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Como, de facto, as fábricas de armamento pertenciam ao Ministério da Defesa, e só nós, por

exemplo, tínhamos 600 trabalhadores, era preciso pagar os salários ao fim do mês».

Relativamente ao embargo de comercialização de armas para o Irão, Alpoim Calvão afirmou não só

nunca ter sido avisado por parte do Governo como ter tido sempre autorização do Ministério da

Defesa para exportar armamento:

«Eu podia saber, porque leio os jornais, mas nunca recebi uma comunicação, digamos, formal

da Direção-Geral de Armamento, ou coisa que o valha, a dizer que não se podiam exportar

armas para aqui, para ali e para acolá! Foi sempre caso a caso!

(…)

Todas as vendas que fizemos foram sempre autorizadas pelo Ministério da Defesa»

Alpoim Calvão confirmou igualmente um aumento da faturação da empresa Explosivos da Trafaria, tal

como havia sido veiculado por Juzarte Rolo. De acordo com o comandante, chegou a haver um ano,

ou 1980 ou 1981 em que foram vendidos cerca de 7 milhões de contos (35 milhões de euros) de

armamento. Paralelamente foi confirmada a importância do Irão e do Iraque para este acréscimo de

faturação: em 1980, com o ano já a decorrer, Lisboa recebeu uma missão de ambos os países que

vinham comprar armamento, muito possivelmente numa altura em que o embargo comercial ao Irão

já estaria em vigor.

Questionado sobre a exportação concreta para países como a Síria e o Irão, Alpoim Calvão recordou

um episódio, ocorrido em 1980, em que foram transbordadas munições de um avião de Israel para

um avião do Irão, no aeroporto de Lisboa. No entanto, para além desse episódio, apenas após 1981

foi comercializado material bélico para o Irão:

«Creio que tenham sido vendidos alguns canhões sem recuo, por conseguinte, material não

explosivo, que vieram, aliás, de Israel e passaram pelo aeroporto de Lisboa para um avião da

Iran Air, que veio a Lisboa buscá-los para o destino final. Era, como digo, material inerte. Eram

uns 100 canhões sem recuo (já não me lembro de quanto custavam na altura, mas talvez uns

20 000 dólares/cada ou coisa que o valha) que fizeram o transbordo aqui, mas vieram de Israel,

fizeram o transbordo aqui e foram vendidos para lá. Veio um avião da Iran Air,

propositadamente, buscá-los cá.

(…)

Por conseguinte, estou a dizer-lhe, na realidade, o que se passou. Tenho a certeza de que

munições só foram vendidas… É que demoram muito tempo a…! É preciso comprar as

matérias-primas, os metais, enfim, comprar tudo e, depois, é preciso o ato de carregar e ainda

é preciso inspecionar, e vinham cá os inspetores iranianos. Os inspetores vinham cá inspecionar

e entravam pela porta normal, não vinham às escondidas, nem vinham disfarçados! Entravam

pela porta normal, iam às fábricas, viam e aceitavam, ou não, pois podiam recusar! Podiam

não aceitar. Dessa vez sabiam perfeitamente, por exemplo, que os metálicos vinham de Israel.

Sabiam perfeitamente! Nós não fabricávamos aqueles metálicos. Os metálicos 155 ou 203

vinham de Israel. Só nos lembrámos de comprar uma forja para isso quando já não havia

necessidade, e a forja ficou para lá, na INDEP, como mais uma prova da inépcia do

planeamento. Bom, mas isso é outra coisa!

II SÉRIE-B — NÚMERO 56______________________________________________________________________________________________________________

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