aquela homenagem deveria ser entendida como mais um acto de solidariedade com a ANOP e de confiança na sobrevivência da Agência, salientando o «desassombro» de Luís Fontoura ao associar-se à iniciativa.

Ainda em Janeiro, o caso da ANOP vinha à baila mesmo numa tese de doutoramento. Gomes Canotilho, que defendia provas de doutoramento na Faculdade de Direito de Coimbra, considerava que a tentativa de extinção da Agência ofendia dois princípios constitucionais: o da congruência da lei e o da constitucionalidade.