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5 DE JULHO DE 1999

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Uma associação, por exemplo de um detonador de mola, um cartucho de caça, uma granada defensiva e de uma embalagem fumígena que resultados produziria dentro de uma cabina de um avião?

A nível de vestígios físicos quase nada, dados os reduzidos traços resultantes da detonação da nitrocelulose. Seria de esperar a produção de pequenos fragmentos de aço da granada, com efeitos punctiformes c o eventual alojamento dos produtos utilizados em conjunto com alguns fragmentos da aeronave.

Algum chumbo poderia atingir as vítimas, e no caso de um incêndio esse chumbo ficaria fundido no meio dos tecidos, sendo inevitavelmente removido se fosse utilizada a metodologia seguida pelo FEL.

Vestígios de titânio e fósforo poderiam permanecer em pequenas quantidades, se bem que o fósforo após um incêndio seria facilmente consumido, restando na forma de óxido.

O chumbo ou o titânio associados a algum alumínio poderiam justificar grandes densidades dos corpos estranhos nalguma parte do espaço envolvente, mas pouco mais.

Estamos, portanto, com um quadro de vestígios necessariamente escassos, tanto mais que seriam mascarados fortemente após um incêndio. No entanto, apesar de métodos de investigação utilizados, ainda assim conseguimos identificar indícios importantes que validam a hipótese anterior.

2.3 — Alguns vestígios que apontam para hipóteses alternativas à de uma bomba

2.3.1 —Alumínio finamente fragmentado. — Em primeiro lugar, as finas partículas de liga de alumínio de dimensões microscópicas profusamente espalhadas nos pés e pernas do piloto, para as quais a única explicação plausível é uma explosão, mas não necessariamente um engenho de alta potência.

2.3.2 — Aço fragmentado. — Em segundo lugar, a existência de partículas de elevado número atómico que como demonstrámos no relatório n.° 2 são compatíveis com a classificação do aço alojadas nas áreas não protegidas (pelos pedais) dos pés do piloto. Estes vestígios são compatíveis com uma granada defensiva, não propriamente com uma bomba de alto poder destrutivo.

A espiral de fragmentação de aço ao carbono de uma granada defensiva pré-reticulada fabricada na altura pela INDEP não deverá afastar-se. segundo cremos, do quadro dos pequenos fragmentos observados, nomeadamente na radiografia RXID.

2.3.3 — Vestígios de elementos pesados. — Em terceiro lugar, o espectro n.° 13 do relatório do RARDE, correspondente à amostra M obtida pela raspagem do calcanhar do piloto feita por E. Newton.

No espectro de EDS podemos muito claramente observar três picos correspondentes ao chumbo (Pb) e um pico correspondente ao titânio (Ti) sem qualquer associação ao alumínio, notando-se ainda a presença de cálcio (usado no enterramento em urna fechada).

Este espectro está legendado como matéria orgânica, o que significa provavelmente que os elementos Pb e Ti estarão dispersos no tecido, tal como previsivelmente aconteceria nas condições anteriormente aventadas.

Para além disto, encontramos imagens extraordinariamente radiopacas na axila de A. A. C, que parecem não corresponder a liga aeronáutica mas poderiam ser

projecções de chumbo (posteriormente fundido e disperso), ou de titânio arrastado pelos gases duma deflagração localizada (blast).

Outro facto, a presença de três pequenos fragmentos circunscritos na radiografia das vísceras de Sá Carneiro identificados como projécteis (chumbos) de caça no relatório de John Mason e Jack Crane de Outubro de 1995, deveria também ter sido considerado. Esles chumbos, profundamente alojados no corpo do PM, não poderiam fundir, como sucederia se se encontrassem superficialmente, mas seriam coerentes com a elevada radiodensidade verificada no braço de A. A. Costa e com a análise de chumbo feita pelo RARDE.

Na hipótese que parece subjacente à pouca importância atribuída à presença de projécteis de caça nas vísceras de Sá Carneiro, isto é, a eventualidade de o PM ter comido caça e ter engolido três chumbos pergunta-se: seria provável que após um processo digestivo esses chumbos se situassem ainda próximos uns dos outros, em particular dois deles, que aparecem praticamente encostados no «espaço circunscrito» referido no relatório? Segundo a opinião abalizada do Dr. Conchero, a hipótese de tal acontecer é praticamente nula.

Continuando a seguir esta hipótese, poderíamos eventualmente encontrar um vestígio residual dos explosivos usados, isto é, de algo correlacionável com uma munição de caça e de vestígios correlacionáveis com um dispositivo militar.

Tudo isto, apesar do tempo e da existência de um incêndio, foi encontrado!

2.3.4 — Explosivos e rastos de sopro de explosão. — Podemos verificar que foram efectuadas análises em Portugal (13pl05, I3pl08), posteriormente confirmadas com outras feitas no Reino Unido onde na amostra 7 foram encontrados vestígios de nitrocelulose (compatível com uma munição de caça), TNT, RDX e DNT compatíveis com explosivos militares, sendo o TNT e o RDX parte da mistura B utilizada pela SPEL (Sociedade Portuguesa de Explosivos) para carregar as granadas com espiral de fragmentação produzida pela INDEP.

Note-se que esta amostra 7 não permaneceu solidária com a fuselagem, visto estar recolhida num caixote, podendo, pois, ter uma história térmica bem diferente da restante fuselagem do aparelho.

Trata-se de uma peça estrutural de alumínio situada no tecto do aparelho junto ao lugar onde viajava A. A. Costa.

Foi ainda encontrado vestígio de sulfato de bário, outro componente associável a explosivos militares.

Um dos lados do corpo de Adelino A. Costa, visível nas radiografias, precisamente no lado esquerdo, e só desse lado, apresenta uma enorme quantidade de pedaços de metal não só na axila já referida como na anca e tronco.

Estando esta vítima sentada de costas para o piloto, conclui-se que o corpo deste podia ser um ecrã de protecção contra qualquer deflagração vinda de baixo, ficando apenas exposto parcialmente o lado esquerdo de Amaro da Costa.

Assim, não só a natureza como a localização dos fragmentos metálicos permitem traçar uma recta que une os pés do piíofo ao braço de Amaro da Costa e se dirige para um ponto situado à direita da sua cabeça na parte superior lateral esquerda do avião. Ora o que encontramos nos autos (13p307): «Assim, o local onde se situava tal amostra» — a n.° 7 — «encontrava-se â direita do engenheiro Amaro da Cosia. E por cima da sua cabeça f...] «entre as duas janelas do lado esquerdo da cabina de passageiros».