O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

30 DE JUNHO DE 2023

17

predominam as zonas montanhosas, a produção de ovinos e caprinos tem um papel importante no plano

social, para além do papel que desempenha nos planos ambiental e económico.

O pastoreio de animais, designadamente de raças autóctones, como a merino branco, a merino preta a

churra badana, ou a bordaleira da Serra da Estrela, aproveita recursos alimentares, mesmo que escassos,

permitindo obter produtos de alta qualidade e com uma autenticidade muito própria.

De facto, a criação de pequenos ruminantes tem, desde tempos que se perdem na memória, uma

importância central para as populações das zonas mais rurais, sendo que a capacidade de adaptação destes

animais ao meio envolvente muito tem contribuído para o sucesso da sua implantação.

Entretanto, os produtores de ovinos e caprinos presentes no nosso País têm-se vindo, nos últimos anos, a

confrontar com alterações profundas, enfrentando um acentuado aumento dos custos de produção, ao passo

que o preço pago à produção não só não aumentou como até, em alguns casos, reduziu, seja no leite, na

carne ou na lã.

Com uma população agrícola cada vez mais envelhecida, estes produtores têm-se vindo a confrontar com

enormes dificuldades de escoamento dos produtos, com novos e cada vez mais complexos controlos e com

burocracias administrativas acrescidas.

Em particular no caso da lã, não são raros os casos em que afirmam que nem dada a querem, o que

implica que os produtores têm de assumir o custo da tosquia e mesmo da destruição da lã.

Neste contexto, o continuado despovoamento e abandono da agricultura e pecuária de montanha, fruto das

dificuldades que enfrentam no exercício da atividade, tem consequências seja em matéria de vegetação, seja

na paisagem, induzindo riscos maiores de incêndios florestais e potenciando a sua brutalidade.

O abandono destes territórios reflete-se igualmente no emagrecimento da biodiversidade, permitindo o

desenvolvimento descontrolado de espécies invasoras que prejudicam a manutenção dos ecossistemas

autóctones, pondo também em causa o desenvolvimento económico e o equilíbrio social.

É de sublinhar que a utilização dos rebanhos de ovinos e caprinos na gestão silvopastoril da paisagem,

designadamente na limpeza de combustível que lhes serve de alimento, pode dar um importante contributo no

combate aos incêndios florestais.

Se a utilização do leite assume toda a centralidade, seja pela venda a terceiros, seja pelo fabrico direto de

queijo artesanal, criando riqueza e emprego, a utilização da lã, material de excelência pelas suas qualidades

únicas de isolamento térmico, de resistência e de durabilidade, pode introduzir novas linhas de dinamismo

económico que não podem ser desperdiçadas.

A lã foi, em momentos passados, a principal fonte de receita proveniente dos rebanhos e da pastorícia,

sendo um sinal disso o facto de as designações das raças se ligarem ao tipo de lã que as ovelhas

proporcionavam. Segundo os produtores, as ovelhas churras têm uma lã mais grossa enquanto as bordaleiras

dão lã meio encaracolada.

Apesar das características que a lã detém, há várias décadas que o valor por ela pago deixou de ser a

principal fonte de rendimento dos criadores. Assim, houve tempos em que o preço pago permitia

contrabalançar os custos de produção, depois passou a apenas garantir o suficiente para pagar o trabalho dos

tosquiadores e hoje nem para isso dá.

A utilização da lã tem, entre outras, a possibilidade de contribuir para a revitalização do tecido económico

ligado a esta matéria-prima, de desenvolver e alargar o efetivo de raças autóctones com boa capacidade lanar,

de criar unidades localizadas de lavagem, de induzir novas indústrias e negócios, de aumentar a incorporação

da lã nacional nos processos produtivos, desenvolvendo o setor dos lanifícios.

No plano ambiental, a produção de ovinos, com o aproveitamento da lã, possibilita a manutenção e

ocupação da paisagem e do espaço rural, assegura a multifuncionalidade da utilização destes espaços e a

complementaridade dos sistemas agrícolas tradicionais, combatendo a desertificação geográfica e

promovendo a utilização de um produto natural.

A produção de lã nacional pode ainda almejar penetrar em novas áreas, com maior valor acrescentado, de

que são exemplos o vestuário para montanhismo, para desportos e atividades na neve, para desportos

radicais, para animais de alta competição, criando novas receitas para os produtores.

No entanto, para o conseguir, impõe-se que as explorações, dando resposta às crescentes preocupações

com o bem-estar animal, tenham rentabilidade e assegurem a sua viabilidade económica. Ora, repete-se, a

produção de lã enfrenta problemas acrescidos, tendo sofrido enormes reveses, particularmente por causa dos