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5 DE JULHO DE 1999

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Nas circunstâncias verificadas procurar um acontecimento de probabilidade baixa (vestígios físicos em corpos projectados) originados por uma hipotética explosão de baixa potência em vestígios de metal parcialmente fundido é um perfeito contra-senso.

Já a posição assumida pelo LNETI (15) é perfeitamente aceitável: foram procuradas assinaturas de explosão nas amostras de aço, em particular num grampo de aço (amostra D) (5pl4) tendo sido identificadas as amostras A, B, excepto B-5, I e J como ligas de alumínio no estado «tal qual solidificado».

De facto, sujeito a temperaturas da ordem dos 500°C--600°C apenas durante alguns minutos o aço conservaria as tais macias de deformação.

Todavia, a presença de pedaços de alumínio nas superfícies nessas amostras de aço, referenciada pelo LNETI, é indicativa dc que esses componentes se desprenderam da estrutura durante o incêndio, devido à cedência das estruturas de alumínio. Assim sendo, trata--se de elementos caídos após o incêndio e nunca projectados por qualquer explosão.

Verifica-se que a Procuradoria da República sustentou grande parte da sua argumentação nesta inexistência de vestígios físicos.

Podemos agora concluir que esta base de raciocínio é insustentável em face do anteriormente exposto, isto é, grande parte do ambiente que rodeia os corpos, ou seja, a estrutura de alumínio da frente do cockpit, foi sujeito a temperaturas tão elevadas que necessariamente teriam apagado toda a história de deformação plástica anterior. Dizer que não se encontram aqui vestígios de macias (tweening), é pois uma redundância.

1.2.3 — Partículas microscópicas de forma arredondada. — A observação atenta de algumas radiografias com recurso a uma lupa mostra a existência de um ponteado de forma arredondada de muito pequena dimensão.

Foi a este tipo de fragmentos que um radiologista (Prof. Gama Afonso) se referiu repetidamente como «poalha metálica» (17p85).

Estas partículas têm um significado muito particular, constituindo uma assinatura de explosão, que será adiante discutida.

O alumínio fundido é um metal de elevada viscosidade. A formação superficial de alumina, isto é, Al2Oy torna particularmente elevada a tensão superficial. Para obtenção de peças por fundição é geralmente adicionado o Si em percentagens que podem atingir os 13 %, tendo o Si um efeito benéfico sobre a fluidez da liga.

No caso da liga 2024, destinada à obtenção de produtos laminados, a fluidez é baixa e a tensão superficial 'é alta.

Uma gota de liga totalmente fundida, a uma temperatura de 650°C superior à linha de liquidus (15p76), terá tendência em ocupar o menor volume possível por acção da tensão superficial. Ao chocar contra um obstáculo a gota metálica será deformada e eventualmente fragmentada. A elevada tensão superficial e viscosidade impedirão a sua fácil divisão em pequenas gotículas, como sucede com outros líquidos, como por exemplo água.

Esta afirmação foi por nós verificada experimentalmente ao deixar cair alumínio líquido a 750°C e liga aeronáutica a 700°C, portanto totalmente fundidos, de uma altura de 2 m sobre uma superfície de papel e observando posteriormente a dimensão das gotículas formadas. Excepto no ponto de impacte, onde pequenos pedaços de metal ficam agarrados, verificou-se que as partículas mais

pequenas tinham dimensões sempre superiores a 2 mm, normalmente 5 mm ou mais.

Se observarmos atentamente algumas das análises efectuadas pelo RARDE, representadas na tabela 2 do respectivo relatório, encontraremos concentrações muito elevadas para o cobre e para o ferro em várias zonas das amostras A, B, I, em que estes elementos apresentam valores que podem atingir os 45,9% e 8,1%, respectivamente, quando não deveriam ultrapassar os 4,9 % e 0,5 %, respectivamente.

Esta concentração de elementos residuais ou de liga é típica de um processo de fusão parcial e traduz-se normalmente numa acumulação destes elementos nas fronteiras de grão, fenómeno denominado «liquação».

Na fig. 8-A, referente à amostra H, podemos observar fenómeno idêntico, aqui patenteado pela morfologia das fronteiras de grão.

O significado metalúrgico destes factos é que a temperatura atingida não foi suficiente para fundir totalmente a liga que se desmoronou por fusão incipiente e localizada nas fronteiras de grão (liquação), conforme se pode bem verificar na foto da amostra A (canto superior direito).

Podemos concluir face ao exposto que o metal da fuselagem (liga de alumínio) se foi desprendendo durante o incêndio antes de atingir um estado de fusão completa.

Ocorrendo o início de fusão incipiente desta liga aos 510°C e havendo ainda muito metal sólido aos 554°C (linha de solidus), podemos afirmar que as gotas de metal só parcialmente estavam fundidas quando caíram sobre os corpos.

Para a gama de temperaturas indicada, a fragmentação da liga em gotículas é extremamente difícil, exigindo uma elevada energia.

Da nossa experiência pessoal em trabalhos de investigação envolvendo a atomização de ligas aeronáuticas com atomizadores de água, c dos ensaios agora efectuados, podemos afirmar que a produção de gotículas metálicas de muito pequena dimensão não seria possível com uma energia correspondente à da queda entre cotas inferiores a 2 m (espaço entre o tecto e os passageiros caídos).

Assim, a presença de gotículas microscópicas de metal só pode resultar de dois fenómenos: ou fusão associada a uma fonte de alta energia da chapa da fuselagem, ou fragmentação prévia da mesma em pedaços sólidos minúsculos que, posteriormente sujeitos a elevada temperatura, fundiram, adquirindo formas arredondadas.

Estes vestígios encontram-se em várias radiografias observadas à lupa e foram objecto de alguma perplexidade por parte de alguns peritos médicos, como já se referiu.

Na fig. 9, referente à amostra H, e na fig. 11 podemos observar gotículas de formas arredondadas que por comparação com as barras de escala de WOmicras e 200 micras podemos concluir serem de dimensões muito pequenas.

Estas minúsculas gotículas são em nosso entender a prova da existência de um processo de deflagração que projectou nos corpos, com elevada energia, pequeníssimos fragmentos de metal que ulteriormente fundiram devido ao incêndio.

A existência destes vestígios foi objecto do olhar experiente de um perito com larga experiência na observação de vítimas de explosões, o Prof. Crane, que considerou que existiam fragmentos fundidos demasiado pequenos para serem simplesmente provenientes de um incêndio (I3p597).