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16 DE JUNHO DE 1995

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radiologicamente, tenho praticamente a certeza de que são fragmentos metálicos. Na minha opinião há três possibilidades para os fragmentos metálicos se terem alojado nos pés do piloto da aeronave. Uma delas seria o resultado da fragmentação do cockpit do avião como consequência do impacte contra os diversos obstáculos. Nesse ponto, considero que os fragmentos seriam de um tamanho bastante superior àqueles que me foi dado observar nas? radiografias. A segunda hipótese a considerar seria o depósito de metal fundido procedente do cockpit, o qual ter-se-ia depositado nas partes moles das pernas do piloto. Na bibliografia que tenho consultado vi casos de metal fundido em que a imagem é completamente diferente: em primeiro lugar o tamanho dos pedaços é maior, e depois têm um contorno policíclico completamente diferente dos estilhaços que se vêem nas radiografias.

Na minha opinião, resta a terceira hipótese, de os fragmentos procederem da explosão de um engenho, de um artefacto explosivo, sendo que a explosão do artefacto explosivo impele uma série de objectos procedentes do cockpit, procedentes do próprio engenho explosivo, procedentes de partes moles que revestem o interior do cockpit. Enfim, há uma série infinita de possibilidades mas, dentro delas, há indubitavelmente fragmentos metálicos. A probabilidade — e gosto sempre de falar em termos de probabilidades — de se ter verificado a terceira hipótese é, na minha opinião, a mais elevada, tendo em conta o tamanho, a forma e a profundidade atingida pelos fragmentos de metal nos pés do piloto. A distribuição, fundamental no calcanhar e na ponta do pé, é igualmente sugestiva da proximidade destas estruturas anatómicas do foco da ex-. * plosão.

Quanto à sua interpretação sobre os corpos estranhos identificados no piloto o Sr. Prof. Jack Crane afirmou:

Observei as radiografias do piloto e concordo que existem fragmentos de metal radiopaco na zona cir-' cundante do pé e dos calcanhares do piloto. São pequenos fragmentos que penetraram nos tecidos moles do pé. Isto, normalmente, não é o que se verifica quando se regista um despenho de uma aeronave que tem um impacte muito violento com o solo; os fragmentos são demasiado pequenos e penetraram nos tecidos de forma muito aprofundada.

Temos assim de arranjar uma outra justificação quanto à forma como estes fragmentos conseguiram penetrar os tecidos. Já examinei corpos de vítimas de ataques bombistas e, pela minha experiência, muitos dos indícios e vestígios que consegui observar até à data são semelhantes aos que observei na análise das radiografias do piloto. A minha experiência leva-me a crer que os fragmentos, tal como se apresentam, podem justificar-se pela explosão de um engenho explosivo que poderia estar colocado no cockpit, perto do local onde se sentava o piloto.

Acrescentou ainda o Sr. Prof. Crane « não ter informação quanto ao tipo e à resistência do calçado usado pelo piloto, e quais os danos sofridos pelos seus sapatos».

Informado do facto de o piloto vestir a farda própria com a qual se calça sapato preto normal, de sola, não se sabendo se o tacão seria em borracha, bem como de os sapatos

do piloto nunca terem sido encontrados, o Sr. Prof. Jack Crane acrescentou:

Partindo do princípio de que estamos perante uns sapatos normais, é possível que fragmentos de metal que tenham sido lançados com grande ímpeto, por exemplo por força da detonação de um engenho explosivo, pudessem penetrar a sola ou mesmo o tacão dos sapatos do piloto,.alojando-se assim nas partes moles à volta do calcanhar [...]. Se tiver existido um engenho explosivo colocado sob o chão do cockpit, então, seria exactamente naquela zona do pé que se efectua-•riaa penetração de fragmentos.

Questionado sobre a eventual influência que uma diferente constituição química dos fragmentos pudesse ter na sua origem e, tal como o Sr. Prof. Luís Concheiro referiu, poder haver uma série de objectos que, por efeito de um explosivo, se pudessem ter alojado no corpo do piloto, o Sr. Prof. Jack Crane acrescentou:

A natureza química dos fragmentos não tem grande significado, porque, quando presenciamos uma explosão, no momento da ignição, há uma reacção química que vai emitir grandes quantidades de. energia. Essa energia vai ser transmitida à vizinhança mais próxima, ou seja ao contentor ou ambiente circundante, onde se encontrava o engenho. Assim, os fragmentos que se possam encontrar numa vítima de uma explosão são de várias naturezas e, frequentemente, não fazem parte dessa bomba ou explosivo, mas sim do espaço circundante, e neste caso, talvez se trate de peças ou bocados do chão do cockpit ou de uma parte do pedal sobre a qual o piloto teria o pé.

Quanto à relação existente entre as dimensões dos fragmentos projectados no corpo e o seu resultado de uma explosão, o Sr. Prof. Jack Crane afirma.

Os fragmentos resultantes da explosão de uma bomba que podem penetrar no corpo de uma pessoa são pequenos e trazem consigo uma grande energia. Sendo lançados com maior energia, são aqueles que mais facilmente penetram nos materiais, enquanto os de maiores dimensões podem ser encontrados — e geralmente são — na área circundante.

Ambos os professores de Medicina Legal se pronunciaram quanto ao facto de a existência de projécteis resultantes de uma explosão e localizados no corpo de uma vítima, obrigar ou não à existência de fracturas de qualquer espécie.

A este propósito afirmou o Sr. Prof. Jack Crane:

Segundo a minha experiência, fracturas causadas pela penetração deste tipo de fragmentos são bastante invulgares, mas podem no entanto ocorrer como resultado directo da explosão, e não necessariamente devido à penetração de pequenos fragmentos; aquelas fracturas devem-se assim à força directa da explosão em si, isto é, da energia gerada pela explosão.

Sobre o mesmo assunto pronunciou-se também o Sr. Prof. Luís Concheiro:

É de extrema raridade que um fragmento expelido pela bomba cause uma fractura. A fractura é uma consequência do efeito blast da explosão e parece-me que, neste caso, há dois factores que poderão explicar a au-