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II SÉRIE-B — NÚMERO 36

Estamos assim, em nosso entender, em face de uma abundante e bem caracterizada prova material da existência de uma deflagração antes do incêndio, documentada a nível radiográfico e de microscopia electrónica de varrimento.

2 — Outros vestígios radiológicos e perda da informação química devido ao tratamento não adequado das amostras. Hipóteses alternativas suscitadas pelos vestígios materiais.

2.1 — Perda da informação química

Na exumação dos corpos feita em 1995 procedeu-se ao exame radiológico detalhado das vítimas.

Foram detectados numerosos pedaços de material radiopaco que foram devidamente assinalados e depois recolhidos para análise.

As amostras foram enviadas para o laboratório inglês do FEL (sucessor do RARDE), e aqui novamente a pesquisa foi orientada no sentido de possível identificação de assinatura física de uma explosão.

Conforme se pode ler no relatório (FEL, p. 2) a acção de dissolução dos resíduos orgânicos que envolviam o material biológico «also cleaned any metallic fragments contained therein sufficintly to allow their examination and analysis by SEM coupled to an X-ray energy analyser (EDAX). However this solvent treatment negated any possibility of carrying out any form of chemical analysis for explosions residus upon the recovered fragments and hence none was attempted [...]

In some instances after removal of the biological materials did nol reveal any metalic fragments at their centre [...]

Thus the examination were limited to SEM microscopic examination for symptons indicative of an explosive event».

Do cruzamento dos relatórios da autópsia (Vilaça Ramos, Luís Aires Sousa, Gama Afonso) com os resultados do FEL verifica-se que as amostras A9, AJO e AJ2 identificadas por quatro especialistas em radiologia e medicina legal como contendo corpos opacos foram considerados como matéria orgânica.

A confusão entre matéria orgânica e material de número atómico feita por quatro especialistas não é possível, tanto mais que foi feita a posterior verificação da remoção dessas amostras através de nova radiografia do respectivo recipiente de transporte.

Pode concluir-se facilmente que haveria vestígios de elevado número atómico que se desagregaram durante a operação de limpeza.

Ora esses vestígios poderiam proporcionar informações muito relevantes para orientar a investigação num sentido diferente das duas únicas alternativas à hipótese de acidente propostas pela investigação: bomba de alto poder ou bomba incendiária.

Vejamos como poderiam ter sido encaradas outras alternativas igualmente eficazes para a destruição de um pequeno avião, compatíveis com os vestígios materiais conhecidos.

2.2 — Armas e dispositivos de guerra

Da consulta do índice do manual da NATO FM 8-285 encontramos os seguintes capítulos:

Capítulo II, «Agentes sobre os nervos»; Capítulo III, «Agentes incapacitantes»; Capítulo IV, «Agentes vesicantes»:

Capítulo V, «Agentes de choque (produzindo danos

nos pulmões)»; Capítulo VI, «Agentes sobre o sangue»; Capítulo VII, «Agentes irritativos e indutores do

vómito»; Capítulo VIII, «Fumos»; Capítulo IX, «Agentes incendiários»; Capítulo X, «Agentes tóxicos».

Em cada capítulo são descritos os produtos utilizados para obter cada efeito e as consequências nefastas do seu uso. Como se poderá facilmente perceber, muitos destes dispositivos, ou produtos militares, podem originar em muito pouco tempo a perda das faculdades de um piloto, com consequências quase certamente fatais se tal ocorrer num momento crítico do voo como é uma operação de descolagem.

Podemos verificar que para a produção de fumos são utilizados produtos contendo fósforo, óxido de zinco e muitas vezes tetracloreto de titânio associados a materiais orgânicos, tais como óleos especiais, gasóleo, borracha, etc.

Artesanalmente uma bomba de fumo pode ser eficazmente construída com açúcar, serrim e outros produtos de fácil obtenção.

No referido manual pode ler-se que uma alta concentração de fumo num ambiente fechado é extremamente perigosa, podendo ser fatal.

Podemos ainda verificar que o tetracloreto de titânio, produtor de um denso fumo branco, pode ser dispersado por um avião ou utilizando um explosivo.

Da consulta de qualquer brochura elementar sobre explosivos podemos verificar que há explosivos de baixa velocidade tal como a pólvora de caça (contendo nitrocelulose) em que a velocidade não ultrapassa os 400 m/s. Velocidades muito superiores de deflagração, podendo atingir os 8500 m/s, podem ser encontradas nos altos explosivos tais como TNT, RDX C4, etc.

Enquanto materiais como a pólvora de caça servem de propulsores, os explosivos de alta velocidade provocam a fragmentação dos materiais. E a estes últimos que estão associadas as tais assinaturas de tweening e pitting.

Do exposto resulta que toda a investigação foi focalizada apenas numa pequeníssima parte das hipóteses existentes para de maneira relativamente eficaz e discreta originar um «acidente» com uma pequena aeronave.

Voltando à informação perdida, resultado da diligente pesquisa pelo RARDE e pela FEL de uma das dezenas de hipóteses possíveis, verificamos que para elucidar as hipóteses anteriores, nomeadamente a do uso de um engenho fumígeno, seria muito mais relevante a informação química do que a informação física. No entanto, a primeira foi sacrificada em favor da segunda, nomeadamente no tratamento analítico das amostras recolhidas em 1995.

Definamos um modelo de hipótese c testemos a sua validade face aos vestígios materiais e testemunhais conhecidos.

Se tivesse sido utilizado um agente fumígeno, este deveria ter sido associado a um pequeno engenho explosivo que garantisse uma dispersão muito rápida do produto. Só assim se poderia garantir que a tripulação não conseguiria eliminar a sua fonte.

Neste quadro o recurso a engenhos artesanais mecanicamente accionados pode ser facilmente conseguido com um vulgar cartucho de caça.