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II SÉRIE-B — NÚMERO 36

Foi ainda encontrado vestígio de sulfato de bário, outro componente associável a explosivos militares.

3.3 — Efeitos possíveis da acção de um agente fumígeno disperso por acção de uma pequena carga explosiva

0 choque provocado nos pés do piloto pelos fragmentos

metálicos aí encontrados, bem como eventuais ferimentos na cara sugeridos pelos relatórios da autópsia e pela observação da radiografia da cabeça do piloto, provocariam decerto um estado doloroso intenso pouco compatível com as manobras de pilotagem.

A eventual deflagração deverá ter ocorrido de baixo para cima, visto que os vestígios são mais abundantes nos pés. Por acção da força do impacte o piloto poderia ter sofrido uma concussão, como se assinala no relatório Mason (13p562). A situação é compatível com a hemorragia craniana assinalada [hemorragia epidural (13p561)J, que originaria uma rápida perda da capacidade de pilotagem.

A invasão instantânea da cabina por fitmo, associada aos gases da explosão, tornaria a atmosfera irrespirável em poucos segundos. O consumo rápido do oxigénio resultante da fina divisão dos componentes de um engenho fumígeno tomam-no altamente perigoso como refere o manual da NATO.

A produção rápida de monóxido de carbono origina para concentrações da ordem de 10 % no ar e a morte em cerca de um minuto (18).

Neste quadro o piloto poderá ter perdido mais rapidamente a consciência do que os restantes passageiros, o que é concordante com a mais baixa taxa de carboxi--hemoglobina (40 %) contra os 52 %-62 % das restantes vítimas.

4 — Reconstituição dos acontecimentos

O piloto tenta arrancar o motor esquerdo, sem êxito. O motor está ligado através da válvula situada no chão, junto do seu assento, ao depósito do lado direito, quase completamente cheio.

O piloto opta. por esta configuração de "abastecimento por dois motivos: o indicador do depósito esquerdo apresenta alguma anomalia (entre metade e a posição de cheio) e no dia anterior este depósito foi só parcialmente cheio na viagem de regresso.

Para equilíbrio da aeronave é necessário consumir primeiro o combustível do lado direito.

Após uma prolongada demora o avião descola.

No momento em que recolhe o trem de aterragem dá--se a deflagração de um pequeno engenho explosivo, situado algures na frente, na parte debaixo do cockpit.

f\ caouva. é inundada por -fumo e o circuito de transferência da gasolina do lado direito para o esquerdo é atingido, incendiando-se. Através de um pequeno rombo resultante da explosão, ou através de um vidro partido, alguns materiais queimados começam a cair, a cerca de 50 m do fim da pista.

O piloto ferido, nos pés e na cara, possivelmente também numa vista, tenta manter o comando do aparelho. Para tentar evitar a propagação do incêndio o piloto ou o co-piloto fecham o acesso da gasolina, rodando a torneira para a posição de off. Só assim será possível evitar a continuação do derrame do combustível que atravessa a cabina aspirado pe)o motor esquerdo.

Este continua a trabalhar até esgotar totalmente o combustível começando a falhar ruidosamente. Para

compensar a perda de potência o piloto acelera ao máximo

o motor direito.

Neste momento, o avião começa a ser travado a bombordo pela acção da hélice que não está embandeirada.

Vítima do choque e do fumo o piloto fica inconsciente, deixa de respirar de forma ansiosa, inalando menos CO, e acabará por falecer devido ao calor com um índice muito mais baixo de carboxi-hemoglobina.

Os passageiros, em pânico, tentam respirar o ar saturado de monóxido de carbono, enquanto o co-piloto tenta compensar o aparelho.

Este despenha-se, embatendo sucessivamente em vários obstáculos.

Quando se imobiliza, a cabina está cheia de fumo, o aparelho está invertido e com a cauda virada para o ar.

Os passageiros, profundamente intoxicados com o monóxido de carbono, nem sequer conseguem gritar. O foco de incêndio alastra agora a partir do cockpit.

Entretanto, a gasolina do motor esquerdo escorre pelo exterior do telhado da vivenda, esgotando inclusive os últimos litros, que nunca poderiam ser bombeados, visto habitualmente conterem água de condensação.

Os bombeiros apagam o incêndio. Os bombeiros removem a asa esquerda ainda a pingar gasolina e des-positam-na no chão.

0 relatório oficial é simples: acidente por falta de gasolina no motor esquerdo.

5 — Bibliografia

1 — Despacho do Tribunal de Instrução Criminal da Comarca de Loures assinado pelo Procurador da República Boaventura Marques da Costa em 8 de Maio de 1990.

2 —Processo n.° 1020/90 do 3." Juízo de Instrução Criminal do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa assinado pelo Procurador da República Boaventura Marques da Costa em 11 de Outubro de 1991.

3 — O despacho do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, processo n.° 1020/90 do 3.° Juízo assinado pelo juiz Fernando Vaz Ventura em 20 de Janeiro de 1992.

4 — Relatório final da Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar ao Acidente de Camarate, Diário da Assembleia da República. 2° série-B, n.° 34, de 16 de Junho de 1995.

5 — Relatório do Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial, M. Helena Carvalho, H. Carvalhinhos e A. d'01iveira Sampaio de 23 de Dezembro de 1982.

6 — Relatório sobre o acidente de avião Cessna 421, YV-314P, Eric Newton RTP, Dezembro de 1982.

7 — Relatório dos novos exames efectuados nos restos mortais de Alfredo de Sousa e Jorge M. M. Albuquerque, Instituto de Medicina Legal de Lisboa, Prof. Doutor José M. G. Vieira, José Gama Afonso, Francisco M. M. Costa Santos.

8 — Report of the examination of samples and trials in connection with the loss of Cessna 421-A, RARDE, November 1989.

9 — Relatório de exames médicos legais feitos a pedido do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, John K. Mason, Jack Crane, 28 de Outubro de 1995.

10 — Relatórios dos exames periciais realizados nos cadáveres de Jorge Albuquerque, Adelino Amaro da Costa e Francisco M. L. de Sá Carneiro, Prof. Vilaça Ramos, Luís Aires de Sousa, Prof. José R. F. F. da Gama Afonso, Francisco M. M. da Costa Santos, 21 de Outubro de 1985.

11 — Report on the examination of lhe post-mortem

samples arising from some victims of the crash of a Cessna aircraft in Lisbon on 4th Dec, 10 May 1995.