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II SÉRIE-B — NÚMERO 36

2.2 — Proveniência dos fragmentos metálicos macroscópicos

2.2.1 — Fragmentos de arestas vivas. — A existência de partículas angulosas com toda a probabilidade constituídas por ferro (eventualmente aço com qualquer teor de carbono) situadas na parte inferior do corpo do piloto coloca quatro problemas:

a) A que profundidade se encontram cravadas nos pés;

b) Qual a sua proveniência;

c) Como foram produzidas;

d) Como chegaram ao contacto com o corpo do piloto (protegido com um sapato?).

a) A primeira questão foi já objecto de largas controvérsias pouco conclusivas, dada a inexistência de uma radiografia obtida num plano perpendicular ao da radiografia RXIII; não abordaremos portanto esta questão. Parece contudo inequívoco pelos documentos consultados que o material estaria no mínimo num plano subcutâneo, visto não ter sido observado externamente nem ter sido detectado nas análises da superfície da amostra feitas pelo LNETI (9).

b) Quanto à proveniência, parece lícito concluir-se que resultou da fragmentação de um pedaço de aço não pertencente ao aparelho, ou então de hidróxido de ferro de alguma estrutura da casa atingida na queda. O impacte da queda nunca teria podido fragmentar em pequenos pedaços um material como o aço, a menos que este estivesse já totalmente corroído na forma de hidróxido, vulgo ferrugem.

No caso de uma contaminação externa, parece pouco plausível que ela se localizasse num lugar particularmente protegido e que a presença desses eventuais pedaços de ferrugem apresentasse uma distribuição tão localizada; esta situação seria em nosso entender apenas compatível com uma ocorrência esporádica, como a do pedaço de tijolo que aparece referenciado no relatório do RARDE.

0 aço apenas entra na zona de fuselagem na constituição dos bancos de passageiros, nos cabos de comando das asas e no fabrico de componentes (parafusos, pinos e porcas).

Não tendo os bancos sofrido qualquer destruição significativa segundo os documentos consultados, resta-nos «O que diz respeito aos materiais do avião a hipótese dos cabos de aço.

Estes componentes multifiliares apresentariam, caso fragmentados, uma morfologia totalmente diferente da verificada no raio X, isto é, um pedaço cilíndrico do componente do cabo. Por exclusão teremos de considerar as partículas não pertencentes ao aparelho.

c) A remoção dos corpos foi feita com o recurso a machados e tesouras mecânicas (13p452).

Esles instrumentos de corte não produzem ümalhas como sucederia se tivessem sido utilizadas serras manuais ou discos de corte.

A explicação plausível para a forma de produção de esquírolas de aço é assim a existência de uma deflagração, ""necessariamente muito localizada, visto não haver ferimentos relevantes nos ocupantes do avião.

d) A quarta e última questão, como teriam os fragmentos metálicos penetrado (pouco ou muito) no pé do piloto, atravessando necessariamente um sapato, é compatível com.uma projecção a elevada velocidade, consistente com uma explosão a curta distância.

Em alternativa a penetração nos pés já depois da combustão do sapato voltaria a pôr a questão da existência de uma deflagração, agora de menor energia, após um lapso de tempo suficiente para a destruição do sapato.

Uma pequena deflagração de algum componente (lâmpada, circuito hidráulico ...) não seria contudo suficiente para fragmentar tão finamente o metal.

Em resumo, a existência de fragmentos metálicos não é compatível com a tese oficial do acidente, isto é, um choque amortecido seguido de incêndio.

2.2.2 — Fragmentos macroscópicos de forma arredondada. — Para além destas partículas de arestas vivas observam-se também manchas macroscópicas de forma arredondada com uma densidade muito menor do que as partículas angulosas já referidas. Os coeficientes de absorção calculados no nosso relatório n.° 2 apresentam valores compatíveis com os de uma liga aeronáutica da série 2000, sendo esse coeficiente cerca de cinco vezes inferior ao das partículas angulosas.

Estes pedaços de metal foram repetidamente encontrados não só nas exumações de 1982 como nas de 1995 e a sua composição química corresponde à do material que constitui a fuselagem do avião (5, 8 e 11).

A forma da liga de alumínio evidencia-se como manchas macroscópicas, corresponde à solidificação de pingos de metal fundido que caíram sobre fissuras abertas nos corpos pela elevada temperatura do incêndio. É indiciadora de temperaturas de pelo menos 510°C, pois a fusão incipiente da liga 2024 dá-se exactamente a esta temperatura (15).

Do ponto de vista metalográfico e de análise química pontual (EDS), estes pingos de alumínio apresentam caracteres totalmente distintos da chapa de liga de alumínio no seu estado original.

Os grãos cristalinos da chapa original apresentam um alongamento preferencial na direcção de laminagem. Esta estrutura é associada a um aumento dãs propriedades mecânicas, que em conjunto com um tratamento térmico adequado (geralmente T6) permite optimizar o desempenho do material.

O que podemos observar nas micrografias presentes no relatório do RARDE e se encontra descrito no relatório do LNETI é uma estrutura totalmente diferente, com grãos equiaxiais, isto é, sem alongamento preferencial numa direcção.

Podemos compreender bem este facto observando as micrografias representadas nas figuras representativas das amostras A e B (8p(3) na figura 8a do relatório do RARDE. Aqui se pode ver que a deformação plástica original resultante do trabalho de laminagem foi anulada, obtendo-se uma nova estrutura totalmente diferente dita recristalizada, em que ós vestígios da deformação desapareceram.

Deste facto, inequívoco para qualquer metalúrgico ou especialista em ciências dos materiais, resulta evidente que a pesquisa de qualquer deformação anterior ao aquecimento a alta temperatura é desprovida de sentido.

Ora da leitura dos relatórios do RARDE (8) correspondente à análise do. material recolhido no corpo do piloto em 1982 ou de grande parte dos 40 fragmentos encontrados nos três corpos exumados em 1995, presentes no relatório do FEL(11) resulta evidente que se continua a afirmar que nessas amostras não se encontram vestígios de assinatura de explosivos.

A «assinatura» referida traduz-se, para além de fenómenos superficiais (formação de pequenas crateras),