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5 DE JULHO DE 1999

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no aparecimento de macias de deformação plástica (tweening).

O aquecimento a alta temperatura de uma liga metálica, com início de fusão, anula os vestígios dc deformação plástica, isto é, vai provocar fenómenos de recristalização ou eventualmente mesmo de liquação. Assim neste caso conclui-se que carece de qualquer sentido a pesquisa desses vestígios nos pedaços de metal parcialmente fundido.

Independentemente de eles terem ou não existido antes do incêndio, podemos afirmar com segurança que estas macias e vestígios de deformação terão sempre desaparecido depois do processo fusão/solidificação do metal.

Grande parte da zona do habitáculo foi destruída pelo incêndio, verificando-se em particular na frente do habitáculo uma grande destruição com o aparecimento de alumínio derretido conforme se relata no documento americano do NTSB (I3p553). No resumo de prova, no volume ii do despacho do Tribunal dc Loures a p. 544 pode ler-se: «O escorrer do alumínio derretido indica que a fuselagem se encontrava de nariz para baixo e invertida [...]»

Esclarecem os peritos ingleses Feraday e Todd: «Quanto ao fenómeno de pitting: 6 invulgar que os objectos projectados tenham pitting» (I3p615). Quer isto dizer que a presença de marcas de deformação nos pedaços de metal seria difícil de encontrar mesmo sem a existência posierior de um incêndio.

Se tivesse havido qualquer explosão, esta teria de ter um efeito muito localizado dada a ausência de ferimentos graves nas vítimas.

Tendo havido um incêndio que apagou qualquer marca de deformação no alumínio pelas razões já expostas, poderá então perguntar-se: qual o sentido de procurar nas amostras de alumínio os vestígios de uma explosão, ainda por cima necessariamente pequena?

Podemos assim concluir, com segurança, que outra das bases para a conclusão da inexistência de uma explosão — ausência de vestígios físicos nos melais recolhidos nos corpos ou na cabina do avião — carece de qualquer valor.

Nas circunstâncias verificadas procurar um acontecimento de probabilidade baixa (vestígios físicos em corpos projectados) originados por uma hipotética explosão de baixa potência em vestígios de metal parcialmente fundido é um perfeito contra-senso.

Já a posição assumida pelo LNETI (15) c perfeitamente aceitável: foram procuradas assinaturas de explosão nas amostras de aço, em particular num grampo de aço (amostra D) (5pl4) tendo sido identificadas as amostras A, B, excepto B-5, I e J como ligas dc alumínio no estado «tal qual solidificado».

De facto, sujeito a temperaturas da ordem dos 500°C--600°C apenas durante alguns minutos o aço conservaria as tais macias de deformação.

Todavia a presença de pedaços de alumínio nas superfícies dessas amostras de aço, referenciada pelo LNETI, é indicativa de que esses componentes se desprenderam da estrutura durante o incêndio, devido à cedência das estruturas de alumínio. Assim sendo, trata--se de elementos caídos após o incêndio e nunca projectados por qualquer explosão.

Verifica-se que a Procuradoria da República sustentou grande parte da sua argumentação nesta inexistência de vestígios físicos.

Podemos agora concluir que esta base de raciocínio é insustentável em face do anteriormente exposto, isto é,

grande parte do ambiente que rodeia os corpos, ou seja, a estrutura de alumínio da frente do cockpit, foi sujeita a temperaturas tão elevadas que necessariamente teriam apagado toda a história de deformação plástica anterior. Dizer que não se encontram aqui vestígios de tweening é, pois, uma redundância.

2.2.3 — Partículas microscópicas de forma arredondada. — A observação atenta de algumas radiografias com recurso a uma lupa mostra a existência de um ponteado de forma arredondada de muito pequena dimensão. Foi a este tipo de fragmentos que um radiologista (Prof. Gama Afonso) se referiu repetidamente como «poalha metálica» (17p85).

Estas partículas têm um significado muito particular, que será adiante discutido.

O alumínio fundido é um metal de elevada viscosidade. A formação superficial de alumina, isto é, Al20-$, torna particularmente elevada a tensão superficial. Para obtenção de peças por fundição é geralmente adicionado o Si em percentagens que podem atingir os 13 %, tendo o Si um efeito benéfico sobre a fluidez da liga.

No caso da liga 2024, destinada à obtenção de produtos laminados, a fluidez é baixa e a tensão superficial é alta.

Uma gota de liga totalmente fundida, a uma temperatura de 650°C superior à linha de liquidus (15p76), terá tendência em ocupar o menor volume possível por acção da tensão superficial. Ao chocar contra um obstáculo a gota metálica será deformada e eventualmente fragmentada. A elevada tensão superficial e viscosidade impedirão a sua fácil divisão em pequenas gotículas como sucede com outros líquidos, como por exemplo água.

Esta afirmação foi por nós verificada experimentalmente ao deixar cair alumínio líquido a 750°C e liga aeronáutica a 700°C, portanto totalmente fundidos, de uma altura de 2 m sobre uma superfície de papel e observando posteriormente a dimensão das gotículas formadas. Excepto no ponto de impacte, onde pequenos pedaços de metal ficam agarrados, verificou-se que as partículas mais pequenas tinham dimensões sempre superiores a 2 mm, normalmente 5 mm ou mais.

Se observarmos atentamente algumas das análises efectuadas pelo RARDE, representadas na tabela 2 do respectivo relatório, encontraremos concentrações muito elevadas para o cobre e para o ferro em várias zonas das amostras A. B e L, em que estes elementos apresentam valores que podem atingir os 45,9 % e 8,1 %, respectivamente, quando não deveriam ultrapassar os 4,9 % e 0,5 %, respectivamente.

Esta concentração de elementos residuais ou de liga é típica de um processo de fusão parcial e traduz-se normalmente numa acumulação destes elementos nas fronteiras de grão, fenómeno denominado liquação.

Na figura 8-A referente à amostra H podemos observar fenómeno idêntico, aqui patenteado peia morfo\og\a das fronteiras de grão.

O significado metalúrgico desies factos é que a temperatura atingida não foi suficiente para fundir totalmente a liga que se desmoronou por fusão incipiente e localizada nas fronteiras de grão (liquação), conforme se pode bem verificar na foto da amostra A (canto superior direito).

Podemos concluir face ao exposto que o metal da fuselagem (liga de alumínio) se foi desprendendo durante o incêndio antes de atingir um estado de fusão completa.

Ocorrendo o início de fusão incipiente desta liga aos 510°C e havendo ainda muito metal sólido aos 554°C