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O contexto de uma habitual intoxicação por monóxido de carbono varia, no entanto, de pessoa para

pessoa, o que fez os técnicos do Instituto de Medicina legal questionar a simultaneidade da morte de

José Moreira e Elisabete Silva:

«Mas, como eu vos dizia, a velocidade a que esta morte pode ocorrer vai, naturalmente, variar de

pessoa para pessoa, e desde logo uma das coisas que me suscitou alguma perplexidade neste caso

concreto foi o facto de as duas pessoas aparecerem mortas ao mesmo tempo, como se o produto

tivesse feito a mesma ação nas duas pessoas em simultâneo, o que não é normal. Porque são

pessoas com características físicas totalmente diferentes esperar-se-ia que o produto tivesse

também níveis de atuações diferentes, que um deles tivesse falecido primeiro e o outro um

bocadinho mais tarde ou até se tivesse apercebido de que alguma coisa não estaria bem ao ver a

outra pessoa perder a consciência».

Em suma, para além da morte simultânea, a análise aos tecidos de José Moreira evidenciou uma rutura

dos alvéolos pulmonares, facto que os técnicos do Instituto de Medicina Legal afirmam de forma

perentória. Segundo Duarte Nuno Vieira, esta só pode ocorrer em duas situações:

«(…) nas asfixias mecânicas, quando resultam de uma oclusão das vias respiratórias para abafar

gritos ou para tentar matar a pessoa, tapando a boca e o nariz com as mãos, onde os esforços

respiratórios levam de facto a que os alvéolos pulmonares se possam romper; nos afogamentos,

porque a pessoa, primeiro, sustém a respiração e, depois, quando já não consegue mais, faz uma

inspiração forçada, a água entra de jacto nos pulmões e rebenta com os alvéolos pulmonares; ou

quando alguma substância é instilada de forma forçada através das vias respiratórias».

Excluída a possibilidade de afogamento, Duarte Nuno Vieira enuncia as duas possibilidades para a

morte de José Moreira:

«Se terá sido por uma oclusão do orifício respiratório, não podemos dizer se foi ou não, não temos

esses elementos, nem na altura foi feita alguma dissecção, pelo menos não está escrito no relatório

da autópsia, que eventualmente seria justificada se essa hipótese se tem perspetivado de início,

que era retirar a pele para ver — porque às vezes não ficam nestas situações aspetos a nível

externo mas podem ficar internamente e vê-se quando se rebate e quando se retira a pele da

cabeça — por debaixo as infiltrações sanguíneas e os sinais que poderiam revelar esse tipo de

situação. Agora, pode, realmente, tratar-se de uma administração forçada deste tipo de

substância química, que acaba por ser indiscutivelmente o que causou a morte».

Questionado sobre a elevada quantidade de monóxido de carbono, Duarte Nuno Vieira confirmou o

inusitado facto, mas foi menos perentório quanto às conclusões que daí poderiam resultar, na medida

em que «as análises toxicológicas e as metodologias utilizadas não eram tão sensíveis como hoje em

dia». Afirma ainda o facto de, no entanto, estas duas possibilidades não pressuporem inconsistências

com o resultado apurado das autópsias: a causa da morte de José Moreira e Elisabete Silva foi

intoxicação por monóxido de carbono. A este resultado, bem como à rutura dos alvéolos pulmonares,

deveria ter correspondido uma linha de investigação consistente, com apuramento de novos dados,

designadamente os resultados dos exames histológicos que não terão sido disponibilizados ao médico

tanatologista, Fernando Fonseca.

«Os exames histológicos, de facto, na altura, tanto quanto me lembro, não foram totalmente

considerados pelas autópsias. Mas, repito, não tenho o conhecimento exato de como é que as

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