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II SÉRIE-B — NÚMERO 36

Estes instrumentos de corte não produzem timalhas como sucederia se tivessem sido utilizadas serras manuais ou discos de corte.

A explicação plausível para a forma de produção de esquírolas de aço é assim a existência de uma deflagração, necessariamente muito localizada, visto não haver ferimentos relevantes nos ocupantes do avião.

d) A quarta e última questão, como teriam os fragmentos metálicos penetrado (pouco ou muito) no pé do piloto, atravessando necessariamente um sapato, é compatível com uma projecção a elevada velocidade, consistente com uma explosão a curta distância.

A sua distribuição é também muito significativa: encontram-se na zona do calcanhar e na extremidade dos dedos, estando ausentes da zona central de ambos os pés. Na hipótese dos pés estarem pousados sobre os pedais, haveria da parte destes um efeito de ecrã de protecção que evitaria a penetração das partículas justamente onde elas não existem.

Em alternativa a esta hipótese, ou seja a penetração nos pés já depois da combustão do sapato voltaria a pôr a questão da existência de uma deflagração, agora de menor energia, após um lapso de tempo suficiente para a destruição do sapato.

Uma pequena deflagração de algum componente (lâmpada, circuito hidráulico ...) não seria contudo suficiente para fragmentar tão finamente o metal.

Em resumo, a existência de fragmentos metálicos, a sua natureza e localização não são compatíveis com a tese oficial do acidente, isto é, um choque amortecido seguido de incêndio. A única explicação que se afigura plausível é a da existência de uma deflagração que fragmentou e projectou as partículas ferrosas. Esta explicação vai também coincidir com a forma, dimensão, distribuição de fragmentos de liga de alumínio, que adiante será analisada.

1.2.2 — Fragmentos macroscópicos de forma arredondada. — Para além destas partículas de arestas vivas observam-se também manchas macroscópicas de forma arredondada com uma densidade muito menor do que as partículas angulosas já referidas. Os coeficientes de absorção calculados no nosso relatório n.° 2 apresentam valores compatíveis com os de uma liga aeronáutica da série 2000, sendo esse coeficiente cerca de cinco vezes inferior ao das partículas angulosas.

Estes pedaços de metal foram repetidamente encontrados não só nas exumações de 1982 como nas de 1995 e a sua composição química corresponde à do material que constitui a fuselagem do avião (5, 8 e 11). •

A forma da liga de alumínio evidencia-se como manchas macroscópicas, corresponde à solidificação de pingos de metal fundido que caíram sobre fissuras abertas nos corpos pela elevada temperatura' do incêndio. E indiciadora de temperaturas de pelo menos 510°C, pois a fusão incipiente da liga 2024 dá-se exactamente a esta temperatura (15). .

Do ponto de vista metalográfico e de análise química -pontual (EDS), estes pingos de alumínio apresentam caracteres totalmente distintos da chapa de liga de alumínio no seu estado original.

Os fctãs» cristalinos da chapa original apresentam um alongamento preferencial na direcção de laminagem. Esta estrutura é associada a um aumento das propriedades mecânicas, que em conjunto com um tratamento térmico adequado (geralmente T6) permite optimizar o desempenho Âo material.

O que pudemos observar nas micrografias presentes no relatório do RARDE e se encontra descrito no relatório do LNETI é uma estrutura totalmente diferente, com grãos equiaxiais, isto é, sem alongamento preferencial numa direcção.

Podemos compreender bem este facio observando as micrografias representadas nas figuras representativas das amostras A e B (8pl3) na fig. 8a do relatório do RARDE. Aqui se pode ver que a deformação plástica original resultante do trabalho de laminagem foi anulada obtendo--se uma nova estrutura totalmente diferente dita recristalizada, em que os vestígios da deformação desapareceram.

Deste facto, inequívoco para qualquer metalúrgico ou especialista em ciências dos materiais, resulta evidente que a pesquisa de qualquer deformação anterior ao aquecimento a alta temperatura é desprovida de sentido.

Ora da leitura dos relatórios do RARDE (8) correspondente à análise do material recolhido no corpo do piloto em 1982 ou de grande parte dos 40 fragmentos encontrados nos três corpos exumados em 1995, presentes no relatório do FEL(11) resulta evidente que se continua a afirmar que nessas amostras não se encontram vestígios de assinatura de explosivos.

A «assinatura» referida traduz-se, para além de fenómenos superficiais (formação de pequenas crateras), no aparecimento de macias de deformação plástica (tweening).

O aquecimento a alta temperatura de uma liga metálica, com início de fusão, anula os vestígios de deformação plástica, isto é, vai provocar fenómenos de recristalização ou eventualmente mesmo de liquação. Assim neste caso conclui-se que carece de qualquer sentido a pesquisa desses vestígios nos pedaços de metal parcialmente fundido.

Independentemente de eles terem ou não existido antes do incêndio podemos afirmar com segurança que estas macias e vestígios de deformação terão sempre desaparecido depois do processo fusão/solidificação do metal.

Grande parte da zona do habitáculo foi destruída pelo incêndio, verificando-se em particular na frente do habitáculo uma grande destruição com o aparecimento de alumínio derretido conforme se relata no documento americano do NTSB (13p553). No resumo de prova, no u volume do despacho do Tribunal de Loures a p. 544 pode ler-se: «O escorrer do alumínio derretido indica que a fuselagem se encontrava de nariz para baixo e invertida [...]»

Esclarecem os peritos ingleses Feraday e Todd: «Quanto ao fenómeno de pitting: é invulgar que os objectos projectados tenham pitting» (13p615).

Quer isto dizer que a presença de marcas de deformação nos pedaços de metal seria difícil de encontrar mesmo sem a existência posterior dè um incêndio.

Se tivesse havido qualquer explosão, esta teria de ter um efeito muito localizado dada a ausência de ferimentos graves nas vítimas.

Tendo havido um incêndio que apagou qualquer marca de deformação no alumínio pelas razões já expostas, poderá então perguntar-se: qual o sentido de procurar nas amostras de alumínio os vestígios de uma explosão, ainda por cima necessariamente pequena?

Podemos assim concluir, com segurança, que outra das bases para a conclusão da inexistência de uma explosão — ausência de vestígios físicos nos metais recolhidos nos corpos ou na cabina do avião — carece de qualquer valor.