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II SÉRIE-A — NÚMERO 51

Os monges dirigiam e, ao mesmo tempo, trabalhavam no desbravamento das matas, na secagem dos pântanos, na drenagem dos terrenos e introdução de novas espécies vegetais, cultivo de árvores de fruto e da vinha, da oliveira, de produtos hortícolas, cereais e leguminosas. Construíram celeiros, adegas, lagares de vinho e de azeite e fornos, no Centro e Sul do País, e expandiram a pecuária Exploraram a moagem de cereais em moinhos e azenhas próprios, a produção de vinho e de azeite, o fabrico de pão, a confecção de tecidos em burel, a extracção de sal (em Alfeizerão) e do ferro, a metalurgia, o fabrico de armas (próximo da Igreja de Nossa Senhora da Conceição), a produção de cal, a cerâmica (telha e louça) e os curtumes (em Évora de Alcobaça, Lisboa e Santarém). Mestres da engenharia hidráulica, usaram a energia dos rios nas moagens, lagares e na confecção de têxteis. Nos portos de Alfeizerão, São Martinho e Pederneira incentivavam a pesca (também em Paredes) e a construção naval e controlavam o comércio. Transmitiam os seus conhecimentos às populações e ensinavam-nas, através do seu exemplo, na prática agro-pecuária e dos ofícios. Criaram uma farmácia própria, aberta dia e noite, e cuidavam dos doentes.

Na região de Alcobaça cediam aos colonos, através de cartas de povoação, parcelas que se convertiam, decorrido um número de anos variável, proporcional à fertilidade da terra, em propriedade plena, e indicavam-lhes as culturas e os processos. Outras propriedades eram arrendadas. Através de doações, legados e compras, os seus domínios extravasaram largamente a região que lhes fora inicialmente atribuída e as suas propriedades chegaram até Santarém, Ota, Torres Vedras, Elvas, Marvão e Beringel (perto de Beja). Além dos terrenos, tinham prédios urbanos em Lisboa, Santarém, Atouguia, Alenquer, Tomar, Leiria, Montemor-o-Novo, Beja, Elvas, etc. Alguns monarcas tentaram restringir o poder dos monges, proibindo-lhes a aquisição de terrenos e chegando a retirar-lhes jurisdições sobre várias vilas, mas, reconhecendo o valor da sua obra, acabavam sempre por as devolver. Para Alcobaça, centro do poder monástico, tudo convergia. Até ao século xv, o Abade de Alcobaça detinha também jurisdição espiritual sobre as Ordens de Avis e Cristo, que visitava.

Dentro da cerca do Mosteiro foram-se construindo casas das pessoas que aí trabalhavam como artífices e criados. Já no século xvi, o chamado «burgo de Alcobaça» se estendia para além dessa cerca.

Monges de Alcobaça graduados por universidades estrangeiras intervieram em Roma, e o abade junto do Papa, no sentido da criação em Portugal de estudos gerais (isto é, de uma universidade), que D. Dinis veio a assumir. Importantes mestres da Universidade de Coimbra eram cistercienses que vieram de Alcobaça, onde ministravam instrução e se destacaram na área teológica, linguística e gramática.

Uma certa decadência da Ordem começou a divisar-se, logo no século xv, com a venda ao cardeal D. Jorge da Costa do lugar de abade e a nomeação, pelo rei, de abades comendatarios que exploravam a região em seu proveito próprio e pouco cuidavam da comunidade monástica e do património. Em 1567, por bula papal, os monges foram instituídos em congregação autónoma face à ordem de Cister. Alcobaça tornou-se a cabeça da congregação portuguesa. Os monges voltaram-se para o estudo. Além da teologia, dedicaram-se à história, onde atingiram um lugar de destaque através de frei Bernardo de Brito, frei António Brandão, frei Manuel dos Santos, frei Manuel de Figueiredo e frei Fortunato de São Boaventura — os «cronistas de Alcobaça».

As invasões francesas e o advento do anticlericalismo de raiz liberal, no início do século xix, trouxeram dificuldades crescentes ao Mosteiro, que foi saqueado. O processo teve o seu epílogo na saída forçada dos monges, entre 1833 e 1834, na sequência da guerra civil entre absolutistas e liberais.

Os movimentos liberais locais que se seguiram contribuíram também para a mudança de regime político em Portugal. O papel do município nesta fase foi reconhecido, após a implantação da República, com a atribuição a Alcobaça do grande colar da Ordem Militar da Torre e Espada.

Alcobaça ocupa, pois, um lugar de excepção na história, espiritualidade, cultura e arquitectura de Portugal. A sua merecida elevação a cidade será, com certeza, um passo decisivo no caminho do futuro.

A actualidade

Hoje, a vila de Alcobaça é a sede de um concelho com 19 freguesias —Alcobaça, Alfeizerão, Alpedriz, Barrio, Benedita, Cela, Cós, Évora de Alcobaça, Maiorga, Martingança, Moita, Montes, Pataias, Prazeres de Aljubarrota, São Martinho do Porto, São Vicente de Aljubarrota, Turquel, Vestiaria e Vimeiro —, uma área de 417 km2 e 54 382 habitantes (em 1991). Alcobaça é o segundo município do distrito de Leiria em termos populacionais e o terceiro em superfície. Em termos económicos é o segundo concelho mais importante do distrito.

A agricultura, com solos de elevado potencial e longa tradição devida à acção dos «monges agrónomos» (como lhes chamou Joaquim Vieira Natividade), é, pese embora o decréscimo acentuado da população nela envolvida a tempo inteiro, uma actividade muito importante no concelho: na fruticultura, em que abastece não só o litoral mas também o interior do País, no vinho, que a lei reconhece como vinho de qualidade produzido em região determinada (VQPRD) e também na horticultura. Por seu lado, a actividade pecuária, particularmente na zona sudeste do concelho, alcançou uma posição de muito relevo a nível nacional. A pesca detém, ainda, uma importância residual em São Martinho do Porto. O sector primário, que engloba as actividades referidas, ocupa no concelho 11,3 % da população activa (dados dos Censos 91).

O concelho, servido por uma extensa rede rodoviária e pela linha do Oeste, tem beneficiado de um acentuado desenvolvimento industrial, cuja actividade é responsável por 52,2 % do emprego, conforme referem os Censos 91. A indústria remonta aos tempo da implantação dos monges, com a construção civil, moagem de cereais, têxteis, extracção de sal e de ferro, construção naval, metalurgia e cerâmica (telha e louça). Continuou depois, através dos particulares, no século xvm, na indústria cerâmica (louça) do Junca] e no fabrico dos célebres lenços de Alcobaça; já no século passado dá-se o aparecimento da indústria moderna, com a criação da fábrica da Companhia da Fiação e Tecidos de Alcobaça. O desenvolvimento industrial acelerou visivelmente nos últimos 40 anos. Os principais sectores industriais são a cerâmica decorativa — sendo hoje Alcobaça considerada a capital da cerâmica decorativa portuguesa —, calçado, marroquinaria e couros, moldes, cristais, construção civil, madeira e mobiliário, cutelaria, rações, rochas ornamentais, têxteis, etc. O tecido económico evidencia um grande dinamismo dos particulares e uma tendência para a diversificação.