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11 DE MARÇO DE 2021

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Considerada como uma das epidemias do século XXI, a obesidade continua a ser desvalorizada e associada

a um conjunto de estigmas e preconceitos que impedem uma abordagem eficaz.

É, neste momento, a segunda principal causa de morte no mundo e o maior desafio global de saúde na área

das doenças crónicas, segundo a Organização Mundial de Saúde.

Existem cerca de mais de 200 doenças e complicações associadas à obesidade, como por exemplo,

diabetes, doença cardiovascular, alguns tipos de cancro, artrite, infertilidade, depressão e ansiedade, entre

muitas outras.

Tudo isto tem um enorme impacto quer ao nível da vida das pessoas, mas também ao nível dos sistemas de

saúde e da economia, nomeadamente através da pressão adicional no SNS e despesa pública. Portugal gasta

cerca de 207 euros per capita/ano para tratar doenças relacionadas com excesso de peso, cerca de 10% da

despesa total em saúde.

A proporção de população com excesso de peso ou obesidade tem aumentado à escala global e atingindo

cada vez mais faixas etárias e diferentes regiões do globo. Associada, numa primeira fase, aos países com

maior PIB, a doença afeta também os países de menores rendimentos, onde se verificam o maior aumento das

taxas de incidência e prevalência da doença.

É importante destacar que a obesidade não está relacionada apenas com o excesso de peso, podendo

também ser considerada a percentagem de gordura no corpo.

Todos os anos, e segundo dados da OMS, a nível mundial, 4 milhões de pessoas perdem a vida como

resultado de complicações resultantes do excesso de peso e da obesidade, isto porque sem tratamento

adequado, a obesidade danifica gradualmente o normal funcionamento do organismo.

Em Portugal, segundo os dados do Inquérito Nacional de Saúde 2019, tem-se registado uma evolução

preocupante, com cerca de 1,5 milhões de pessoas diagnosticadas com a doença. No estudo «Country profiles

on nutrition, physical activity and obesity in the 53 WHO European Region Member States», a OMS refere que

em Portugal 31% dos rapazes e 18% das raparigas têm excesso de peso. Aos 15 anos a obesidade atinge os

24% e os 17%, para cada sexo, respetivamente. Relativamente à população adulta, 59,1% tem excesso de peso

e 24% é obesa. A prevalência de excesso de peso é maior entre os homens (61.8%) do que nas mulheres

(56.6%). Do ponto de vista dos indicadores sobre obesidade, estas percentagens descem para 21,6% e 26,3%,

respetivamente.

Portugal foi dos primeiros países do mundo a reconhecer a obesidade como doença. No entanto e apesar

das sucessivas iniciativas públicas ao longo dos anos, como o Programa Nacional de Combate à Obesidade, o

Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável e o Programa Nacional para a Promoção da

Atividade Física, a prevalência da doença continua a aumentar.

É preciso investir na prevenção e no tratamento. Estes são os eixos principais para, primeiro, evitar o

aparecimento da doença, depois, em casos em que a doença está instalada, permitir o tratamento da mesma e

a recuperação da saúde e qualidade de vida da pessoa em causa.

No eixo da prevenção, o SNS pode e deve ter um papel mais ativo. A sensibilização dos profissionais de

saúde para a deteção de sinais de pré-obesidade e para um diagnóstico atempado, assim como a aposta e

maior disponibilização de consultas de nutrição devem ser áreas a melhorar. A título de exemplo, em audição

recente na Comissão Parlamentar de Saúde, a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO)

referiu que, em Portugal, apenas 55% dos doentes obesos foram diagnosticados com obesidade e apenas 25%

dos casos foram referenciados para consultas posteriores de acompanhamento. Em muitos casos é mais fácil

o diagnóstico para doenças associadas à obesidade do que o diagnóstico de obesidade, ainda que esta última

seja uma doença também.

No eixo do tratamento, isto é, para os casos em que não foi possível prevenir a instalação da doença, deve

ser garantida a comparticipação de fármacos e terapêuticas disponíveis. Não deve ser preciso esperar para que

um determinado doente tenha indicação para cirurgia para só aí poder ter tratamentos suportados pelo SNS; é

preciso evitar que os doentes cheguem ao ponto de ser necessária essa cirurgia. Para isso é preciso a

comparticipação de tratamentos farmacológicos, coisa que não existe.

Por último, mas não menos importante, é preciso combater todo o tipo de discriminação associada à

obesidade. Essa discriminação tem, por vezes, contornos muito concretos que dificultam ou impedem o

estabelecimento de uma vida normal. Por exemplo, não é incomum assistir-se à discriminação de doentes

obesos no acesso a seguros ou a créditos de habitação, por exemplo.