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II SÉRIE-B — NÚMERO 53

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4.1.5 Deterioração da Situação Financeira

Como pudemos observar na análise às contas do Banif a partir do ano de 2011 a situação económica e

financeira do banco começa a degradar-se.

Dr. Carlos Costa, Governador do Banco de Portugal, explica esta deterioração através da conjugação de

cinco fatores:

“Ao longo de 2011 e 2012, a situação financeira do Grupo BANIF registou uma deterioração acentuada, não

tendo o Grupo atingido o rácio exigível de Core Tier 1, em base consolidada, com referência a 31 de dezembro

de 2011.

A deterioração da situação financeira do BANIF resultou da conjugação de cinco fatores.

Primeiro fator, um rápido crescimento do crédito nos anos anteriores à crise, sem uma adequada gestão do

risco e com concentração em ativos imobiliários e créditos a PME, representando, em 2012, um rácio de crédito

sobre depósitos do BANIF de 134%, o que comparava com uma média do sistema bancário de 128%.

Segundo fator, uma estrutura de custos operacionais muito pesada face à atividade desenvolvida, a que não

foi alheia a política de expansão de agências e de participações no exterior, prosseguida pelo BANIF. E, assim,

em 2012, o BANIF tinha um rácio cost to income, o chamado «rácio de eficiência», de 178%, que comparava

com cerca de 60% no conjunto do sistema bancário, o que, em suma, tinha um custo muito inferior ao rendimento

que gerava.

Terceiro fator, o reconhecimento de um volume muito significativo de imparidades (cerca de 500 milhões de

euros), na sequência, primeiro, dos exercícios de inspeção transversal conduzidos em 2011 e em 2012 — lembro

o exercício Special Inspections Program (SIP) e o exercício On-Site Inspections Program (OIP) — e, segundo,

como resultado da auditoria especial ao BANIF realizada em 2012.

Quarto fator, estes resultados, ou esta deterioração da situação financeira do BANIF, refletiam as maiores

exigências de capital, impostas pelo Banco de Portugal ao sistema bancário com a fixação de rácios mínimos

de Core Tier 1 de 9% para o final de 2011 e de 10% para o final de 2012, antecipando a aplicação de algumas

das principais recomendações do chamado «Basileia III».

Quinto fator, a deterioração da situação económica e financeira do País, com impacto no volume e na

qualidade de crédito, assim como no risco da carteira de crédito.”

Esta opinião é também corroborada por outros depoentes, designadamente António Varela e Pedro Duarte

Neves. Leiam-se as seguintes transcrições:

Dr. António Varela: “O BANIF, em 2012, era um Banco muito, muito mau. O BANIF era um Banco péssimo,

se posso dizer. Era um Banco que tinha tido uma estratégia completamente errada e que nos anos anteriores,

enquanto os restantes bancos estavam a diminuir de tamanho, o BANIF mais do que tinha duplicado o seu

tamanho. Tinha uma estratégia errada. Tinha feito investimentos completamente disparatados no Brasil, em

Espanha e noutras latitudes. Tinha uma política de concessão de crédito — a qual não gostaria de qualificar —

que se traduzia numa carteira concentrada em meia dúzia de clientes, com uma elevadíssima exposição ao

imobiliário, com critérios muito duvidosos de afirmação dessa mesma concessão de crédito e que não dispunha

de sistemas e de procedimentos adequados àquilo que é exigível num banco.”, e

Dr. Pedro Duarte Neves: “Portanto, o BANIF no final do ano já não tinha os 8% – aliás, tinha um valor

relativamente baixo, de que não me consigo recordar – e foi isso que levou à necessidade de recapitalização do

banco, precisamente.”

“O BANIF era um Banco que teve, até 2012, alguns problemas que se têm que referir, nomeadamente houve

uma excessiva concentração no crédito imobiliário, não crédito à habitação, mas crédito imobiliário… Quer dizer,

não foi o banco com mais crédito imobiliário no sistema, mas era dos que tinha mais e, por isso, foi obviamente

um Banco muito afetado pela crise. Veio a observar-se que tinha alguns processos desajustados na concessão

de crédito, porque, realmente, não é normal que se conceda crédito ignorando completamente pareceres de

risco, mas, isso, enfim são deficiências externas, são capacidades de gestão.

Houve uma expansão da atividade que foi errada, porque foi tardia, na altura da fase final do ciclo.”