O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

5 DE JULHO DE 1999

337

Da consulta de qualquer brochura elementar sobre explosivos podemos verificar que há explosivos de baixa velocidade tal como a pólvora de caça (contendo nitrocelulose) em que a velocidade não ultrapassa os 400 m/s. Velocidades muito superiores de deflagração, podendo atingir os 8500 m/s. podem ser encontradas nos altos explosivos tais como TNT, RDX C4, etc.

Enquanto materiais como a pólvora de caça servem de propulsores, os explosivos de alta velocidade provocam a

fragmentação dos materiais. É a estes últimos que estão

associadas as tais assinaturas de tweening e pitting.

Do exposto resulta que toda a investigação foi localizada apenas numa pequeníssima parte das hipóteses existentes para de maneira relativamente eficaz e discreta originar um «acidente» com uma pequena aeronave.

Voltando à informação perdida, resultado da diligente pesquisa pelo RARDE e pelo FEL de uma das dezenas de hipóteses possíveis, verificamos que, para elucidar as hipóteses anteriores, nomeadamente a do uso de um engenho fumígeno, seria muito mais relevante a informação química do que a informação física. No entanto, a primeira foi sacrificada em favor da segunda, nomeadamente no tratamento analítico das amostras recolhidas em 1995.

Definamos um modelo de hipótese e testemos a sua validade face aos vestígios materiais e testemunhais conhecidos e sumariados no n.° I.

Se tivesse sido utilizado um agente fumígeno, este deveria ter sido associado a um pequeno engenho explosivo que garantisse uma dispersão muito rápida do produto. Só assim se poderia garantir que a tripulação não conseguiria eliminar a sua fonte.

Neste quadro o recurso a engenhos artesanais mecanicamente accionados pode ser facilmenie conseguido com um vulgar cartucho de caça.

Uma associação, por exemplo, de um detonador de mola, um cartucho de caça, uma granada defensiva e de uma embalagem fumígena que resultados produziria dentro de uma cabina de um avião?

A nível de vestígios físicos, quase nada, dados os reduzidos traços resultantes da detonação da nitrocelulose. Seria de esperar a produção de pequenos fragmentos de aço da granada, com efeitos punctiformes e o eventual alojamento dos produtos utilizados em conjunto com alguns fragmentos da aeronave.

Algum chumbo poderia atingir as vítimas, e no caso de um incêndio esse chumbo ficaria fundido no meio dos tecidos, sendo inevitavelmente removido se fosse utilizada a metodologia seguida pelo FEL.

Vestígios de titânio e fósforo poderiam permanecer em pequenas quantidades, se bem que o fósforo após um incêndio seria facilmente consumido, restando na forma de óxido.

O chumbo ou o titânio associados a algum alumínio poderiam justificar grandes densidades dos corpos estranhos nalguma parte do espaço envolvente, mas pouco mais.

Estamos portanto com um quadro de vestígios necessariamente escassos, tanto mais que seriam mascarados fortemente após um incêndio. No entanto, apesar de métodos de investigação utilizados, ainda assim conseguimos identificar indícios importantes que validam a hipótese anterior.

3.2 — Alguns vestígios que apontam para hipóteses alternativas à de uma bomba

Em primeiro lugar, as finas partículas de liga de alumínio de dimensões microscópicas profusamente espalhadas nos pés e pernas do piloto para as quais a única explicação plausível é uma explosão.

Em segundo lugar, a existência de partículas de elevado número atómico, que, como demonstrámos no relatório n.°2, são compatíveis com a classificação do aço.

A espiral de fragmentação de uma granada defensiva

não deverá afastar-se, segundo cremos, do quadro dos pequenos fragmentos observados, nomeadamente na radiografia RXIII.

Em terceiro lugar o espectro n.c 13 do relatório do RARDE, correspondente à amostra M obtida pela raspagem do calcanhar do piloto feita por E. Newton.

No espectro de EDS podemos muito claramente observar três picos correspondentes ao chumbo e um pico correspondente ao Ti sem qualquer associação ao alumínio, notando-se ainda a presença de cálcio (usado na inumação em urna fechada).

Este espectro está legendado como matéria orgânica, o que significa provavelmente que os elementos Pb e Ti estarão dispersos no tecido, tal como previsivelmente aconteceria nas condições anteriormente aventadas.

Para além disto, encontrámos imagens extraordinariamente radiopacas na axila de A. A. C, que parecem não corresponder a liga aeronáutica, mas poderiam ser projecções de chumbo (posteriormente fundido e disperso), ou de titânio arrastado pelos gases de uma deflagração localizada (blast).

A presença de três pequenos fragmentos circunscritos no raio X das vísceras de Sá Carneiro foi associada a projécteis (chumbos) de caça no relatório de John Mason e Jack Crane de Outubro de 1995. Estes chumbos, profundamente alojados no corpo do PM, não poderiam fundir, como sucederia se se encontrassem superficialmente, mas seriam coerentes com a elevada radiodensidade verificada no braço de A. A. Costa e com a análise de chumbo feita pelo RARDE.

Na hipótese que parece subjacente à pouca importância atribuída à presença de projécteis de caça nas vísceras de Sá Carneiro, isto é, a eventualidade de o PM ter comido caça eter engolido três chumbos, pergunta-se: seria provável que após um processo digestivo esses chumbos se situassem ainda próximos uns dos outros no «espaço circunscrito» referido no relatório?

Continuando a seguir esta hipótese, poderíamos eventualmente encontrar um vestígio residual dos explosivos usados, isto é, de algo correlacionável com uma munição de caça e de algo correlacionável com um dispositivo militar.

Tudo isto, apesar do tempo e da existência de um incêndio, foi encontrado!

Podemos verificar que foram efectuadas análises em Portugal (13pl05, 13pl08), posteriormente confirmadas com outras feitas no Reino Unido, onde na amostra 7 foram encontrados vestígios de nitrocelulose (compatível com uma munição de caça), TNT, RDX e DNT (compatíveis com explosivos militares).

Note-se que esta amostra não permaneceu solidária com a fuselagem, visto estar recolhida num caixote.

Trata-se de uma peça estrutural de alumínio situada no tecto do aparelho junto ao lugar onde viaja A. A. Costa.