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4 DE DEZEMBRO DE 2020

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PROJETO DE RESOLUÇÃO N.º 775/XIV/2.ª

RECOMENDA AO GOVERNO QUE ATRIBUA AO HOSPITAL DISTRITAL DE SANTARÉM O NOME DE

HOSPITAL BERNARDO SANTARENO

A Assembleia da República aprovou recentemente por unanimidade, sob proposta de Sua Excelência o

Presidente da Assembleia da República, um voto que assinalou o centenário do nascimento de Bernardo

Santareno. Desse voto consta o seguinte:

«Nascido em Santarém, a 19 de novembro de 1920, Bernardo Santareno – pseudónimo do psiquiatra António

Martinho do Rosário – foi um dos mais relevantes dramaturgos portugueses do século XX, afirmando-se pela

vasta obra literária, essencialmente no domínio do teatro, mas onde pontua a prosa e a poesia.

O seu primeiro livro de poesia, Morte na Raiz, é publicado em 1954, com ele nascendo o pseudónimo

Bernardo Santareno, em homenagem à sua cidade de Santarém e ao santo padroeiro do lugar de Espinheiro,

onde nasceram pai e avós e onde passou férias na infância e adolescência. É como Bernardo Santareno que

passa a ser conhecido no universo cultural português e internacional.

Seguem-se Romances do Mar, em 1955, e, em 1957, Os Olhos da Víbora. É desse ano o livro Teatro, com

as peças A Promessa, O Bailarino e A Excomungada – obra que o encenador e crítico António Pedro anuncia

no Diário de Notícias digna de qualquer país moderno do mundo, profetizando que «(…) o maior dramaturgo de

todos os tempos é um jovem médico embarcado na frota bacalhoeira portuguesa que usa o pseudónimo de

Bernardo Santareno».

Levando à cena A Promessa no Teatro Experimental do Porto, pela mão do seu diretor, António Pedro, logo

a censura a retira de palco, sob pressão dos setores mais conservadores da igreja católica. Inicia o percurso de

dramaturgo sob o signo de forte polémica, tendo Bernardo Santareno sido perseguido pelos seus valores e

ideias e o seu teatro alvo da censura.

Nas duras viagens à pesca do bacalhau pelos mares da Terra Nova e da Gronelândia, em 1957 e 1958,

embarcado como médico, escreve a peça O Lugre e o livro de viagens Nos Mares do Fim do Mundo,

profundamente humanista. É Bernardo Santareno quem introduz na sociedade portuguesa uma nova forma de

ver e de sentir o duro sofrimento dos pescadores, por contraponto à propaganda do regime.

No período que medeia entre 1957 e 1980, escreve dezasseis peças, que perseguem a luta pela liberdade

e a dignidade do ser humano contra todas as formas de opressão – causas do intelectual de esquerda que

sempre foi tendo aderido à Juventude Comunista em 1941, data a partir da qual milita no Partido Comunista

Português. A última peça, O Punho, de 1980, só foi publicada postumamente, em 1987.

Personalidade de profunda cultura, acompanha a obra de Federico Garcia Lorca, contactando com o

existencialismo de Sartre, com Ionesco, ou com Jean Genet, de quem foi tradutor e cujo teatro representou pela

primeira vez em Portugal.

A importância da obra de Bernardo Santareno – desaparecido em 29 de agosto de 1980, e de cujo

nascimento se celebra, em 2020, o centenário – reside na centralidade que deu aos direitos e às liberdades

individuais por oposição aos preconceitos morais e sociais de um Portugal atrasado e isolado do resto do mundo,

abordando temas originais e não consensuais para a época, como o papel da mulher na sociedade, nas

instituições e no casamento.»

No ano de 2020 tiveram lugar diversas iniciativas destinadas a assinalar o centenário do nascimento de

Bernardo Santareno, a que a Assembleia da República conferiu o seu patrocínio.

Recentemente, na cidade de Santarém, no lançamento de uma biografia da sua autoria com o título Bernardo

Santareno – da Nascente até ao Mar, o Doutor José Miguel Noras sugeriu publicamente a atribuição do nome

de Bernardo Santareno ao Hospital Distrital de Santarém.

O PCP considera que essa proposta tem toda a pertinência e oportunidade e nesse sentido, nos termos da

alínea b) do artigo 156.º da Constituição e da alínea b) do n.º 1 do artigo 4.º do Regimento, os Deputados do

Grupo Parlamentar do PCP propõem que a Assembleia da República adote a seguinte resolução: